conivência

À CPI, coronel da PM afirma que o Exército dificultou a prisão de golpistas em Brasília

Em depoimento, coronel Jorge Naime também disse que bolsonaristas acampados viviam numa “espécie de seita”

Rinaldo Morelli/CLDF
Rinaldo Morelli/CLDF
Coronel da PMDF também afirmou que inteligência do Exército sabe de ilegalidades no acampamento

São Paulo – Ex-comandante de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Jorge Eduardo Naime afirmou que o Exército dificultou a prisão dos golpistas que invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília no 8 de Janeiro. Em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do DF (CLDF), ele relatou que quando a PM foi ao acampamento bolsonarista em frente ao Quartel General do Exército para prender os envolvidos na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes encontrou uma “linha de choque com blindados” dando guarida aos golpistas. “Eles estavam voltados para a PM, protegendo o acampamento”, ressaltou.

“O tenente que era o oficial de dia no QG queria impedir que a gente prendesse as pessoas no gramado que fica ao lado da via N1. O argumento foi que o local era uma área do Exército e que a PM não poderia atuar. Presenciei o (interventor Ricardo) Cappelli tentando entrar e o general Dutra não permitindo”, afirmou.

Naime disse à CPI que estava de folga no dia 8 de janeiro, mas foi convocado a participar da ação para remover os bolsonaristas golpistas da Esplanada dos Ministérios. O coronel está preso, desde fevereiro, por suspeita de omissão das autoridades de segurança do DF durante a invasão. O Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) chegou a conceder habeas corpus ao comandante, que poderia não ir ao depoimento ou ficar calado. Fardado, ele apresentou a sua versão sobre os fatos.

Nesse sentido, ele disse que participou de várias reuniões antes dos atos golpistas com o Comando do Exército para a retirada do acampamento, mas que as operações eram canceladas de última hora. Naime disse que chegou a colocar 500 homens à disposição, no dia 29 de dezembro, para retirar o acampamento. “Houve orientação expressa em dezembro para que não fosse permitida a retirada de pessoas no acampamento no Quartel General do Exército”, frisou.

Mundo paralelo

Para o coronel, o acampamento em frente ao QG era o “epicentro de todos os atos” golpistas. Ele afirmou que os bolsonaristas que estavam no acampamento viviam “num mundo paralelo”, numa “espécie de seita”. Ele relatou que um dos integrantes se apresentou a ele como um dos extraterrestres que ajudariam o Exército no esperado golpe de estado. “Escutei relatos que falei: ‘Não é possível’. Uma pessoa me abordou e disse que era extraterrestre, estava infiltrada e, assim que o Exército tomasse, eles iam ajudar a tomar o poder”, relatou.

Além disso, afirmou que havia agentes de inteligência, incluindo do próprio Exército, no acampamento, que identificaram várias irregularidades no local. Ele citou, por exemplo, o comércio ilegal, que envolvia aluguel de tendas para ambulantes, indícios de tráfico de drogas, prostituição e até denúncia de estupro.

Também existia, ainda de acordo com o coronel, uma “máfia do pix”. “Várias lideranças ficavam no acampamento o tempo todo pedindo que as pessoas fizessem pix com a intenção de manter o acampamento”.

Operação fora do padrão

No depoimento, o coronel também afirmou que o efetivo mobilizado no episódio não seguiu o padrão operacional da corporação. Documento da PM apresentado pelo presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), aponta que havia apenas 200 alunos do curso de formação de policiais, e “o restante” de sobreaviso. “Me causa estranheza ter usado somente os alunos”, disse o Naime

Nesse sentido, ele relatou que nunca tinha visto “tanta facilidade” na invasão dos prédios. “Se todo mundo estava sabendo, por que só tinha 16 policiais no Congresso Nacional, de 500?”, questionou. Ele ressaltou que poderia ter havido mortes se a polícia “não tivesse tido parcimônia” e “não tivesse agido de forma inteligente”.

No entanto, de acordo com o ex-interventor da Segurança Pública do DF, Ricardo Cappelli, o coronel retardou a linha de contenção da PM diante do avanço dos bolsonaristas na Esplanada. Ele disse ter visto os comandados por Naime Barreto avançando “lentamente” contra os golpistas.

Com informações da CLDF


Leia também


Últimas notícias