NEGACIONISMO

Recusa da vacina da Pfizer foi crime de Bolsonaro contra humanidade, diz cientista político

Em 2020, farmacêutica prometeu devolver dinheiro caso não honrasse com entrega de imunizantes

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Bolsonaro preferiu se omitir: cientista político Cláudio Couto diz que empresa tornou o risco quase inexistente para o país

São Paulo – Documentos mostram que a Pfizer prometeu ao governo Bolsonaro que reembolsaria o país se não cumprisse o fornecimentos das doses da vacina contra covid-19. Diante da omissão do governo, o cientista político Cláudio Couto afirma que apesar da falta de riscos para o Brasil, Bolsonaro recusou os imunizantes, o que configura claro crime contra humanidade.

A informação foi entregue à CPI da Covid, publicada pela TV Globo na noite do último domingo (13). Em correspondência enviada à Embaixada do Brasil nos Estados Unidos, a farmacêutica “se comprometeria a devolver ao governo brasileiro todo e qualquer pagamento antecipado, na hipótese em que a empresa não consiga honrar a obrigação de entregar a quantidade acordada da vacina”.

Couto, coordenador do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que a Pfizer tornou o risco quase inexistente para o país, mas Bolsonaro preferiu a omissão. “Não havia motivos para o Brasil não adquirir vacinas e poderia ter antecipado a atividade econômica. A quebradeira de empresas e a perda de empregos poderia ter sido menor. Porém, o governo, hoje, ainda coloca em dúvida as vacinas, então, há todas as evidências que houve o cometimento de um crime contra humanidade. O Bolsonaro deve ser levado aos tribunais internacionais”, afirmou à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.

Cláudio Couto também comentou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), deferida no último sábado (12), que manteve as quebras dos sigilos aprovadas pela CPI da Covid dos ex-ministros Eduardo Pazuello e Ernesto Araújo e de Mayra Pinheiro, secretária do Ministério da Saúde.

“É preciso saber o que essas pessoas fizeram, qual foi a rede de contato. Existe o gabinete paralelo que assessorou o presidente, então será que houve contato das pessoas do governo com os médicos negacionistas? O ministro da Saúde teve contato direto com a Capitã Cloroquina (Mayra Pinheiro)? Se houve, será a prova de que existiu uma política pública pelo bando de malucos”, disse.

Moticiata de Bolsonaro

Ainda no sábado, o presidente Jair Bolsonaro passeou de moto com milhares de apoiadores em São Paulo. A motociata foi cheia de ilegalidades, na avaliação do cientista político. Foram gastos mais de R$ 1,2 milhão com o reforço no policiamento, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública.

Além disso, Cláudio Couto diz que o evento foi para autopromoção do presidente, em período fora de campanha eleitoral, o que também é crime. “O Bolsonaro está sendo ele mesmo, se comportando do mesmo jeito como deputado. O problema é que as consequências são maiores, agora como presidente. Ele está fazendo campanha antecipada, o que é ilegal, e promovendo eventos de autopromoção com dinheiro público, o que é mais ilegal ainda. Isso precisa ser tratado com mais seriedade pelos órgãos de controle, porque é um absurdo”, criticou.

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