Em programas de governo, Serra e Haddad ressaltam parcerias

RBA comparou algumas propostas dos planos de governos de PT e PSDB para a prefeitura de São Paulo em saúde, educação, transporte e desenvolvimento urbano

São Paulo – Após o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, ter lançado seu programa de governo na última segunda-feira (15), finalmente o eleitor da capital poderá comparar os planos que disputarão nas urnas o segundo turno das eleições na capital. As ideias do tucano foram estruturadas e apresentadas à sociedade a 13 dias do pleito. As propostas de Fernando Haddad (PT) vieram a público em meados de agosto.

No evento que anunciou suas propostas para São Paulo, realizado no Cine Livraria Cultura, na Avenida Paulista, José Serra incumbiu o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) de fazer uma leitura crítica e apresentar as fragilidades do programa petista, que o parlamentar classificou como suprassumo do lugar comum. “É um oceano que se atravessa com água pelas canelas”, desdenhou, antes de ironizar as propostas de Fernando Haddad sobre ocupação do solo e saúde. O candidato tucano viria em seguida para desancar as ideias do rival sem, no entanto, detalhar as suas.

A reportagem da RBA comparou algumas propostas de PT e PSDB para a prefeitura de São Paulo. Devido à complexidade dos assuntos, foram escolhidos apenas quatro temas: transporte público, saúde, educação e desenvolvimento urbano. Dentro deles, destacam-se pontos como corredores de ônibus, expansão da rede metroviária, preço das passagens, construção de hospitais e unidades de saúde, ensino infantil, creches, Centros Educacionais Unificados (CEU), descentralização de empregos e requalificação de bairros degradados ou indevidamente ocupados.

O programa de governo de Fernando Haddad tem 120 páginas. Foi coordenado por José de Filippi e Vicente Cândido da Silva, além de contar com a colaboração de coordenadores especialistas em cada área temática. O plano de José Serra foi elaborado sob a liderança de Hubert Alquéres e tem 70 páginas. De acordo com seus idealizadores, ambos foram construídos a partir de reuniões públicas com acadêmicos, movimentos sociais, lideranças de bairro, partidos e parlamentares. O documento do PSDB cita nominalmente centenas de colaboradores.

Em seu programa, a candidatura José Serra cita inúmeras vezes a parceria que pretende estabelecer com o governo do estado, atualmente ocupado por seu correligionário e aliado, Geraldo Alckmin. As propostas de Fernando Haddad enfatizam os programas federais, uma vez que o Planalto é ocupado pela presidenta Dilma Rousseff, do PT, que apoia abertamente sua eleição como prefeito de São Paulo. No entanto, Haddad também admite estabelecer parcerias com a administração estadual em várias áreas, como transporte e educação. Serra cita o governo federal algumas vezes, entre elas para dizer que a União arrecada R$ 147 bilhões de São Paulo e devolve apenas R$ 2 bilhões em forma de investimento.

Transporte

A grande diferença entre os programas de PT e PSDB em termos de transporte e mobilidade urbana talvez esteja no Bilhete Único. Fernando Haddad pretende criar o chamado Bilhete Único semanal e mensal, além de manter o diário, idealizado pela prefeita Marta Suplicy (PT) e ampliado pelo governo do estado – então ocupado por José Serra – para fazer integração com metrô e trens metropolitanos, além dos ônibus municipais. A ideia do candidato petista é cobrar um valor fixo por mês ou por semana para que o cidadão utilize a rede de transporte público à vontade, como ocorre nas principais capitais europeias.

Em outros aspectos, e apesar de serem expostas de maneira distinta, algumas propostas petistas e tucanas se assemelham bastante. Ambos candidatos planejam, por exemplo, expandir a rede de trens e metrô na cidade de São Paulo. Se eleito, José Serra promete terminar seu mandato, em 2016, deixando para a capital uma malha metroviária de 120 km de extensão. Parte das estações citadas em seu programa, porém, já estão sendo construídas pelo governo do estado, como é o caso das linhas 4 Amarela e 5 Lilás do metrô, além dos monotrilhos, com aporte financeiro da prefeitura.

