crise na Ucrânia

EUA anunciam novas sanções à Rússia por anexação da Crimeia

Sem dizer o que medidas serão adotadas por Obama, porta-voz da Casa Branca reitera que acordo assinado por Moscou 'jamais será aceito' por EUA e União Europeia

EFE

Bandeira russa é pendurada na sede do Parlamento da Crimeia, em Simferópol, capital da região

São Paulo – Diante do acordo de anexação assinado pelo presidente russo, Vladimir Putin, e líderes da Crimeia e de Sebastopol, os Estados Unidos anunciaram mais uma rodada de sanções à Rússia, segundo informou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, ontem (18). Após o resultado oficial do referendo separatista na Crimeia, na segunda-feira (17), EUA e União Europeia já haviam anunciado uma série de punições a Moscou.

“Mais sanções estão por vir”, afirmou Carney, em coletiva de imprensa. O porta-voz também reiterou que “a tentativa da Rússia de anexar uma região da Ucrânia ilegalmente jamais será aceita pelos Estados Unidos ou pela comunidade internacional” e que a administração do presidente Barack Obama considera que as ações russas “violam o direito internacional e a Constituição da Ucrânia”.

Carney, entretanto, não disse como e quais serão as sanções contra a Rússia, informando apenas que os EUA e seus parceiros aumentariam as consequências para os russos e reforçariam a assistência oferecida à Ucrânia. Sobre as sanções já impostas, chamadas por um repórter de “em alguns casos, risíveis”, o porta-voz disse que “os custos têm sido reais e eles vão aumentar”.

Reação

Frente às punições anunciadas pelos EUA, o ministro de Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, disse ao secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que as sanções são “absolutamente inaceitáveis” e “não permanecerão sem consequências”, segundo uma declaração ministerial.

Putin, por sua vez, já havia dito que são os Estados Unidos que não seguem as leis internacionais. “Eles pensam que são os únicos e ignoram até agora o Conselho de Segurança da ONU”, afirmou. O presidente russo também voltou a afirmar que o referendo que aprovou a anexação da Crimeia à Rússia “foi justo e legítimo” e agradeceu a compreensão de países como China e Índia, pedindo que se deixe de lado a retórica da época da Guerra Fria.

O assessor russo Vladislav Surkov, uma das sete autoridades próximas a Putin atingidas pelas sanções dos EUA, afirmou que a única coisa que o presidente da Rússia gostava nos Estados Unidos era o rapper Tupac e que ele “não precisa de um visto” para ouvir rap. Surkov afirmou ainda que estar na lista negra norte-americana é uma “grande honra” para ele, segundo o jornal The Independent.

União Europeia

A UE disse hoje que “não reconhece nem reconhecerá” a anexação da Crimeia pela Rússia, segundo comunicado dos presidentes da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. “A soberania, a integridade territorial e a independência da Ucrânia tem que ser respeitada”, acrescentou a nota.

Barroso e Van Rompuy reiteraram ainda que a UE “também não reconhece o referendo ilegal e ilegítimo na Crimeia nem seus resultados”.  Os líderes da União Europeia devem abordar a situação na Ucrânia e formular uma resposta conjunta na reunião da cúpula que será realizada nos dias 20 e 21 de março.

Militar

O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que seu país está considerando exercícios militares nos Bálcãs. Biden afirmou que os EUA “estão comprometidos com a garantia da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de ajudar membros se ações militares forem feitas contra eles”.

Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, disse, no entanto, que uma intervenção militar no leste da Ucrânia “não está na agenda”.

Militares ucranianos

Enquanto isso, cerca de 30 militares da Marinha ucraniana começaram a deixar hoje (19) seu quartel-general na cidade litorânea de Sebastopol, na Crimeia. A movimentação dos soldados ucranianos acontece após o QG ter sido invadido por uma multidão de civis desarmados.

Reunidos em pequenos grupos, os militares ucranianos deixam o recinto acompanhados por “ativistas das autodefesas” russas, segundo informou a imprensa local.

Ontem, um soldado ucraniano foi morto em um ataque contra uma base da Ucrânia na Crimeia. Em resposta, Kiev liberou o uso de armas militares contra forças  russas. O franco-atirador supostamente responsável pelo disparo já foi identificado.

Para tentar diminuir a crescente tensão entre as forças russas e ucranianas na península, o governo de Kiev anunciou a intenção de enviar à Crimeia o ministro da Defesa, Igor Teniukh. O premiê da Crimeia, Serguei Axionov, que está em Moscou para acertar os detalhes da anexação, já afirmou que a Crimeia não permitirá a entrada do ministro e de outras autoridades ucranianas em seu território.

“Não são bem-vindos à Crimeia. Ninguém permitirá que entrem e nós os enviaremos de volta”, afirmou Axionov à agência de notícias russa Interfax.