"Lado certo da história"

Partidos e centrais lembram Diretas Já e destacam unidade histórica para ‘salvar a democracia’

“Temos uma tarefa que vai alterar os destinos da nação. Democracia é comida no prato, direito a emprego, a educação e saúde”, definiram oradores

Claúdia Motta
Claúdia Motta
Gleisi: "Pela primeira vez numa eleição de primeiro turno, temos todos os movimentos sociais e populares unidos em torno de uma candidatura"

São Paulo – Unidade de diferentes partidos e movimentos para resgatar a democracia marcou o ato que abriu a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Fernando Haddad em São Paulo. “Essas eleições são as mais importantes da recente história da democracia brasileira. É uma eleição em que vamos salvar a democracia e mostrar que esse é o caminho para o Brasil”, afirmou a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo. “Vamos recolocar o povo na centralidade das políticas públicas e do orçamento da União. Não só no Brasil, mas aqui em São Paulo também”, acrescentou.

Gleisi assinalou a construção de uma aliança história dos 10 partidos que compões a coligação Brasil da Esperança. Além da federação partidária formada por PT, PCdoB e PV, e da federação Rede e Psol, integram a coligação nacional PSB, Solidariedade, Pros, Avante e Agir. “Pela primeira vez, temos todas as centrais unidas. Vocês viram aqui os movimentos sociais. Também pela primeira vez numa eleição de primeiro turno, temos todos os movimentos sociais e populares unidos”, observou Gleisi. Desse modo, conclamou a militância a se organizar. “Ao sair daqui, pensem em montar um comitê no seu bairro, no seu local de trabalho. Discuta política com os companheiros, colegas, vizinhos, com a família. Mostrem o que está em jogo no Brasil.”

O candidato a deputado federal pelo Psol Guilherme Boulos, coordenador político da campanha de Fernando Haddad (PT) ao governo de São Paulo, lembrou outra grande frente de unidade pela democracia formada nos anos 1980. “Esse Vale do Anhangabaú, em 1984, sediou o grande comício pelas Diretas Já. Hoje, 38 anos depois, o Anhangabaú solta a sua voz. Nessa manhã fria, nosso recado é que o inverno está chegando ao fim”, disse Boulos.

Arrancada

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Sérgio Nobre, da CUT, destacou unidade das centrais sindicais pela vitória de Lula e Haddad e em defesa da democracia e da reconstrução do país (Fotos: Cláudia Motta)

“Uma arrancada de 40 dias, que vai eleger Luiz Inácio Lula da Silva presidente do Brasil mais uma vez. E nós vamos brigar para que seja no primeiro turno. Vai eleger Fernando Haddad governador de São Paulo. E eleger a maior bancada progressista da história do Congresso, com Márcio França no Senado, e uma grande bancada de esquerda em Brasília”, acrescentou Boulos.

Gleisi completou: “A juventude pode fazer bicicletada. Podemos fazer papo na praça. E vamos entregar essa campanha na mão do povo, para que o povo leve a toalha do Lula, a bandeira, o adesivo, para convencer a cada dia mais gente. Mãos à obra, arregaçar as mangas, para fazer no dia 2 de outubro a grande vitória do povo brasileiro. Vai ser no primeiro turno”.

Comida no prato

A presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, também classificou o ato como “histórico”. Além de lembrar a campanha das Diretas Já, ressaltou o momento de enfrentamento que está em jogo. “Nossa mobilização é importante para que a gente garanta que nesse país ganhe a civilização contra a barbárie. Nós precisamos de democracia para que esse país saia novamente do Mapa da Fome. E ter a garantia do funcionamento do SUS para as necessidades básicas da população.”

“Comida no prato e emprego”, aliás, foi a expressão usada pelo presidente nacional do Psol, Juliano Medeiros, para explicar o sentido da democracia. “Democracia é comida no prato. É direito ao emprego, direito à universidade. À habitação digna e de qualidade. É essa democracia que queremos construir, incluir milhões de brasileiros e brasileiras. E quem está liderando esse processo é um homem que 38 anos atrás estava aqui defendendo a democracia. Luiz Inácio Lula da Silva vai nos liderar mais uma vez, para construir essa nova democracia no Brasil”, definiu.

Beleza da democracia

Já o empresário e deputado federal Felipe Leone (Pros) celebrou adesão de seu partido à coligação Brasil da Esperança. “Estamos do lado certo, não tenho dúvidas. É com orgulho que a gente pode botar a cara nessa campanha e falar que estamos do lado da democracia, do lado de Lula. E vamos vencer essas eleições.”

