Bastidores

PMDB trava briga interna em disputa por cargos do segundo escalão

Alvos das últimas reuniões foram diretorias da Anac, Secretaria Nacional dos Portos e Companhia Docas do Pará. Por trás estariam afilhados de Temer, Cunha e Calheiros

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Cunha, Temer e Renan lideram três grupos de um partido que padece de falta de identidade programática

Brasília – Em meio a protestos e tensões por conta da crise política instalada no país o PMDB vinha travando uma briga interna pela indicação de cargos no segundo escalão do governo, mais precisamente na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), no Ministério da Pesca e na Secretaria Nacional de Portos. Os envolvidos são o senador Eunício Oliveira (CE), atual líder da legenda no Senado, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), e o atual Secretário de Assuntos Estratégicos, Eliseu Padilha. Mas por trás dos três estão, respectivamente, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e o vice-presidente Michel Temer.

São essas a as três alas mais visíveis do PMDB: a que atua em grupo, mais observada no Senado; a que busca soluções dentro da base aliada, mais ligada à vice-presidência; e a que carrega uma bandeira mais personalista, inclusive na busca por cargos, liderada por Eduardo Cunha. Não se sabe como ficará a situação dessas articulações depois que foi deflagrada a Operação Politeia, da Polícia Federal, e das investidas dos presidentes do Senado e da Câmara nos últimos dias – inclusive as ameaças de Cunha de romper com o governo.

Mas informações sobre a definição de nomes e iniciativas para emplacar apadrinhados pelos peemedebistas foram confirmadas por quatro parlamentares que participaram das últimas reuniões para preenchimentos de cargos nos três órgãos, realizadas tanto em gabinetes do Senado, nas últimas semanas, como também na vice-presidência, no final de junho.

Esse era o cenário desenhado antes do acirramento da crise política até o dia de ontem (16), antes de o noticiário espalhar a denúncia do consultor Júlio Camargo, de que Cunha teria exigido dele US$ 5 milhões em propina. De manhã, em evento que reuniu jornalistas, Eduardo Cunha já dizia não considerar o PMDB governo, pois embora ocupe seis ministérios não consegue emplacar nomes no segundo escalão. No fim do dia, o presidente da Câmara bradava o rompimento com o governo do qual, na prática, nunca foi um aliado efetivo, ao contrário.

Cobiças

Na Anac, já está decidida a indicação do genro de Eunício Oliveira, o advogado Ricardo Fenelon das Neves, que precisa ser aprovada pelo Senado. O relatório sobre a indicação estava para ser incluído na pauta da Comissão de Infraestrutura da Casa nesta semana, a pedido do senador cearense, mas a apreciação do documento terminou sendo adiada.

O nome do advogado tem sido criticado, conforme afirmaram pessoas ligadas à Anac, porque uma norma do órgão estabelece um mínimo de dez anos de experiência em área relacionada à aviação civil e ele é formado há apenas três anos, além de ter tido como única experiência junto ao setor um período em que foi estagiário da agência. O advogado casou-se recentemente com a filha de Eunício Oliveira, em evento concorrido em Brasília que, inclusive, contou com a presença da presidenta Dilma Rousseff.

Em relação à Secretaria dos Portos, a disputa se dá entre o líder Leonardo Picciani e o atual secretário, Edinho Araújo. Picciani vinha recolhendo documentos para pressionar o Palácio do Planalto pela substituição de Araújo, conforme conversas de bastidores, mas o secretário tem como padrinho o vice-presidente Michel Temer. Segundo um deputado peemedebista, a estratégia teria por trás Eduardo Cunha, numa forma de levar Temer a negociar a indicação de outros cargos que estão sendo pleiteados por integrantes do PMDB, desde o início do ano, e até agora não saíram.

Por outro lado, é notória a rivalidade entre Eduardo Cunha e o ministro da Pesca, Hélder Barbalho (PA). Na verdade, a animosidade é entre Cunha e o pai de Hélder, o senador Jáder Barbalho (PA). O presidente da Câmara trabalhava para emplacar na presidência da Companhia Docas do Pará o deputado José Priante (PA), que inclusive tem bom relacionamento com os Barbalho. Só que Helder pretende indicar o próprio pai para o cargo e, de acordo com alguns parlamentares paraenses, conta para isso com uma força do vice-presidente, que também tem simpatia para que o senador ocupe a cadeira.

‘E agora?’

Em meio a tanta confusão, as articulações de bastidores ficaram suspensas, nesta quinta-feira, diante de declarações bombásticas de Eduardo Cunha de que “a aliança do PT com o PMDB já acabou” e que “o partido ainda está na base aliada porque tem responsabilidade com a governabilidade”. “E agora? eles têm que definir o que querem de fato”, ironizou um petista, diante dos comentários sobre quem assumirá estes cargos – em pleno andamento.

Muitos acreditam que a chegada do período de recesso do Congresso ajudará a amainar um pouco esse clima, embora as indicações continuem sendo vistas como um dos trunfos dos parlamentares para aceitar votar matérias de interesse do Planalto a partir do segundo semestre.

Enquanto isso, o senador Eunício Oliveira, único que teve a especulação em torno do seu nome realmente comprovada com a indicação do genro, negou que tenha participado de qualquer reunião. Mas até o presidente da comissão de infraestrutura, senador Garibaldi Alves (DEM-RN), e um dos integrantes da comissão, Ronaldo Caiado (DEM-GO), já confirmaram que receberam pedidos do líder peemedebista para apressar a votação do relatório que indica Ricardo Fenelon à Anac.