Eleições regionais bolivianas marcam ascensão dos “Sem Medo”

Candidatos de Evo Morales conquistam seis dos nove governos locais, mas perdem prefeituras-chave e conseguem avanço tímido no interior da região da Meia Lua

Juan Del Granado, que dispensa ser apresentado como pré-candidato às eleições presidenciais, comemora vitória do MSM em La Paz (Foto: G. Jallasi. Agência Boliviana de Informação)

As eleições regionais de domingo (4) na Bolívia foram um passo fundamental para lançar um novo partido no cenário do país sul-americano. O Movimento Sem Medo (MSM), que governava a cidade de La Paz, manteve o controle da capital e venceu em Oruro, além de garantir  resultados significativos em outras disputas.

O Movimento ao Socialismo (MAS) de Evo Morales levou seis dos nove departamentos – equivalente a estados – do país. Com isso, consolida-se como principal força política boliviana. Agora, a base oficialista passará a controlar La Paz, Oruro, Potosí, Cochabamba, Chuquisaca e Pando.

Neste último, a vitória é inédita e significa a primeira vez que o partido de Morales coloca os pés na região da Meia Lua, formada por estados do leste (oriente) boliviano. A “espinha dorsal” da região, o rico departamento de Santa Cruz, prossegue como reduto da oposição de direita, que chegou a promover episódios de tensão com o governo central nos últimos anos, mas acabou enfranquecida pelos próprios erros e por vitórias de Morales.

O MSM é visto como oposição de esquerda moderada ao presidente. Criado há dez anos, fazia parte da base do governo até há poucos dias. Agora, após o resultado eleitoral, a legenda já tem candidato para a disputa federal de 2014.

Juan Del Granado, líder do partido, fez seu sucessor ao garantir a eleição Luis Revilla. Assim que deixar o cargo de prefeito de La Paz, Granado sai em campanha pelo país. Logo após conhecer os resultados preliminares da votação de domingo, Granado passou a dizer que o MSM é agora a segunda força política boliviana.

O MSM teve ainda a segunda colocação no departamento de La Paz e emerge como grande força oposicionista capaz de roubar votos de Morales.

“Em nível departamental, está clara a hegemonia do MAS, e isso tem a ver em parte com a politização e o peso do voto das áreas rurais”, sustentou a analista María Teresa Zegada à rede ATB. “Mas a oposição mostrou que ainda pode conseguir respaldo em seis cidades-chave. Isso põe o país perante a necessidade de mais negociação e acordos entre o poder nacional do MAS e os poderes regionais”, acrescentou.

A vitória do MAS não foi, de todo modo, tão retumbante quanto queria Morales, com o sexto triunfo eleitoral em cinco anos. Cidades fundamentais, incluindo a capital La Paz, foram perdidas. Nos municípios, os correligionários de Morales terão o controle de Cochabamba, El Alto e Cobija, mas não conseguiu penetração nas capitais da Meia Lua e acabou derrotado em Oruro, antes reduto de Morales e agora nas mãos dos “Sem Medo”.

A oposição à direita não consegue conquistar eleitores do MAS devido à fragmentação do país, além de precisar lidar com divisões internas. Mesmo conseguindo manter o controle da Meia Lua, os Verdes – menção às cores de Santa Cruz de la Sierra, e não necessariamente à defesa da causa ambiental – e o Movimento Nacional Revolucionário (MNR) viram que o MAS tem grande força na região, com 37% dos votos crucenhos.

Além disso, muitos líderes da oposição tiveram de deixar a cena sob acusação de envolvimento em casos de corrupção e atos de terrorismo. O último caso ocorreu nesta segunda-feira (5) com a prisão do candidato à prefeitura de Santa Cruz. Gary Prado é acusado de participar de grupos terroristas que têm por finalidade agir contra partidários de Morales. De acordo com as investigações, a orientação ao grupo era, em caso extremo, proclamar a separação entre Santa Cruz e o restante da Bolívia.

Novo modelo

As eleições bolivianas marcaram o início de um modelo inédito para o país e para o mundo. A nova Constituição consagra o princípio das autonomias. Pela primeira vez, os deputados regionais e os integrantes de Conselhos Municipais – espécie de câmara – terão o direito a legislar.

Até então, o modelo seria igual ao brasileiro, com eleições ao Executivo e ao Legislativo nas esferas federal, estadual e municipal. Mas o modelo boliviano tem uma peculiaridade, que é a questão das autonomias dos povos originários. De acordo com a Constituição, as comunidades indígenas podem adotar um sistema próprio de administração, independente das demais esferas de governo.

Como as bocas-de-urna têm uma margem de erro grande, não é possível traçar uma divisão confiável das cadeiras nas assembleias regionais. Ainda assim, a expectativa de analistas políticos é de vitória do MAS, crescimento do MSM e o restante das cadeiras divididas entre a oposição.

Com informações da Reuters.

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