Economista do Ipea vê devastação financeira após 11 de setembro
Renato Baumann afirmou que custo das guerras no Afeganistão e Iraque chega a US$ 3 trilhões
Publicado 14/09/2011 - 16h49
São Paulo – Levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que, após os atentados de 11 de setembro de 2001, instalou-se uma nova ordem de gastos do governo dos Estados Unidos. O estudo mostra ainda que aconteceu uma devastação financeira causada pelo terrorismo orquestrado por Osama Bin Laden. A pesquisa analisa os impactos econômicos de dez anos depois do ataque terrorista sofrido pelos Estados Unidos, com o choque de dois aviões contra as torres gêmeas do World Trade Center, no centro financeiro de Nova York, e de mais duas aeronaves no território norte-americano,
A apresentação dos dados ocorreu durante uma série de debates promovidos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) nesta quarta-feira (14), que teve como tema o “11 de setembro de 2001: O mundo depois de uma década de guerra contra o terror”. Entre os participantes, o economista do Ipea Renato Baumann e o professor de Relações Internacionais da PUC Reginaldo Nasser.
Ao afirmar que o exorbitante gasto total ocasionado pelos ataques terroristas são inestimáveis para os Estados Unidos e para o mundo, o economista do Ipea assegurou que o atentado “foi o acontecimento de maior impacto do mundo”, e que a geração de custos será infinito, devido à alteração na rotina das pessoas em todos os cantos do mundo.
Baumann ainda citou alguns custos que foram gerados a partir do 11 de setembro. O mais impactante indica aumento em US$ 400 bilhões com gastos federais voltados para a segurança interna dos Estados Unidos, valor não incluído nos aproximadamente US$ 3 trilhões desembolsados devido às guerras travadas no Iraque e Afeganistão.
Segundo o economista, os demais países também sentiram, entre 2001 e 2002, o impacto do terrorismo em suas economias. Baumann indicou os ataques como um marco para o aumento de segurança nos voos e em todos os aeroportos a partir daquele ano. Segundo o economista, os atentados foram responsáveis pela queda de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial no ano. “Claramente houve um esfriamento do mercado internacional em todos os sentidos”, analisou.
No Brasil, os impactos sentidos no período, diz Baumann, resumiram-se à queda dos investimentos estrangeiros, aumento de custos sobre os capitais, leve alta na exportação e instabilidade de negociação na tríplice fronteira – Porto Iguazu, na Argentina, Cidade do Leste, no Paraguai e Foz do Iguaçu, no Brasil –, além de “ um conjunto de pequenos custos que, somados, são relevantes e significativos”, como, por exemplo, o reforço na segurança nas portas de entradas do país.
Terrorismo que gera terrorismo
Para mostrar o “aumento exponencial” do terrorismo suicida após os ataques às torres gêmeas, o professor da PUC, Reginaldo Nasser, citou dados levantados pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, que indicam cerca de 200 casos de terrorismo suicida até 2001, e mais de 2.000 entre aquele ano e 2010.
Para ilustrar esses dados e a falta de habilidade norte americana na chamada “guerra ao terror”, o professor explicou que dos 779 presos em Guantánamo – prisão militar americana situada em Cuba – acusados de praticar terrorismo, apenas 10% receberam julgamento, e dos 14% libertados, todos vieram a se tornaram terroristas.
Para o especialista em relações internacionais, ao longo do tempo, o Pentágono – sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos – foi adquirindo uma autonomia consolidada em relação aos governos. “Pela primeira vez na história entrou um presidente (Barack Obama) de uma linha política totalmente diferente do outro (George W. Bush) e manteve igual a política de segurança do país”, disparou o professor.
Nasser ainda citou o assustador aumento de empresas privadas ligadas ao combate de atos terroristas e a expansão de segurança particular nas empresas e órgãos do governo norte- americano.