Memória

Em vez de homenagem a militar por invasão da PUC, fotógrafo propõe tributo a ex-reitora

Projeto na Assembleia paulista tenta homenagear Erasmo Dias, conhecido personagem da ditadura. Ele comandou a tomada da universidade por tropas policiais em 1977

Hélio Campos Mello
Hélio Campos Mello
'Não dou a mão para assassino', disse a reitora Nadir Kfouri ao corone Erasmo Dias

São Paulo – Parlamentares da Assembleia Legislativa paulista querem homenagear o ex-deputado Erasmo Dias, secretário estadual da Segurança Pública durante a ditadura. Nessa condição, ele comandou a invasão da PUC em 1977, operação que resultou na prisão de 2 mil pessoas. É sempre lembrada a imagem do coronel esbravejando que estavam todos presos. Outros deputados e entidades da sociedade reagiram à iniciativa e tentam barrar o Projeto de Resolução 16/2020.

Apresentado em setembro do ano passado, o projeto institui a “Medalha do Mérito da Segurança Pública Deputado Erasmo Dias”. Um grupo de 20 deputados afirma que é preciso “perenizar seu nome por seus valorosos feitos que até hoje se mostram essenciais para a sociedade”. E exaltam a ditadura, que chamam de “movimento de março de 1964”.

Tramitação

Na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR) da Assembleia, o projeto ganhou pareceres favoráveis, de Marina Helou (Rede) e Marcos Zerbini (PSDB), já com uma emenda, de Frederico d´´´’Avila (PSL). Na última quinta-feira (16), o deputado Paulo Fiorilo (PT) pediu vista.

Registro feito pelo jornal O Estado de S.Paulo: violência contra estudantes

Ontem (20), o fotógrafo Hélio Campos Mello publicou fotos em que registrou a invasão da PUC, onde ocorria um encontro nacional de estudantes. Em uma delas, a então reitora da instituição, Nadir Kfouri, aparece diante de Erasmo Dias, a quem se recusou a cumprimentar. “Não dou a mão a assassinos”, afirmou. “Sugiro que a homenagem ao coronel seja cancelada e que quem receba a comenda seja a reitora Nadir”, escreveu Hélio.

Indicada por dom Paulo

Convidada por dom Paulo Evaristo Arns, então cardeal-arcebispo de São Paulo, Nadir Kfouri foi a primeira mulher no mundo a comandar uma universidade católica. A educadora exerceu a função por dois mandatos, de 1976 a 1984. Ela morreu em 2011, aos 97 anos.

Por sua vez, o coronel da reserva Erasmo Dias foi secretário da Segurança de 1974 a 1979, deputado federal por uma legislatura e estadual por três mandatos, pelo PDS, partido de sustentação da ditadura, além de vereador. Ele morreu em 2010.

A publicação de Hélio Campos Mello, ex-diretor da revista Brasileiros, rendeu reações imediatas – de repúdio à tentativa de homenagem ao ex-militar e apoio à proposta de tributo a Nadir. Em um dos comentários, a jornalista Tânia Nogueira, por exemplo, lembra de quando entrou na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), três anos depois do episódio. “Na minha classe tinha uma menina cujo corpo fora quase inteiramente queimado por bombas de efeito moral nessa invasão. O rosto, felizmente, tinha se salvado. Detalhe: ela não estava na manifestação. Estava saindo da aula”, descreveu.

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