abandonou o barco

Em editoriais, ‘Folha’ e ‘Estadão’ retiram apoio a Moro e pedem sua renúncia

Principais jornais paulistas apontam ilegalidades cometidas por ex-juiz e atual ministro de Bolsonaro, junto com Deltan Dallagnol e alertam para consequências políticas

Jorge Araújo/Folhapress
Jorge Araújo/Folhapress
Texto publicado pelo 'Estadão' diz que Moro e Deltan Dallagnol tinham uma relação 'totalmente inadequada e talvez ilegal'

São Paulo – Defensores desde a primeira hora da Operação Lava Jato – inclusive de muitas de suas irregularidades –, os jornais Folha de S. Paulo O Estado de S.Paulo decidiram abandonar o ex-juiz Sergio Moro, em editoriais publicados nesta terça-feira (11). Os dois veículos criticam o atual ministro da Justiça e pedem sua renúncia, após a divulgação de conversas que mostram ações em conluio de Moro com procuradores da Lava Jato, em especial no processo que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão e o retirou da disputa das eleições presidenciais do ano passado.

O Estadão lembra que, por muito menos, outros ministros já foram demitidos. “Se Sergio Moro continuar a dizer que é normal o que evidentemente não é, sua permanência no governo vai se tornar insustentável. Fariam bem o ministro e os procuradores envolvidos nesse escândalo, o primeiro, se renunciasse e, os outros, se se afastassem da força-tarefa, até que tudo se elucidasse”, diz o editorial.

O jornal ainda afirma que os efeitos políticos da divulgação dessas conversas serão graves e que as respostas dadas, tanto por Moro quanto pelo Ministério Público Federal (MPF), fortalecem a veracidade do material divulgado. Eles ainda criticam a forma com que a Lava Jato lida com as críticas, ao sempre atribuí-las a “alguma iniciativa mal-intencionada para minar a luta contra a corrupção”.

“Tanto o ministro Moro como os procuradores da Lava Jato não enxergam em sua relação bastante amistosa e às vezes colaborativa algo que fere um dos princípios mais comezinhos do Estado de Direito, aquele que presume simetria entre acusação e defesa no tribunal”, acrescenta o Estado.

Já a Folha afirma que não se surpreende com a revelação feita pelo The Intercept Brasil e chama a relação do magistrado com os procuradores de “promíscua”. “Com alguma frequência, foi flagrada também a praticar heterodoxias processuais e a patrocinar invectivas que ameaçam direitos fundamentais de quem é perseguido por um braço do Estado (…) Não é forçando limites da lei que se debela a corrupção. Quando o devido processo não é estritamente seguido, só a delinquência vence”, afirma o jornal.

Em quatro reportagens publicadas no domingo (9), o Intercept aponta diversas irregularidades, como a adoção de estratégias, por parte dos procuradores, para manter o processo do ex-presidente Lula com eles. Pela lei, procuradores não podem conduzir investigações para manter os processos em suas mãos pois isso violaria o princípio do promotor natural.

Diversos juristas e advogados exigiram o afastamento imediato de Dallagnol e Moro de suas respectivas funções. Só nesta segunda-feira (10), mais de 320 profissionais de Direito assinaram manifesto em razão do escândalo.