Homossexuais temem retrocesso com a chegada de Mursi ao poder no Egito

Jovem egípcio afirma que sair do país pode ser única opção para ter seus direitos assegurados

Cairo – Ayman viveu há três semanas uma história que marcou a vida de milhões de pessoas em diferentes partes do mundo – ele resolveu assumir a sua homossexualidade. O jovem de 24 anos escolheu as redes sociais para divulgar sua escolha e, levado pela emoção de um relacionamento e a “vontade de não ter de esconder o que sente”, tomou a decisão sem pensar nas consequências do corajoso ato.

O jovem é egípcio e apesar de não haver nenhuma legislação a respeito da comunidade LGBT no país, leis de “violação da honra”, “prática imoral e comportamento indecente” e “ofensa aos valores religiosos” vêm sendo usadas na última década contra os homossexuais assumidos. Ele é muçulmano e quase todos os países de maioria muçulmana condenam veementemente os atos homossexuais, com as possíveis exceções da Turquia e do Líbano, um pouco mais flexíveis.

Ayman uniu-se às multidões de Tahrir para exigir a renúncia de Hosni Mubarak e participou de todo o processo de transição que vem sendo levado a cabo no Egito desde janeiro de 2011. Cantor, emprestou sua voz para protestos e manifestações no coração do Cairo, mas agora teme que todo o esforço tenha sido em vão.

Apesar da satisfação da derrota de Ahmed Shafiq (ex-ministro de Mubarak que chegou ao segundo turno nas eleições presidenciais egípcias), Ayman está apreensivo com a vitória de Mohammed Mursi, o candidato apoiado pela Irmandade Muçulmana que pode vir a adotar a sharia, lei islâmica, representando um retrocesso nos direitos LGBT.

No fim de junho, uma delegação egípcia pediu durante o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, que a organização “concentrasse os seus esforços em ‘pessoas reais’ (e não nos direitos LGBT). E afirmou que “a noção de orientação sexual é um tema controverso e não faz parte dos direitos humanos universalmente reconhecidos”.

Na mesma semana em que os representantes dos direitos humanos do Egito fizeram esta declaração em Genebra, Ayman, uma pessoa real, contradizendo o que seus representantes disseram na ONU, resolveu sair do armário. “Eu tinha duas contas no Facebook – uma conta pública para divulgar o meu trabalho como cantor, e outra para os meus amigos mais próximos. “A intenção era manter estas duas vidas separadas, com medo de que as pessoas deixassem de ouvir a minha música”, conta.

A reação não poderia ter sido diferente. De um lado, fãs fiéis (na maioria, mulheres) apoiaram a decisão de Ayman. Do outro lado, intolerância quase sempre justificada por preceitos religiosos – muçulmanos ou cristãos. “Houve até amigos homossexuais que me criticaram publicamente nas redes sociais, acusando-me de pecador. Hipócritas!”, desabafou o jovem.

O cantor começou a escrever músicas que falam sobre a importância de aceitar a todos do jeito que são, sem se preocupar com a opinião alheia. O tema, aparentemente clichê, é um tabu no Egito e normalmente tido como um valor ocidental. “Para a maioria das pessoas aqui, eu até posso ter a minha vida privada, contanto que eu mantenha as aparências em público”, diz Ayman.
 

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