Análise

Petistas atribuem freio da economia de SP a modelo tucano de governo

Marcio Pochmann e Artur Henrique criticam gestão econômica do estado nos últimos 20 anos: 'Ideal de São Paulo como locomotiva do país acabou'. E também veem falhas em 13 anos de governos petistas

CC PortoBay / Wikimedia

Participação de São Paulo no PIB caiu de 37% para 28% desde 1995. No plano federal, faltaram reformas estruturais

São Paulo – Dirigentes e militantes do PT se reuniram na noite de ontem (4), em São Paulo, para debater conjuntura e estratégias políticas para 2016. Um dos temas analisados foi o “freio” sobre na economia do estado de São Paulo, governado pelo PSDB há mais de 20 anos. O estado que já foi a “locomotiva” do Brasil e contribuía com 37,3% do PIB brasileiro em 1995, segundo dados da Fundação Seade, reduziu sua participação hoje a cerca de 28%.

O secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo da prefeitura de São Paulo, Artur Henrique, observou que o estado de Santa Catarina ultrapassou São Paulo no ranking de maior exportador brasileiro de roupas entre janeiro e setembro de 2015 – com US$ 29,1 milhões, ante US$ 28,3 milhões dos paulistas, informou, citando matéria do jornal Valor Econômico e dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex)

Para o secretário, chegou ao fim “o ideal de São Paulo como locomotiva do país” e a falta de integração da administração estadual com o governo federal é um dos motivos para essa situação.

O economista Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia da Unicamp e presidente da Fundação Perseu Abramo, lembrou que São Paulo há anos proporciona a concentração de poder em setores como o agronegócio e os mercados especulativos e financeiros, que empregam pouco. “É um caldo político-econômico para lá de complexo.”

Há uma dissociação entre diagnóstico econômico e conformação política. Para Pochmann, no caso do estado de São Paulo, a classe média com visão progressista e eleitora do PT a partir dos anos 1980, ligada aos setores produtivos de bens materiais “palpáveis’ (como a indústria), minguou diante da ascensão do setor de serviços. Segundo ele, nesse cenário, a realidade hoje é mais hostil aos sindicatos e a partidos de centro-esquerda: “Há uma classe média proprietária, a dos PJs (pessoas jurídicas), que encara a esquerda como ameaça”.

Ainda assim, avalia o economista, a crise atual não é motivada apenas por questões políticas conjunturais, mas também pela estrutura da economia do país, particularmente a paulista. Segundo ele, atualmente se desenvolve a transição de uma sociedade industrial para uma sociedade de serviços.

Nesse ambiente politicamente desagregador, a sobrevivência da esquerda como opção de poder (incluindo o movimento sindical e o PT) depende da mobilização da classe trabalhadora. “Se não se conseguir isso, ficamos à mercê do agronegócio, do capital especulativo e da classe média proprietária, predominantes em São Paulo”, disse.

A responsabilidade da visão tucana de governo pela perda de importância do estado na economia brasileira é evidente. Isso não isenta, no entanto, na visão de Pochmann, os governos federais petistas da falha de não ter colocado em prática reformas estruturais, como a tributária e a política – capazes de produzir novos impactos no plano nacional, mas também nos âmbitos regionais. “Depois de 13 anos, qual reforma fizemos?”

Entretanto, a oposição representada pelo PSDB e assemelhados, segundo ele, está sem rumo. “O lado tucano não tem direção. Qual é a solução deles? Talvez voltar aos anos 1990, o que também não agrada a parte das elites. Mas e o nosso? Qual é o nosso projeto?”, questionou.

O economista observou ainda que os governos petistas falharam na organização dos mais pobres, apesar dos benefícios resultantes de programas sociais como o Bolsa Família. “É um programa excepcional, produziu resultados de inserção pelo consumo, mas os mais pobres não trouxeram valores em sua ascensão e não se tornaram atores políticos.”