Mundo de olho

À imprensa internacional, Lula promete priorizar questão climática

Ex-presidente concede entrevista a veículos estrangeiros e destaca que “o Brasil vai cuidar da questão do clima como jamais cuidou em outro momento”

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A economia brasileira também foi tratada na coletiva internacional com destaque. Lula repetiu que buscará investimentos internacionais para reindustrializar o país e criar empregos

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que pretende assumir compromissos e parcerias internacionais que coloquem a questão climática como prioridade caso seja eleito para um novo mandato presidencial. Em entrevista à imprensa internacional, nesta segunda-feira (22), o candidato da coligação Brasil da Esperança destacou que pretende retomar relações multilaterais para que o Brasil seja levado em conta “não só por sua população e extensão territorial, mas também pelo que representa do ponto de vista da reserva florestal e de riqueza de biodiversidade”.

“É preciso que a gente tenha uma nova discussão sobre essa questão climática, uma nova governança mundial. Senão vamos continuar decidindo e as coisas vão continuar acontecendo, o desmatamento vai continuar aumentando, a poluição. Nós precisamos tomar uma atitude. É com esse ímpeto que estamos nos preparando para ganhar uma eleição e estamos nos preparando para governar o país, se assim o povo brasileiro permitir”, propôs Lula, acompanhado dos ex-ministros Celso Amorim e Aloizio Mercadante. 

A ideia de uma nova aliança global já havia sido defendida pelo candidato em sua passagem por países europeus, no final do ano passado, onde foi recebido com honras de chefe de estado. Dessa vez, o petista associou o tema diretamente à proteção da Amazônia e ao combate ao desmatamento e à emissão de gases de efeito estufa. Lula abriu a coletiva criticando a diplomacia do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) que, de acordo com ele, lançou o Brasil como “pária” internacional. O ex-presidente observou, no entanto, que o país pode recuperar seu protagonismo pela relevância ambiental. 

Caso Bruno e Dom 

A governança mundial, ainda segundo o candidato do PT, seria importante para que os países avançassem com os projetos de enfrentamento à emergência climática global, já amplamente discutidos em fóruns internacionais. Nesse sentido, Lula também defendeu uma “atitude coletiva de preservação da Amazônia”, – ainda que seja um território soberano do Brasil, conforme frisou –, compartilhada pela Venezuela, Colômbia, Peru e Equador, que também têm porções da floresta tropical.

“O Brasil vai cuidar da questão do clima como jamais cuidou em outro momento. Porque queremos ser responsáveis não apenas conosco, mas com a manutenção do clima no mundo inteiro”, ressaltou Lula, acrescentando que terá tolerância zero com o garimpo ilegal e destacando, já inicialmente, solidariedade às famílias do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, assassinados em junho, no Vale do Javari, no Amazonas. 

O crime contra as vidas de Bruno e Dom, que trabalhavam em defesa dos povos indígenas da região, foi lembrado ainda na primeira pergunta dirigida a Lula pelo jornalista do jornal britânico The Guardian Tom Phillips, que era amigo de Dom. O correspondente também perguntou ao candidato quais seriam as medidas concretas contra a onda de ataques aos povos indígenas e à explosão do desmatamento nos últimos anos.   

Reconstrução

Na semana passada, relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), divulgado pela RBA, mostrou que “a omissão do governo Bolsonaro” levou a novo recorde de mortes de povos indígenas em todo o país. Foram ao menos 1.915 vítimas no ano passado.  Em paralelo, dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) também indicaram que, com o mandatário, o desmatamento na Amazônia Legal foi o maior dos últimos 15 anos, de agosto de 2021 a julho de 2022. 

“Precisamos imediatamente recuperar todas as coisas que tínhamos criado para combater o desmatamento na Amazônia, inclusive recuperar o Ibama que foi desmontado, não só enfraquecido. (…) A segunda coisa que queremos é criar um Ministério dos Povos Originários. É preciso que a gente saiba de uma vez por todas que os nossos indígenas têm maioridade. Eles vão cuidar da Amazônia com muito mais força se tiverem autoridade em suas mãos para cuidar disso”, defendeu o petista. 

Lula também comentou que a tarefa demanda a participação de toda a sociedade, a começar pelos prefeitos. E que será preciso reforçar o policiamento das fronteiras, fortalecer os estados para que sejam fiscalizadores e responsabilizar os desmatadores. “Vamos voltar a governar esse país colocando a questão do clima como prioridade. Ou seja, não vai ter meio termo, vamos levar muito a sério. Porque queremos assumir compromissos internacionais e essa parceria com os que queiram construir para preservar o clima será séria e importante. E portanto, se tivermos muito cuidado, vamos evitar que se repita o que aconteceu com Dom e Bruno”, enfatizou. 

Ataques à democracia

Aos veículos estrangeiros, o ex-presidente também denunciou que a situação do Brasil, a 41 dias das eleições, está um “pouco anômala”. Segundo ele, há “muita fake news sendo espalhada na tentativa de conturbar” as eleições. A preocupação com o ambiente político também foi levantada pelos correspondentes internacionais que, por pelo menos duas vezes, questionaram Lula sobre a possibilidade de Bolsonaro de fato não aceitar uma eventual derrota em outubro, conforme já afirmou. 

O candidato do PT descreveu que Bolsonaro “desafia todo santo dia as diferentes instituições”. Que o presidente “ofende o poder judiciário, a Suprema Corte e a Justiça Eleitoral”. E que “machuca a democracia” ao “desrespeitar tudo aquilo que foi feito com muito custo pela sociedade brasileira”. Contudo, Lula afirmou estar certo de que os resultados das eleições “serão acatados plenamente”. E que acredita na recuperação da democracia do país.

“No Brasil tivemos um presidente que não quis passar a faixa para o outro. Não tem problema. Isso é o de menos. É importante que as pessoas saibam que terá uma eleição e que ela vai ter um resultado. Quem perder acata e quem ganhar acata. Quem ganhar toma posse e quem perder vai chorar”” disse o ex-presidente. 

Economia

A economia brasileira também foi tratada na coletiva internacional com destaque. Lula repetiu que buscará investimentos internacionais para reindustrializar o país e criar empregos. E destacou sua oposição à privatização de empresas públicas. O candidato do PT também disse que trabalhará para promover o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.