A parceria com o Palácio dos Bandeirantes para viabilizar o transporte sobre trilhos em São Paulo também é citada no plano de Fernando Haddad. Porém, à diferença do tucano, o petista pretende trazer ainda dinheiro federal para construir novas linhas e estações. O candidato promete levar o metrô para os bairros de Pirituba e Lapa e para a região da Avenida Cerro Corá, na zona oeste, além do Jardim Ângela, na zona sul. Esta semana, a bancada ligada ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) na Assembleia Legislativa barrou as emendas propostas por deputados do PT para levar a Linha 5 até o bairro.

Tanto Serra como Haddad pretendem expandir os corredores de ônibus na cidade. O programa tucano, porém, não traz números. Já o PT promete construir 150 quilômetros de novas faixas exclusivas para o transporte público, além de outros 150 quilômetros de faixas preferenciais para os coletivos. A zona leste seria a principal beneficiada pela política de mobilidade de Fernando Haddad, com a construção de corredores nas avenidas Celso Garcia, Ragueb Chohfi, Radial Leste, Aricanduva e Jacú Pêssego. Serra promete obras semelhantes na Radial Leste, Aricanduva e Itaquera, na zona leste, e Luís Carlos Berrini, Binário Santo Amaro e Capão Redondo, na zona sul.

Educação

Os Centros de Educação Unificada (CEU) mereceram atenção especial nos planos de governo dos candidatos que disputam o segundo turno das eleições em São Paulo. José Serra promete basicamente três medidas para as unidades criadas na gestão Marta Suplicy e expandidas durante o governo Gilberto Kassab (PSD): levar ensino técnico e profissionalizante a todos os 46 CEUs da cidade no período noturno; ampliar as atividades culturais através do programa CEU É Show; e implantar centros de línguas em todas as unidades para ensinar idiomas estrangeiros à comunidade.

Fernando Haddad quer construir 20 novos CEUs, mas retomando os conceitos originais do projeto. O candidato petista faria isso ao incorporar pais e alunos ao processo educacional; articular as secretarias da Educação, Cultura, Esporte e Trabalho na administração e definição de atividades em cada unidade; e aumentar o tempo de permanência do estudante na escola, inclusive com atitudes culturais e de lazer. Haddad também prevê que alunos e professores vinculados a escolas que se encontrem no entorno dos CEUs possam utilizar suas instalações para atividades pedagógicas.

A educação infantil também está na pauta de ambos candidatos – e ambos prometem universalizar o atendimento às crianças na faixa dos 4 e 5 anos de idade. Fernando Haddad tem a proposta de unificar progressivamente os Centros de Educação Infantil com as Escolas Municipais de Educação Infantil, ou seja, juntar num mesmo local as creches com o ensino primário. O petista prevê ainda a construção de 172 novas creches com recursos do Programa Pró-Infância do governo federal.

José Serra também promete ampliar as vagas em creches, seja em unidades administradas diretamente pela prefeitura, seja em instituições privadas conveniadas com o governo municipal – porém não oferece metas. Uma estratégia do tucano para reduzir o déficit de vagas no setor é instalar creches nas estações de trens e metrôs da cidade, aproveitando a estrutura física disponível. O candidato do PSDB também propõe um auxílio financeiro para mães de famílias carentes que estão esperando vagas para seus filhos nas creches da prefeitura – a chamada bolsa-creche.

Saúde

A saúde vem sendo definida tanto por José Serra como por Fernando Haddad como o principal problema de São Paulo. No entanto, o plano de governo do PT dedica muito mais atenção ao tema do que o documento tucano. A equipe petista não anuncia apenas a construção de novos hospitais, postos e ambulatórios, mas também explica como passará a estruturar a gestão do sistema de saúde na cidade, com ênfase no controle social. Quanto às obras, estão devidamente separadas em atenção básica, de urgência, especializada e hospitalar, cada uma com metas a serem perseguidas pelo governo municipal com apoio das esferas federal e estadual.

