Relatório da PF revela que a Abin atrapalhou investigação contra Jair Renan Bolsonaro
Integrante da Agência Brasileira de Inteligência, flagrado por uma operação da PF, admitiu missão de atuar em caso de filho do presidente
Publicado 30/08/2022 - 14h12
São Paulo –Relatório da Polícia Federal mostra que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o serviço secreto brasileiro, atrapalhou o andamento de uma investigação envolvendo Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). A informação está em reportagem do jornal O Globo, nesta terça-feira (30) e tem como base um relatório enviado pela PF à 10ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal.
O documento cita que, sem qualquer justificativa plausível, a Abin interferiu no processo em que o filho do presidente e seu preparador físico Allan Lucena são suspeitos de abrir as portas do governo federal a um empresário interessado em receber recursos públicos. A interferência veio à tona quando um agente da Abin, flagrado por uma operação da PF, admitiu em depoimento que recebeu a missão de levantar informações de um episódio relacionado a Jair Renan, sob apuração de um inquérito da PF. Segundo o espião, o objetivo era prevenir “riscos à imagem” de Bolsonaro.
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A operação da Abin ocorreu em 16 de março de 2021, quatro dias depois de o filho do presidente e Lucena se tornarem alvo da investigação. Na ocasião, ele percebeu que estava sendo seguido por um veículo que entrou na garagem de seu prédio. Incomodado, o personal trainer acionou a Polícia Militar. Após a abordagem, ele se identificou como Luiz Felipe Barros Felix, agente da PF cedido ao órgão de inteligência. Chamado pela PF para prestar esclarecimentos, Felix relatou que trabalhava na Abin vinculado diretamente a Alexandre Ramagem, então comandante da agência e homem de confiança de Bolsonaro.
‘Interferência’ sem justificativa
No depoimento, o agente confirmou que recebeu a missão de um auxiliar do chefe da Abin. com intuito de levantar informações sobre paradeiro de um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil. O veículo teria sido doado a Jair Renan e seu preparador físico por um empresário do Espírito Santo, interessado em se aproximar do governo federal. Felix declarou que era preciso saber quem estava usado o carro “para saber se informes que pudessem trazem risco à imagem ou à integridade física do presidente eram verdadeiros ou não”, afirmou.
Segundo relatório da PF, a diligência atrapalhou as investigações em andamento. “Posto que mudou o estado de ânimo do investigado, bem como estranhamente, após ampla divulgação na mídia, foi noticiado, também, que o sr. Allan Lucena teria ‘devolvido’ veículo supostamente entregue ao sr. Renan Bolsonaro”, destacou o órgão à Justiça de Brasília no fim do ano passado, solicitando a prorrogação do inquérito.
O documento também cita que a atuação da Abin foi uma “interferência nas investigações” e pode ter estimulado os investigados a combinarem versões a respeito dos fatos. O filho de Bolsonaro e o preparador físico são suspeitos de intermediar, com a ajuda do Palácio do Planalto, uma reunião entre o empresário e o então ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. O carro teria sido entregue em troca. Em nota ao jornal, a pasta disse que o gabinete da Presidência solicitara oficialmente o encontro, por meio de um assessor especial de Bolsonaro, amigo de Jair Renan.
O que dizem os envolvidos
Procurada pelo O Globo, a Abin alegou que não há documentos oficiais sobre a operação. Em comunicado, a agência acrescentou que o agente Luiz Felipe Barros Felix não faz parte dos quadros desde 29 de março de 2021. O desligamento de Felix, contudo, conforme mostra a reportagem, ocorreu 13 dias após ele ter sido flagrado em missão. Ele não quis comentar o caso.
Allan Lucena também não retornou os contatos. Já o advogado Frederick Wassef, que defende a família Bolsonaro, afimrou que a atuação da Abin não teve relação com a Presidência da República e não atrapalhou as investigações. Segundo a defesa, trata-se de um “fato isolado” de um “indivíduo que se encontrava ali por conta própria”. O ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, atualmente candidato a deputado federal, foi procurado por meio de seu advogado, mas não respondeu aos questionamentos do jornal O Globo.
A interferência foi vista como um “escândalo” também entre parlamentares que foram às redes apontar “aparelhamento” das instituições pelo presidente Jair Bolsonaro.
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Confira repercussões sobre o caso de Jair Renan
ESCÂNDALO! Abin atrapalhou investigação contra Jair Renan Bolsonaro. Essa investigação da PF teve origem numa ação do nosso mandato na PGR. Vamos acionar o Ramagen no MP e convocar o presidente da Abin na Câmara. Basta de aparelhamento do Estado para acobertar crimes da familicia
— Ivan Valente 5050 (@IvanValente) August 30, 2022
Mais um escândalo: a Polícia Federal concluiu que a ABIN, serviço secreto brasileiro, atrapalhou o andamento de uma investigação envolvendo Jair Renan Bolsonaro para prevenir “riscos à imagem” do presidente! É mais uma interferência para limpar a barra de um filho do presidente!
— Talíria Petrone 5077 (@taliriapetrone) August 30, 2022
🚨 URGENTE! BOMBA! A CBN informa que a Polícia Federal apontou em relatório que a ABIN INTERFERIU nas investigações realizadas contra JAIR RENAN BOLSONARO por possível tráfico de influência.
— Orlando Silva 6565 (@orlandosilva) August 30, 2022
O objetivo seria evitar danos políticos a Bolsonaro. A QUADRILHA APARELHA O ESTADO!
Governo Lula: PF investigou irmão e filhos do Lula sem qualquer obstáculo.
— Deputado Alencar Santana – #1358 (@AlencarBraga13) August 30, 2022
Governo Bolsonaro: Jair trocou e perseguiu delegados, trocou diretor-geral da PF e colocou a ABIN para atrapalhar as investigações sobre o seu filho 04, o Jair Renan.
E eles ainda falam em corrupção… pic.twitter.com/zNFhmKYxxZ
Em menos de 24h, dois escândalos envolvendo a familícia de Bol$onaro!
— Sonia Guajajara 5088 (@GuajajaraSonia) August 30, 2022
Dessa vez, a PF afirmou que a Abin atrapalhou investigação de Jair Renan Bolsonaro. Eles interferem nas investigações e aí fica fácil de entender o motivo que “família de bem” nega a corrupção a todo custo.