Execução

‘Quem mandou matar Marielle?’ Bancada do Psol quer CPI das Milícias

Prisão de dois suspeitos dos assassinatos da vereadora e do motorista Anderson Gomes é passo importante, mas insuficiente diante da demora de quase um ano para a elucidação do caso

Marielle Franco/Reprodução

Crime contra a democracia: parlamentares cobraram resolução ‘imediata’ sobre causa e mandante da morte de Marielle

São Paulo – O deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) classificou como “inaceitável” a demora de quase um ano até que dois suspeitos fossem presos pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes na manhã desta terça-feira (12). Segundo ele, o caso é “um crime contra a democracia” e, junto com a bancada do Psol, cobrou agora a elucidação sobre o mando da execução e os interesses envolvidos na morte da parlamentar.

“Hoje foi apenas o primeiro passo. Quem matou Marielle não foi apenas quem apertou o gatilho. Quem matou foi quem desejou e planejou a sua morte, foi quem contratou, quem politicamente desejou eliminá-la. É muito importante para o país saber quem mandou, qual o objetivo político e qual a motivação para matar Marielle. Este é um crime contra a democracia. Se nós não descobrirmos a razão (do crime), a gente não tem democracia nesse país”, afirmou Freixo, em entrevista coletiva na Câmara dos Deputados, em Brasília. A morte de Marielle completa um ano na próxima quinta-feira (14).

O Psol vai propor a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar, agora em âmbito federal, a atuação das milícias no Rio de Janeiro. Em 2008, Freixo presidiu CPI que investigou a atuação desses grupos quando era deputado estadual. Marielle, então, era uma das suas assessoras. 

“Concluímos a CPI das milícias dizendo que crime, polícia e política não se separam mais no Rio de Janeiro. Essa é uma estrutura de máfia que vai custar caro se a gente não tomar todas as medidas. É projeto de poder, a milícia não é Estado paralelo, é Estado leiloado. A milícia frequenta palácios, tem estrutura de máfia e se articula com o que há de mais violento”, declarou o parlamentar. 

A deputada Talíria Petrone (Psol-RJ) cobrou também a responsabilização dos mandantes do crime contra Marielle, que chamou de “execução explicitamente política”. “Para nós, é um passo muito importante sabermos quem apertou o gatilho, mas também é insuficiente. Já faz um ano. É fundamental que o Estado brasileiro nos dê a resposta sobre quem mandou executar Marielle Franco e Anderson.”

Ela destacou que Marielle foi morta no país que ocupa o quinto lugar no ranking mundial de feminicídio. Negra e de esquerda, moradora da favela,  morta num país extremamente desigual em que a atuação do poder público nas favelas é quase sempre militar. “Algum motivo teve para tentar silenciar essa representante do povo e a solução e a responsabilização por esse crime é fundamental para reestabelecer a democracia”.

Bolsonaro

Freixo preferiu não fazer “ilações” sobre eventual relação dos dois suspeitos presos com a família do presidente Jair Bolsonaro (PSL). “Sabemos que existem fotos recentes dos dois, sabemos que eram vizinhos.” Ele preferiu não comentar tais coincidências, mas afirmou que, há mais de dez anos, enquanto comandava a CPI das milícias, Bolsonaro, então deputado federal, propunha a legalização dos grupos milicianos

“Quem até hoje sustentou as milícias, dialogou com grupos violentos e tentou fazer base eleitoral e locais dominados pelo crime deve explicação à sociedade”, criticou Freixo. Ele também lamentou que o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PSL), quando era deputado estadual, tenha sido o parlamentar da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro a não participar das homenagens póstumas a Marielle.

Anistia Internacional

A Anistia Internacional Brasil também cobrou que sejam responsabilizados não só os autores, mas os mandantes dos assassinatos de Marielle e Anderson. A ONG defende que seja designada “uma equipe externa e independente de especialistas para monitorar a investigação e examinar quaisquer alegações de negligência, irregularidades ou interferência indevida”.

Com um “labirinto” na Cinelândia, região central do Rio de Janeiro, a entidade cobrou que sejam que sejam dadas as devidas respostas às muitas perguntas que envolvem o caso. A Anistia também quer que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) receba familiares de Marielle e representantes da entidade em audiência formal que foi prometida por ele um mês atrás e ainda não foi realizada. 

Leia também

Últimas notícias