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Alvo da PF, Ciro Gomes diz ver interferência de Bolsonaro. ‘Transformou o Brasil num Estado policial’

Operação foi deflagrada nesta quarta (15) por suspeitas de desvios de recursos públicos nas obras do estádio Castelão, no Ceará, entre os anos de 2010 e 2013. Entre os alvos, estão Ciro Gomes e seu irmão, o senador Cid Gomes

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se solidarizou com os irmãos Gomes. Redes levantam suspeitas de "perseguição política"

São Paulo – Para o pré-candidato à presidência pelo PDT, Ciro Gomes, a operação da Polícia Federal (PF) deflagrada nesta quarta-feira (14) contra ele e seu irmão, o senador Cid Gomes, também do PDT, foi uma ação política ordenada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Ciro usou as redes sociais para se defender da ordem de busca e apreensão em sua casa por supostas irregularidades em obras do estádio Castelão, no Ceará, para a Copa do Mundo de 2014. 

A Polícia Federal afirmou ter suspeitas de “fraudes, exigências e pagamentos de propinas a agentes políticos e servidores públicos decorrentes de procedimento de licitação” para ampliação da arena, entre os anos de 2010 e 2013. Nesse período, o estado era governado por Cid Gomes. Ao todo, foram cumpridos 14 mandados em Fortaleza, Meruoca, Juazeiro do Norte, São Paulo, Belo Horizonte e São Luís. Lúcio Gomes, outro irmão da família, também sofreu busca e apreensão na manhã de hoje. 

Batizada de Colosseum, a operação foi autorizada pelo juiz Danilo Dias Vasconcelos de Almeida, da 32ª Vara Federal do Ceará. De acordo com reportagem da Carta Capital, o magistrado é conhecido por diversas decisões polêmicas e controversas ao longo de sua carreira. A mais recente é de novembro deste ano, quando Dias Vasconcelos absolveu um homem que negou o holocausto e culpou judeus pelas pandemia de covid-19 e peste negra. Na sentença, o juiz argumentou que o homem emitiu uma “opinião” que não poderia ser considerada racista ou crime de ódio, mas sim “liberdade de expressão”.

Ciro nega as acusações

No caso da operação da PF, o magistrado também determinou o afastamento do sigilo telefônico, bancário, fiscal e telemático dos irmãos e demais alvos. O objetivo das buscas era apreender mídias digitais, aparelhos celulares e documentos.

Ciro negou as acusações e classificou a ordem judicial como “abusiva”. “Não tenho mais dúvida de que Bolsonaro transformou o Brasil num Estado Policial que se oculta sob falsa capa de legalidade”, reagiu o presidenciável. O pedetista também considerou o pretexto da operação da PF como “pitoresco”. “Não tenho dúvida de que esta ação tão tardia e despropositada tem o objetivo claro de tentar criar danos à minha pré-candidatura à presidência da República”, justificou. 

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A Polícia Federal afirma que a investigação conta com delações premiadas de executivos da Galvão Engenharia. A fraude teria ocorrido para que a empresa obtivesse êxito no processo licitatório para realizar as reformas no estádio. Há suspeitas de que propinas tenham sido pagas para que a empresa vencesse e durante a execução do contrato. Segundo a PF, os indícios são de pagamentos na ordem de R$ 11 milhões. O montante teria sido pago diretamente em dinheiro e também disfarçado de doações eleitorais para Cid Gomes e os irmãos Ciro Gomes e Lúcio Gomes. 

Reação

Pelo Twitter, Ciro acrescentou que “o braço do estado policialesco de Bolsonaro, que trata opositores como inimigos a serem destruídos fisicamente, levanta-se novamente contra mim”. “Não tenho dúvida de que esta ação tão tardia e despropositada tem o objetivo claro de tentar me intimidar e deter as denúncias que faço todo o dia contra esse governo que está dilapidando nosso patrimônio público com esquemas de corrupção de escala inédita”. A nota conclui que “ninguém irá calá-lo”. 

Na mesma rede social, bolsonaristas dispararam ataques ao pré-candidato do PDT. Mas houve também reações contrárias, questionando a legitimidade da operação.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se solidarizou com os irmãos Gomes. “Quero prestar minha solidariedade ao senador Cid Gomes e ao pré-candidato a presidente Ciro Gomes, que tiveram suas casas invadidas sem necessidade, sem serem intimados para depor e sem levar em conta a trajetória de vida idônea dos dois. Eles merecem ser respeitados”, tuitou.

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima