Discurso único

Arthur Lira volta a defender privatização da Petrobras

Para manifestar defesa de Adriano Pires e do governo de Jair Bolsonaro, presidente da Câmara dos Deputados cria confusão entre interesse público e privado e repete ataques à estatal

Billy Boss/Câmara dos Deputados
Billy Boss/Câmara dos Deputados
"O governo não pode ser responsabilizado de tudo que Petrobras faz de errado", disse deputado em coletiva

São Paulo – Aparentemente inconformado com a inviabilização de Adriano Pires na presidência da Petrobras, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), voltou, nesta quarta-feira (5), a defender a privatização da estatal. Ele disse que o Congresso Nacional precisa rever a Lei das Estatais e “tratar claramente” da privatização da empresa. Defendeu o governo em relação ao impasse em torno da companhia e acrescentou que ela “não dá explicações a ninguém”. Assim como Pires, Rodolfo Landim desistiu da presidência do Conselho Administrativo da estatal.

“Há a necessidade de o Congresso debater e mudar trechos da Lei das Estatais, inclusive tratando claramente da privatização dessa empresa”, disse Lira textualmente, em entrevista coletiva. O deputado reclamou da política de preços da petrolífera. “A gente produz o petróleo aqui e tem a referência de preço internacional porque é bom para os investidores, é bom para quem é acionista e é somente (para) isso que serve? Se ela não tem nenhum benefício para o Estado e povo brasileiro, que vive reclamando todo dia do preço dos combustíveis, que seja privatizada e a gente trate disso com a seriedade necessária”, reclamou.

A campanha do deputado contra a empresa não é novidade. Em outubro do ano passado ele falou no mesmo tom: “Essa é a pergunta que tem que ser feita: então não seria o caso de privatizar a Petrobras? Não seria a hora de se discutir qual a função da Petrobras no Brasil? É só distribuir dividendos para os acionistas?”

Lira, porém, omite a responsabilidade do governo golpista de Michel Temer, que instituiu a atual política de preços de paridade de importação (PPI), pela qual os preços dos combustíveis são reajustados pelo valor do barril de petróleo no mercado internacional, em dólar.

Criando confusão

Ao atacar a Petrobras, o deputado saiu em defesa de Adriano Pires e do governo de Jair Bolsonaro. “O governo não pode ser responsabilizado de tudo que ela faz de errado, sem explicações. A Petrobras não dá explicações a ninguém. Ela tem lei de política de preços: quando há aumento de dólar e petróleo, aumenta; quando baixa, não tem reflexo nenhum”, protestou. Ele negou ser próximo ao economista. “Não tenho relação com Adriano Pires, nunca falei com Adriano Pires.”

Sobre Pires – que substituiria o general Joaquim Silva e Luna – Lira afirmou na segunda-feira (4), irritado, que deveriam convidar um “arcebispo” para assumir a estatal. Classificou como “demagogia pura” o evidente “conflito de interesses” que inviabilizou o economista na presidência da Petrobras. “Não pode partir da premissa de que (se) um cara dá assessoria no ramo privado a uma empresa privada, ele não pode assumir comando de uma empresa pública porque é desonestidade”, afirmou, erroneamente.

Lógica predatória

O economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social da Petrobras (OSP), citado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), afirmou que o governo manteve uma “lógica predatória”, ao indicar Landim e Pires, mas não conseguiu emplacar os nomes porque está desgastado.

“Todas as mudanças da Petrobras até aqui não tiveram como objetivo mudar a direção da política de preços e de privatizações. Sempre foram cortinas de fumaça”, disse Dantas. “A indicação será, novamente, de alguém que irá lá para defender as privatizações, seja alguém do mercado, seja algum militar.”

Eletrobras

A bancada do PT na Câmara enviou hoje um ofício ao Tribunal de Contas da União (TCU) requerendo a participação de parlamentares do partido em painel público que a corte vai promover, na quinta-feira (7), sobre a privatização da Eletrobras. O objetivo é mostrar argumentos de que a desestatização contraria os interesses nacionais.

Os deputados federais do PT foram admitidos como amicus curiae (amigos da Corte) no processo do TCU que examina as contas da privatização da Eletrobras. Mas eles não foram convidados para o debate desta quinta-feira, segundo a liderança do partido na Câmara.