Fernando Haddad promete construir os três hospitais prometidos – mas não entregues – pela gestão de Gilberto Kassab, com a meta de oferecer mil novos leitos na capital. A prioridade do PT é a região sul, que deve receber metade das novas vagas hospitalares. O governo petista também prevê reabrir o Hospital Sorocabana para internações, impedindo a perda de 156 leitos atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), além de rejeitar a concessão de 25% das vagas em hospitais municipais para planos de saúde privados. O plano de Fernando Haddad aposta ainda pela municipalização de nove hospitais gerais que estão sob controle do governo estadual.

José Serra promete a construção de quatro novos hospitais, mas não diz que três deles já foram prometidos pelo seu sucessor e aliado na prefeitura. O tucano enfatiza seu projeto de colocar as 30 unidades de Atendimento Médico Ambulatorial (AMA) para funcionar 24 horas por dia, além de criar 20 novas AMA Especialidades e sete novos Ambulatórios Médicos de Especialidades (AME) na cidade, em parceria com o governo do estado. Outra bandeira do PSDB na área da saúde é a expansão do Programa Mãe Paulistana, que garante atenção integral à gestante e ao recém-nascido. A ideia é ampliar o período de acompanhamento dos bebês até os 3 anos e o monitoramento telefônico da evolução do quadro de saúde para  todas as mães cadastradas.

Fernando Haddad não cita AMAs ou AMEs em seu plano de governo, mas propõe a chamada Rede Hora Certa, que visa instalar ambulatórios de especialidades, laboratórios de exame de imagens e serviços permanentes de cirurgia ambulatorial em cada uma das 31 subprefeituras de São Paulo. De acordo com o candidato do PT, essas medidas reduziriam o tempo de espera no atendimento, principalmente em alguns casos específicos, como laqueadura, catarata, vasectomia e artroscopia, entre outros. Quanto às emergências, o programa de Haddad promete reformar os pronto-socorros existentes (18 hospitalares, 12 isolados e 4 pronto-atendimentos) com o apoio dos recursos federais.

Desenvolvimento Urbano

O programa de governo de Fernando Haddad propõe um novo modelo de desenvolvimento urbano para a cidade de São Paulo, chamado de Arco do Futuro. A ideia do PT é romper com o planejamento urbanístico que, no século 20, pensou a capital como um centro pujante ligado às demais regiões do município por grandes avenidas. Devido ao tamanho da cidade e de sua população, a candidatura de Haddad entende que esse conceito tornou-se insustentável – o que gera transtornos à população, sobretudo devido ao trânsito. Daí nasce a proposta de descentralizar São Paulo, oferecendo incentivos fiscais para empresas que desejem voltar à capital e para novos empreendimentos que gerem empregos nas regiões periféricas.

O Arco projetado pelos petistas começa com a Avenida Cupecê, na zona sul, compreende as marginais Pinheiros e Tietê, e por esta caminha até a Avenida Jacu-Pêssego, na zona leste. Na redondeza destas regiões, que em grande parte, segundo o programa do PT, estão subocupadas, Fernando Haddad pretende estimular a criação de oportunidades, evitando assim que quem more nas regiões periféricas tenha que se deslocar diariamente ao centro expandido para trabalhar, estudar e se divertir. A proposta que viabilizará o Arco do Futuro pretende contemplar os bairros mais afastados com opções culturais, educacionais e de lazer, para criar uma cidade policêntrica – ao contrário do que existe hoje.

Enquanto para a campanha de Fernando Haddad o desenvolvimento urbano ocupa papel de destaque, sendo o primeiro tópico de seu programa de governo, José Serra dedica espaço bem mais tímido ao tema. E o faz baseando o planejamento da cidade nas chamadas operações urbanas, instrumentos viabilizados pelo Plano Diretor Estratégico aprovado em 2002 durante a gestão Marta Suplicy. O tucano cita operações urbanas que já estão em fase de projeto ou implantação, como a Água Branca, a Águas Espraiadas e a Faria Lima. Além destas, José Serra pretende levar a cabo as operações urbanas Mooca-Vila Carioca, Lapa-Brás e Rio Verde-Jacu Pêssego.

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