Morales e García voltam a bater boca pela imprensa

Boliviano rebate declarações de peruano afirmando que não é submisso nem neoliberal para fazer acordos reservados

O presidente da Bolívia, Evo Morales, que no fim de semana recebeu o presidente Lula para assinar acordos de cooperação (Foto: Ricardo Stuckert. Presidência)

LA PAZ – O presidente da Bolívia, Evo Morales, negou que mantenha um “acordo de bastidores” com o Chile com o objetivo de recuperar uma saída ao Oceano Pacífico para seu país.

No fim de semana, em entrevista publicada pelo jornal La Tercera, do Chile, o presidente peruano, Alan García, insinuou que La Paz e Santiago estariam costurando um pacto com esta finalidade, o que definiu como uma mostra de que Morales é “submisso” à mandatária chilena, Michelle Bachelet.

“Aqui não há nenhuma submissão”, respondeu nesta segunda-feira (24) o boliviano. “O que existe é a submissão de Alan García aos Estados Unidos. Isto eu verifiquei nos eventos internacionais de chefes de Estado”, complementou.

Na entrevista ao La Tercera, García ironizou o suposto “silêncio” de Morales em relação à histórica demanda de seu país de recuperar uma saída para o mar, perdida para o Chile em uma guerra travada entre 1879 e 1883.

”Nós não somos neoliberais para fazer acordos reservados”, reagiu Morales, acrescentando que Bolívia e Chile estão empenhados em criar um clima de “confiança recíproca”, que visa ao eventual restabelecimento das relações bilaterais.
“Não tenho acordos reservados com o Chile. O único acordo são os 13 pontos já divulgados pelas chancelarias”, disse o boliviano, que reiterou seus ataques a Alan García. “[Ele] é um pró-capitalista, pró-imperialista e 100% neoliberal”, afirmou.

Os 13 pontos aos quais Morales se referiu constam de uma agenda bilateral elaborada junto ao Chile para buscar a retomada dos vínculos diplomáticos. O diálogo inclui temas ligados à cooperação econômica e comercial, além do pedido boliviano de obter acesso ao Pacífico.

Também nesta segunda-feira, o chanceler peruano, José Antonio García Belaúnde, buscou esfriar a polêmica. Para ele, as declarações de García não devem comprometer as relações de seu país com a Bolívia, nem atrapalhar as discussões da cúpula da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), marcada para sexta-feira em Bariloche, na Argentina, tendo como questão as bases dos Estados Unidos na Colômbia.

Nos últimos meses, Evo Morales e Alan García protagonizaram diversos desentendimentos. O boliviano critica o vizinho por este haver concedido asilo político a três ex-ministros que são julgados por crimes de lesa-humanidade em seu país. Já García acusa Morales de ter incentivado uma mobilização de comunidades indígenas do Peru ocorrida no mês de junho.