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Por conflito de interesse, Adriano Pires desiste da presidência da Petrobras, diz jornal

Desde sexta-feira, Pires havia entrado na mira do Ministério Público em função do seu histórico de atuação em defesa de empresas concorrentes da Petrobras

Luís Macedo/Agência Câmara
Luís Macedo/Agência Câmara
Planalto ainda não confirmou desistência de Pires

São Paulo – O economista e consultor Adriano Pires deverá desistir de ocupar a presidência da Petrobras. A informação, que já circula pelos principais jornais do país, foi dada pela colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, na manhã desta segunda-feira (4). Pires foi escolhido pelo governo Bolsonaro na semana passada para substituir o general Joaquim Silva e Luna. De acordo com a colunista, ele teria avisado ao Palácio do Planalto da sua desistência hoje. Mas até o fechamento desta matéria, o Ministério de Minas e Energia ainda não havia recebido um comunicado oficial sobre a sua saída.

Pires desistiu, segundo Malu, por conta dos casos de conflito de interesses que enfrentaria no comando da estatal. Isso porque ele é sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), que prestou consultoria para inúmeras empresas do setor de óleo e gás.

A intenção do economista era deixar o CBIE sob comando do seu filho, Pedro Pires, enquanto ocupasse o comando da estatal. Mas Lei das Estatais (Lei 13.303/2016), proíbe que executivos dessas empresas tenham parentes em empreendimentos concorrentes.

Assim como Pires, Rodolfo Landim, atual presidente do Flamengo, também anunciou no sábado (2) que desistiu de assumir a presidência do Conselho da Petrobras. Após perder a final do Campeonato Carioca, Landim disse que recusou o convite para se dedicar integralmente ao time rubro-negro. Mas a sua decisão também tem relação com conflitos de interesse, se viesse a ocupar o cargo na estatal.

Malu relatou que o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque e técnicos da CGU receberam na semana passada os relatórios da Diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras sobre o histórico de Pires e de Landim. Ambos teriam ficado “assustados com o que leram”, escreveu ela.

“Segundo pessoas que tomaram conhecimento do relatório de integridade sobre Pires, a conclusão principal é que, no comando da empresa, ele enfrentaria ‘conflitos demais'”, diz um trecho da coluna. 

Na Mira do TCU

Na última sexta-feira (1º) o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) pediu que o Pires não assumisse a presidência da Petrobras sem que antes houvesse uma investigação por parte da Controladoria Geral da União (CGU) e da Presidência da República sobre os indícios de “possível conflito de interesses”.

O subprocurador-geral Lucas Furtado, autor da representação, disse ver “um quadro de extrema gravidade para a necessária isenção que se espera de um futuro dirigente da maior empresa brasileira”. Também afirmou que a troca no comando na estatal não mudaria a política de preços. Ou seja, seria como “trocar 6 por meia dúzia”. Nesse sentido, disse que a mudança “não se ampara em justificativa técnica” e teria ocorrido “por mero capricho” do presidente Jair Bolsonaro.

Por motivos similares, em 2020, O TCU vetou o nome de Adriano Pires para o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), a pedido do MP, por conta da sua atuação em defesa de interesses privados.

Interesses privados

À RBA, o diretor-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), William Nozaki, lembrou na última terça (29) que Pires “tem uma longa trajetória como lobista de empresas do setor”. Ainda assim, ou justamente por isso, seu nome foi recebido positivamente pelo mercado financeiro. Pires também foi saudado pela imprensa comercial.

Isso porque o consultor deu seguidas declarações defendendo a atual política de Preço de Paridade de Importação (PPI), que resultou na explosão dos preços dos combustíveis nos últimos anos. Além disso, ele chegou a defender a privatização da Petrobras como “solução final” para a questão dos preços.

“De repente descobriram que o Adriano Pires, o candidato da Globo à Petrobras, é lobista de empresas estrangeiras concorrentes da empresa. Mas era a única fonte sobre o tema em todas as emissoras. Agora começa a operação segura o Pires”, ironizou o jornalista Luís Nassif, pelas redes sociais.

“Desistiu antes de entrar”, tuitou a deputada federal Natália Bonavides. “Esse é o perfil de compromisso com o Brasil que a equipe ‘técnica’ do Governo Bolsonaro tem, e o povo segue pagando a conta absurda da política de preços da Petrobras”, acrescentou.


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