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‘O golpe que se quer dar é contra a ascensão dos mais pobres’, diz estudante

Trabalhadores e estudantes lotam Avenida Paulista em defesa da democracia e da legalidade. “No Nordeste vivíamos sem luz e sem água. A vida melhorou 100% com Lula”, diz catadora

"Os programas do Lula foram muito importantes para nós. O Bolsa Família salvou a vida de muita gente", diz catadora <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>"O impeachment é um golpe que abre precedente para se fazer qualquer coisa neste país", diz o professor José Roberto Zan <span></span>"A classe média quer manter seus privilégios. É contra os direitos sociais e os avanços que tivemos", diz o estudante Cícero Augusto <span></span>No início da noite, os organizadores do ato calculavam 300 mil pessoas na Paulista <span></span>

São Paulo – A Avenida Paulista, em São Paulo, reuniu 500 mil pessoas nesta sexta-feira (18) num ato em defesa da democracia, da legalidade e contra o golpe, segundo os organizadores. Eram professores, aposentados, catadores de material reciclável, artesões e estudantes que diariamente constroem o país com trabalho e participação política.

“O golpe que se quer dar não é contra a corrupção. É mais que o PT, o Lula ou a Dilma. É contra os direitos sociais, a liberdade e a ascensão dos mais pobres”, disse o estudante de física do Instituto Federal de Itapetininga Cícero Augusto, de 18 anos. “A classe média quer manter seus privilégios. É contra os direitos sociais e os avanços que tivemos nesses anos. Somos alunos de escola pública e estudamos em um instituto federal, para sermos professores. Há algum tempo isso era impensável.”

A alguns metros dele, uma família de professores da rede pública, vinda de Campinas, também engrossava o coro contra o golpe. “Estamos aqui porque somos contra a ameaça à democracia. A crise política e econômica precisa ser resolvida, mas respeitando as leis. Pela legalidade”, diz a professora Dirce Zan, de 46 anos. “Se há indícios de algo errado, o Lula deve ser investigado como qualquer brasileiro. Só que se deve respeitar a ele e às leis, como com qualquer um. E com a Dilma também. Hoje não há nada que justifique o impeachment. Ela tá sendo acusada injustamente.”

“Estão atacando a democracia com agressões nas ruas, movimentos fascistas que se dizem contra a corrupção, grampos e prisões ilegais, linchamento midiático. O impeachment é um golpe que vai ser dado por um grupo de parlamentares que se sabe que são corruptos, como o Eduardo Cunha (presidente da Câmara dos Deputados). Isso sim é um atentado à democracia. É vai abrir precedente para se fazer qualquer coisa neste país”, disse o professor José Roberto Zan, de 60 anos. “Não existe nação se todos não puderem participar da vida pública, ter acesso ao consumo, à educação. E essa é a marca do tempo do Lula: inclusão social, acesso à universidade.”

A catadora de materiais recicláveis Dalva de Oliveira, de 53 anos, concordou. “Temos de agradecer o Lula por tudo de bom que ele fez. Melhorou muito a vida das pessoas no tempo dele. No Nordeste nós vivíamos sem luz, com água de poço. A vida melhorou 100%”, conta Dalva, que nasceu na Bahia e migrou para o Paraná ainda criança para trabalhar na roça com pai.

Há 14 anos ela vive na cidade paulista de Votorantim. “Os programas do Lula foram muito importantes para nós. O Bolsa Família salvou a vida de muita gente. Hoje a gente pode comer melhor, não é só o que sobra”, continuou. “O catador antes era massacrado. Ninguém nos respeitava. Mas o Lula foi na cooperativa, comeu com a gente, ouviu. E abriu possibilidades pra gente viver bem com a reciclagem.”

“Defendi Getúlio em 54 e Jango na década de 60. Lutei pelas Diretas. A democracia nunca conseguiu passar de 30 anos. Por que um golpe agora?”, questionou o aposentado lavo Franco da Rocha, de 82 anos, para o jornal Brasil De Fato. “Nós não podemos ficar à mercê de uma TV manipuladora que quer sequestrar o Brasil”, disse a artesã Marina, de 60 anos.

Com reportagem de Rodrigo Gomes