Recém-alçado à posição de estrela da campanha, por sua relevância nas redes sociais, o deputado federal André Janones (Avante), destacou a forma calorosa como foi acolhido na coligação Brasil da Esperança. “Para quem gostou dessa aquisição do PT, agradeçam em primeiro a Deus, ao Lula e à Gleisi Hoffman. Se hoje a gente está junto com vocês, devo muito à maneira carinhosa, respeitosa com que fui tratado desde o início pelo PT. Gleisi teve a sabedoria lá atrás de reconhecer que a estatura de um homem não se mede pelas intenções de voto numa pesquisa. Se mede pelo tamanho do papel que ele se propõe a desempenhar numa eleição como essa”, afirmou.

Janones lembrou que, em 13 de julho, Gleisi ao procurou para propor encontro com sem pedir para retirar a candidatura. “Lula me disse: ‘Não tenho condições morais para pedir para você desistir da sua candidatura. Lá atrás, se eu tivesse desistido, não teria sido presidente desse país por oito anos e tirado mais de 20 milhões da pobreza. Apenas pense no papel que você quer desempenhar na defesa da democracia nos próximos quatro anos’.”

O deputado observou ainda a ampla disposição democrática e cívica na construção da aliança. “Nós podemos debater muito muito o papel do vice-governador. Mas a união de Lula e Alckmin tem um sentido muito mais do que eleitoral. Tem um sentido simbólico. Tem muita gente resgatando falas do passado para mostrar o que um dizia do outro”, ressaltou.

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“Tenho certeza que o que eles querem é poderem discordar, debater e no final do dia, em vez de colocar um colete à prova de balas, com medo do que vai acontecer lá fora, podem confraternizar num churrasquinho com Lula com a caixinha de isopor no ombro, como a gente viu no passado. Essa é a beleza da democracia.”

André Janones enfatizou a importância da eleição de Fernando Haddad em São Paulo. “Estou com Haddad pelas milhões de pessoas carentes que ele possibilitou cursar uma universidade através do ProUni. Pelas escolas, pelas creches, por tudo o que ele investiu na saúde e na educação nessa cidade. Sei o que é ter que pegar ônibus de madrugada e não ter como chegar em casa de maneira segura. O programa seu que me fez estar aqui hoje foi o busão da madrugada. Porque pobre, povo, sabe o que é ter que sair na madrugada sem saber se vai voltar para casa.”

Ativista nas redes sociais, Janones defendeu o enfrentamento às baixarias que virão. “Vamos mostrar que os bons são muito barulhentos também”, disse. “Estamos criando o gabinete do amor, para espalhar a verdade e a bondade. Martin Luther King dizia que o que preocupa não é o barulho dos maus, mas o silêncio dos bons. Quero todo mundo aqui, e lá no Twitter gritando ‘Bozo, Ladrão. Seu lugar é na prisão’.”

Coragem é um dever

E finalizou afirmando que mudar São Paulo e o Brasil significa “libertar essa nossa nação do Bolsonaro”. “Sonhem, continuem sonhando. Lula é retrato da esperança do nosso país. Os que estão aqui discordam de muita coisa. Mas a gente sabe sonhar grande. E dentro dos nossos sonhos cabe o sonho de cada um de vocês.”

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que desistiu de disputar o governo do Amapá para integrar a coordenação da campanha de Lula, defendeu a coligação Brasil da Esperança afirmando que em momentos de encruzilhada histórica não há dois lados. “Na política, há dois lados entre liberais e socialistas. Entre social-democratas e liberais. Mas não há dois lados diante do fascismo. Ao fascismo só resta um caminho. A lata de lixo da história. Ter coragem nesse momento, é mais do que um direito. É um dever de cada um de nós.”

Randolfe destacou a importância da mobilização nas ruas e redes. “Eleições não se ganharão somente em gabinetes e redes sociais. Eleição se ganha nas favelas, nas periferias, conversando com o povo. Nos atos públicos e reuniões em todos os cantos”, alertou.

“Temos uma tarefa que vai alterar os destinos da nação. Primeiro mandamento: sem medo. Não temos direito ao medo. Nenhum passo atrás aos canalhas do fascismo nem às ciladas deles, de querer misturar religião com política. Aqueles que utilizam o nome de Deus em vão não são dignos de exercer o poder político. Vamos para a batalha final, sobretudo em nome daquele que perdemos. Em nome de Marcelo Arruda, Bruno de Araujo, Dom Philips e Chico Mendes. Em nome da luta do povo brasileiro.”

Assista à transmissão do ato no Anhangabaú


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