Vergonha internacional

Haddad: Brasil de Bolsonaro é visto pelo mundo como uma ‘aberração’

Petista afirmou que Bolsonaro é o ‘pior exemplo do mundo’ no combate à pandemia, e espera que a CPI da Covid sirva para forçar o governo a tomar medidas para salvar vidas

Marlene Bergamo / Alan Santos-PR
Marlene Bergamo / Alan Santos-PR
"É um presidente que não sai das redes sociais, não toma decisão e ofende todo mundo", disse Haddad

São Paulo – O ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato à presidência Fernando Haddad classificou o presidente Jair Bolsonaro como “campeão mundial do fracasso” e o “pior exemplo mundial” no combate à pandemia. “No mundo, o Brasil é visto hoje como uma aberração”, disse Haddad sobre o governo Bolsonaro. “Não somos vistos como um país sério”. Respondendo à provocação de Bolsonaro, Haddad afirmou que, fosse ele o presidente, o Brasil já teria adotado e superado um lockdown nacional “há muitos meses”.

Na sexta-feira (23), Bolsonaro chegou a dizer que fosse Haddad o presidente a situação da pandemia no país seria muito pior. “Imaginem esta pandemia com Haddad presidente da República. Estaríamos em um lockdown nacional. Graças a Deus, isso não aconteceu”, declarou Bolsonaro, em visita a Manaus.

Segundo Haddad, trata-se o lockdown se trata de uma medida “radical”, que deve ser “curta e certeira”. A falta de coordenação nacional no combate à doença, com a adoção de medidas restritivas “meia-boca”, é que prolonga o sofrimento das pessoas e compromete a economia.

Para ele, a CPI da Covid, que começa nesta terça-feira (27) no Senado, deve atender a dois propósitos. Além de identificar os responsáveis pelas ações e omissões no combate à pandemia, deve também servir para “constranger” o governo Bolsonaro a tomar as medidas necessárias para salvar vidas.

Balanço macabro

À beira de atingir a marca de 400 mil mortes pela covid-19, contudo, Haddad teme o surgimento de uma “terceira onda” da pandemia no Brasil, entre os meses da junho e agosto. “Está faltando insumo para a vacina. Isso se deve muito ao governo Bolsonaro. Temos novas cepas circulando, na Índia sobretudo, onde explodiram os casos. Além disso, temos o inverno chegando. Nesse sentido, o medo é que podemos de novo ter uma combinação explosiva”, afirmou Haddad a Marilu Cabañas, em entrevista ao Jornal Brasil Atual.

Além disso, ele destacou a declaração do virologista americano Charles Rice, vencedor do Nobel de Medicina em 2020, que disse que o Brasil não levou a sério a pandemia. Em entrevista ao site da BBC Brasil, o especialista afirmou que “muitos morreram desnecessariamente”, por conta da má gestão do governo federal. Da mesma forma, entre 66% e 75% das mortes pela covid-19 no país devem ser colocadas na conta do presidente, segundo Haddad.

Impeachment

Apesar da situação trágica, Haddad afirmou que a Câmara do Deputados está “muito tomada pelo bolsonarismo”, o que dificultaria o andamento de um eventual processo de impeachment. Segundo ele, Bolsonaro comprou o apoio dos parlamentares do Centrão. Graças, no entanto, ao “maior toma-lá-dá-cá da história da República”, promovido pelo presidente durante negociação para a aprovação do Orçamento.

“O fato é que Bolsonaro cometeu dezenas de crimes de responsabilidade. Todos crimes graves, previstos em lei. Não é invenção, como foi contra a Dilma. Mas não acontece nada. Temos quase 400 mil mortes, com cloroquina sendo vendida e enriquecendo seus fabricantes. Bolsonaro também combate o uso da máscara, além da leniência na contratação de vacinas. É uma situação trágica”, criticou Haddad.

Isolamento

Da mesma forma, Haddad também criticou a participação de Bolsonaro na Cúpula do Clima na semana passada. Quando chegou a vez do pronunciamento do brasileiro, o presidente norte-americano Joe Biden, anfitrião do evento, se retirou, alegando a necessidade de resolver assuntos urgentes. “Quando isso aconteceria com o Lula presidente? As pessoas faziam fila para cumprimentar o ex-presidente Lula. Era o Tony Blair, o Obama, a Merkel, a Bachelet. Hoje as pessoas fogem do Bolsonaro. É uma coisa absurda.”

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima