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À CPI dos Atos Antidemocráticos, Heleno nega ter participado de plano de golpe

“O golpe teria condições de acontecer se tivesse sido planejado”, afirmou o ex-ministro do GSI de Bolsonaro, que também enalteceu a ditadura

Rinaldo Morelli / Agência CLDF
Rinaldo Morelli / Agência CLDF
Heleno na CPI é reconhecimento de "poder civil" e fortalece a democracia, disse presidente da CPI

São Paulo – O general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), negou nesta quinta-feira (1º) ter participado de qualquer planejamento visando a um golpe de Estado. Disse ter “muito orgulho” de ter sido ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas afirmou que para uma ruptura institucional seria necessário um “líder disposto a liderar”. E reclamou que o termo golpe vem sendo empregado com “extrema vulgaridade”. “Um golpe de Estado, para ter sucesso, precisa de um líder principal que esteja disposto a liderar. O golpe teria condições de acontecer se tivesse sido planejado. Não é simplesmente sair na rua e dar o golpe”, afirmou Heleno em audiência na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). O ex-ministro disse que se fosse ele o “articulador” de um golpe de Estado, “eu diria aqui”.

O relator da CPI, deputado Hermeto (MDB), perguntou ao general se na avaliação dele uma ligação de Bolsonaro ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconhecendo a derrota nas eleições teria evitado a tentativa de golpe de 8 de janeiro. Heleno se esquivou. “Não tenho opinião formada sobre isso. Não posso avaliar o que aconteceria se houvesse esse reconhecimento”, respondeu.

Sobre uma live em que Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas, o general disse não se lembrar da transmissão e que confiava “em termos” nos equipamentos. “Eu acredito, em termos, mas eu acho que é preciso que haja uma evolução da urna eletrônica, para que ela seja totalmente confiável. Houve uma série de questionamentos em relação à confiabilidade da urna”. Ele classificou como “normal” esse tipo de questionamento e disse que “o resultado da eleição foi respeitado.”

Articulações golpistas

Heleno também desdenhou do teor golpista de um áudio do ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU). Na gravação, compartilhada em um grupo no WhatsApp com amigos do agronegócio, que veio a público em novembro, Nardes afirmava que “está acontecendo um movimento muito forte nas casernas” brasileiras, e que em questão de horas ou dias haveria um “desenlace imprevisível”. “Nada do que ele fala aconteceu, então, já é uma história meio fantasiosa. Eu nunca conversei com o ministro Nardes sobre esses assuntos”, afirmou Heleno.

Do mesmo modo, o ex-chefe do GSI também negou que se referia a Lula quando quando disse “não” a bolsonaristas que questionaram se “bandido subia a rampa”. “E eu continuo achando que ladrão não sobe a rampa. Não tinha nome. Eu estava dentro do carro, apareceu uma pergunta que eu nem me lembro exatamente. Mas tenho certeza que não tinha nome”.

Além disso, Heleno também negou ter comparecido aos acampamentos que pediam golpe militar após as eleições. “Só vi por fotografia, nunca estive lá. Mas acredito que era um local sadio, onde as pessoas faziam orações e se reuniam para conversar sobre política. Foi uma manifestação ordeira, uma experiência nova em termos de manifestação política”, avaliou.

Ao ser questionado sobre o que achava da apreensão da “minuta do golpe” na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, Heleno defendeu o colega. “Eu gosto muito dele. Esse tal documento foi uma página ruim da história de vida dele. Mas era um documento sem importância, tanto é que ele deixou na casa dele sem qualquer preocupação”, disse.

Golpe de 64, poder civil e Bolsonaro

O ex-GSI defendeu o golpe de 1964. Após o deputado distrital Gabriel Magno (PT) afirmar que a ditadura no Brasil foi “um atentado contra os direitos humanos”, Heleno reagiu: “O deputado acha que o movimento de 1964 matou mais de mil pessoas, o que não aconteceu. Acha que foi um movimento de vingança, de ódio, quando o movimento de 64 salvou o Brasil de virar um país comunista”. Em 2014, o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) confirmou 434 mortes e desaparecimentos de vítimas da ditadura no país.

Os deputados bolsonaristas Paula Belmonte (Cidadania) e Thiago Manzoni (PL) saíram em defesa de Heleno. Já Fábio Felix (Psol) rebateu: “Vocês não estariam aqui (na CLDF) se tivesse ditadura no país”. Do auditório da Câmara, a plateia puxou o coro “sem anistia“, contrapondo-se ao general. Em função do bate-boca entre os deputados, o presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), encerrou a sessão.

Ainda assim, Chico Vigilante ressaltou que o mais importante em relação ao comparecimento de Heleno à CPI foi o “reconhecimento definitivo do poder civil” no país. “Os militares se submetendo ao poder civil, isso é importantíssimo para o fortalecimento da democracia”.

Por outro lado, ele afirmou que o general foi “evasivo” no depoimento. “Ele não assumiu porque que o chefe dele, o Bolsonaro, não se posicionou a favor do resultado democrático das eleições, tão logo elas aconteceram. Até porque tenho a convicção que se o Bolsonaro tivesse dito para aquele povo dele, que estava nos quartéis, que estava liquidado o processo eleitoral e que tinham que se recolher enquanto oposição, nada disso teria acontecido”.

Assim, para Chico Vigilante, o principal responsável pela tentativa de golpe em 8 de janeiro – quando bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes – tem nome e sobrenome: “chama-se Jair Bolsonaro”.

 


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