América Latina

Presidente do Equador ameaça renunciar caso assembleia despenalize aborto

Rafael Correa criticou decisão de deputados governistas de propor discussão do tema contra a vontade da bancada e disse que pretende 'defender a vida'

Martin Alipaz/EFE

O presidente afirma que a história saberá julgá-lo caso renuncie em protesto contra medida

São Paulo – O presidente do Equador, Rafael Correa, classificou como “traição” a iniciativa de parlamentares de seu partido, o Aliança País, de discutir a despenalização do aborto.  Além de enfatizar que não aprovará a medida, Correa anunciou a possibilidade de renunciar ao cargo por conta da situação. “A Constituição diz que devemos defender a vida desde seu início”, disse o presidente em uma entrevista exclusiva ao canal nacional Oromar na noite de ontem (10). “Falamos muito claro: qualquer coisa que sai dessa linha, simplesmente é traição e parece que é isso que está acontencendo na Assembleia Nacional”, afirmou ele.

Atualmente, o parlamento equatoriano discute a aprovação de um novo código penal que pretende incluir novos delitos, como o “feminicídio”. Alguns congressistas do bloco de Correa não seguiram o programa partidário e sugeriram também despenalizar o aborto, o que causou grande insatisfação do presidente.

“Se o grupo de pessoas desleais à maioria do bloco parlamentar da Aliança País tiverem êxito no que desejam, eu, imediatamente, apresentarei minha renúncia ao cargo, porque por meus princípios de defender a vida, estou disposto a renunciar e a história saberá julgar”, declarou ele segundo jornais locais. O presidente, que se declara católico, reiterou que “jamais” aprovará a despenalização do aborto “mais além do que já está previsto na lei”.

No Equador, o aborto é considerado um crime, com exceção nos casos em que a gravidez ameaça a vida da gestante ou se foi fruto de violação de mulheres com problemas psiquiátricos ou neurológicos. A pena para uma mulher que realizou o aborto é de um a cinco anos de prisão e para os médicos ou outras pessoas envolvidas no procedimento, de dois a cinco anos.

Para Correa, esse movimento dentro de seu partido é “uma punhalada ao processo revolucionário e ao presidente da República”. O presidente disse estar “esgotado” das traições e deslealdades. “Estou cansado disso, de que se tomem decisões, falem de democracia e logo fazem o contrário para ver se aproveitam a oportunidade”, afirmou ele.