Arbitrariedade

Moro revoga prisão de Mantega; para advogado, foi ‘sequestro’

Juiz da Vara de Curitiba alegou desconhecer estado de saúde da mulher do ex-ministro e afirmou estarem 'esvaziados riscos de interferência da colheita das provas nesse momento'

Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress

Como de costume nas ações sigilosas da Lava Jato, jornais estavam com a notícia pronta no momento da prisão

São Paulo – O juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, revogou a “prisão preventiva” de Guido Mantega cinco horas depois de o ex-ministro da Fazendo ter sido detido hoje (22) pela Polícia Federal no momento em que acompanhava a mulher, com câncer, em cirurgia no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Moro alegou desconhecer o problema familiar de Mantega: “Tal fato era desconhecido da autoridade policial, Ministério Público Federal e deste Juízo”.

A prisão havia sido pedida pela Procuradoria da República sob alegação de “riscos à ordem pública” e de destruição de provas. Em seu despacho, emitido às 12h20, o juiz reviu essa interpretação, afirmando estarem “esvaziados os riscos de interferência da colheita das provas nesse momento”.

O advogado José Roberto Batochio, que defende o ex-ministro, disse que a prisão foi absolutamente desnecessária. “As liberdades públicas e individuais estão sequestradas no Brasil e o cativeiro delas é no estado do Paraná, em Curitiba”, afirmou. Segundo ele, os policiais estiveram às 6h no apartamento de Mantega, em Pinheiros, zona oeste da capital paulista, mas encontraram apenas o filho adolescente e a empregada. Batochio orientou, por telefone, que Mantega deixasse o centro cirúrgico e descesse ao saguão. “Eu disse: é melhor sair daí, senão vai gerar um tumulto”, contou. O ex-ministro recebeu voz de prisão quando já estava no saguão.

A defesa de Mantega negou as acusações do empresário Eike Batista de que Guido Mantega, à época presidente do Conselho de Administração da Petrobras, teria pedido R$ 5 milhões para o PT, para pagamento de uma dívida de campanha de 2010. “Ele (Eike) propôs delação contra alguém de visibilidade, que fosse importante, para que o delatado fosse preso e não ele”, disse o advogado. “O ministro tem, por obrigação, uma agenda pública, em permanente contato e diálogo com toda a cadeia produtiva brasileira, no sentido de discutir políticas públicas em todos os setores. O ministro da Fazenda é obrigado a conversar com todos os empresários, mas jamais tratou de doação de qualquer valor”, reiterou.

Em entrevista à Rádio Povo Ceará, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou respeito ao ex-ministro. “O Guido é um homem que foi ministro da Fazenda, tem residência fixa, portanto as pessoas deveriam tratá-lo como o ser humano deve ser tratado. Eu não sou de acreditar nas delações. (…) O que é preciso é que as pessoas não sejam julgadas pelas manchetes de jornais antes de se apurar se houve crime ou não. Porque se a pessoa for condenada pela manchete, ela pode ser inocentada depois, mas ela estará condenada publicamente”, declarou.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que a prisão do ex-ministro Guido Mantega é “arbitrária, desumana e desnecessária”. De acordo com ele, a 34ª fase da Operação Lava Jato, denominada Arquivo X, deveria se chamar “Operação Boca de Urna”, uma vez que acontece às vésperas das eleições municipais. Falcão lembrou que Mantega é ex-ministro, tem endereço fixo e nunca se negou a dar esclarecimentos, sendo assim midiática a prisão em um hospital.

Na opinião do presidente do PT, há também um “excesso de coincidências” nas ações da Lava Jato. Além da proximidade das eleições para a deflagração da nova fase, ele citou o fato de o juiz Sérgio Moro ter recebido a denúncia contra o ex-presidente Lula na terça-feira (20), no mesmo dia em que Lula realizava uma teleconferência no lançamento da campanha Stand With Lula (“Estamos com Lula”) organizada pela Confederação Sindical Internacional (CSI) em Nova York.

Com informações da Agência Brasil