Estranhamento

Se Lava Jato parar no PT, é ‘escândalo’, diz Vannuchi

Analista da Rádio Brasil Atual comenta decisão de PF de não aceitar mais novos acordos de delação premiada. E a relação entre as delações e a Declaração dos Direitos Humanos

Tânia Rêgo/Agência Brasil

Começo do fim da Lava Jato escancara politização da operação que representa “risco à democracia”

São Paulo – Caso se confirme a informação de que a Polícia Federal não deverá mais aceitar novos acordos de delação premiada na Operação Lava Jato, conforme divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo, fica mais evidente o seu caráter político, avalia o cientista político Paulo Vannuchi em comentário à Rádio Brasil Atual. Se parar, é um escândalo”.

“Estranhíssimo”, diz o analista, que lembra que a reportagem sugerindo o começo do fim da Lava Jato foi divulgada apenas dois dias após as eleições municipais, apontando que a operação teria atingido os seus objetivos, após os danos eleitorais verificados contra o PT. Ele ressalta também as declarações do ex-advogado-geral da União Fábio Medina Osório, que após sua demissão afirmou que o governo quer abafar a Lava Jato.

“Se for isso, a democracia brasileira corre seríssimos riscos”, afirma Vannuchi, que sinaliza que seria este um sinal de que os procuradores e policiais de Curitiba não estariam interessados, por exemplo, em eventual acordo de delação premiada do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que poderia abalar as estruturas do governo Temer.

Vannuchi destaca a falta de isonomia na condução da operação, e diz que a população também deve cobrar o prosseguimento das investigações de combate à corrupção. Após 66 acordos firmados, os policiais afirmam agora que o “uso indiscriminado” da delação premiada poderia levantar suspeitas sobre a sua licitude. Para o analista, bastariam seis casos para constatar os abusos cometidos.

Integrante da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), ele observa que a utilização de prisões temporárias para forçar delações poderia ser incluída como infração ao artigo 5º da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, que proíbe tratamento desumano e degradante.

Ele afirma também que a Constituição garante a todos o direito ao devido processo legal e que os casos sejam submetidos a um juiz imparcial. “É muito difícil dizer que Moro é imparcial em relação ao Lula”, provoca Vannuchi, e também cita o caso do procurador Deltan Dallagnol, que fez “pirotecnia” durante apresentação de denúncia contra o ex-presidente e também foi flagrado fazendo pregação política em templo religioso. Como membros do Ministério Público, os procuradores também estariam submetidos ao Código de Ética da Magistratura, que coíbe manifestações políticas.

O comentário de Paulo Vannuchi ai ao ar às segundas e quartas-feiras, às 8h no 98,9 FM. Ouça