crise na Ucrânia

Putin e líderes de Crimeia e Sebastopol assinam acordo de anexação

Tratado, que ainda precisa passar pelos três parlamentos, prevê que região autônoma torne-se da Federação Russa

SERGEI ILNITSKY/EFE

Por meio do documento, tanto Crimeia como Sebastopol tornam-se automaticamente integrantes da Federação Russa

São Paulo – O presidente russo, Vladimir Putin, e os líderes de Crimeia e Sebastopol assinaram nesta terça-feira (18) um tratado por meio do qual a república da Crimeia e a cidade de Sebastopol são anexadas à Rússia, após 96,7% da população da Crimeia ter referendado a separação da Ucrânia. O parlamento regional declarou ontem (17) a independência de Kiev. O referendo separatista na Crimeia foi considerado ilegal por Kiev e pela maioria dos países ocidentais.

A assinatura do acordo ocorreu em cerimônia solene diante dos parlamentares e chefes de todas as regiões russas reunidos na Sala de São Jorge, no Grande Palácio do Kremlin.

O primeiro-ministro da Crimeia, Sergei Axionov, o chefe do parlamento, Vladimir Konstantinov, e o chefe da cidade de Sebastopol, Alexei Chali, que se integrará à Rússia como cidade federada, assinaram o acordo.

Por meio do documento, tanto Crimeia como Sebastopol (onde fica a base da Frota do Mar Negro) tornam-se automaticamente integrantes da Federação Russa, depois que os três parlamentos ratificarem o tratado. “Peço que vocês considerem a anexação da República da Crimeia e de Sebastopol”, afirmou Putin aos parlamentares russos.

O tratado diz ainda que os habitantes da Crimeia irão adquirir nacionalidade russa se “no prazo de um mês” não declararem o desejo de manter sua atual nacionalidade. E  contempla a realização de eleições regionais na Crimeia e municipais em Sebastopol em setembro de 2015.

Até lá, as autoridades da Crimeia seguirão exercendo o poder. A república terá três idiomas oficiais, russo, ucraniano e crimeano-tártaro.

O presidente da Rússia reiterou, durante sua participação no Parlamento do país, que o referendo realizado na Crimeia é legal e legítimo. De acordo com o mandatário, são os Estados Unidos que não seguem as leis internacionais.

“É bom que o Ocidente se lembre que existem leis internacionais. Os Estados Unidos não seguem as leis internacionais. Eles pensam que são os únicos e ignoram até agora o Conselho de Segurança da ONU”, afirmou Putin.

O presidente russo ainda disse que não se lembrava de “nenhuma outra simples intervenção que tenha ocorrido sem tiros ou vítimas”.

Por que a Ucrânia pode exercer sua autodeterminação soberana com o fim da União Soviética e a Crimeia não pode fazer a mesma coisa agora?”, questionou em sua argumentação. Ele ainda disse que a região autônoma sempre foi e será parte da Rússia.

Putin ainda agradeceu aos povos que têm demonstrado compreensão, como China e Índia e defendeu que se deixe de lado a retórica da época da Guerra Fria.

Putin ainda argumentou que “Kiev é a mãe de todas as cidades russas e que os cidadãos russos não consideram a Ucrânia como um outro país”. “Quero que me escutem, queridos amigos. Não acreditem naqueles que os assustam com isso, de que depois da Crimeia seguirão outras regiões [a serem anexadas]. A Rússia não procura dividir a Ucrânia. Não temos necessidade disso”, afirmou Putin.

Moscou também anunciou ontem (17) que propôs aos Estados Unidos e União Europeia a criação de um “grupo de apoio” multilateral para resolver a crise na Ucrânia. A chancelaria afirmou que o colegiado deverá respeitar os “interesses do povo multiétnico da Ucrânia” e apoiar as “legítimas aspirações de todos os ucranianos de viver em segurança”.

Movimentação militar

As unidades militares ucranianas no território da Crimeia serão dissolvidas após a independência da região. O presidente do Legislativo crimeano, Vladimir Konstantinov, ressalvou que os soldados poderão continuar a viver na península se assim desejarem.

“Tudo o que se encontra aqui no território, claro, nacionalizaremos. As unidades militares serão dissolvidas, e os que quiserem podem continuar a viver aqui, por favor”, afirmou Konstantinov, acrescentando que “será um processo de reorganização normal”. Ele também deu as boas-vindas aos militares que quiserem jurar lealdade à nova formação autoproclamada. “Eles encontrarão um exército normal, sério, e terão a oportunidade de obter um bom salário, digno e de servir a nossa pátria”, disse Konstantinov.

Kiev, por sua vez, decretou hoje a mobilização parcial dos reservistas na Ucrânia. A assinatura do decreto pelo presidente interino, Aleksander Turchinov, foi feita em resposta à “continuação da agressão na república autônoma da Crimeia, que a Rússia tenta dissimular com uma grande farsa chamada referendo, que nunca será reconhecida pela Ucrânia nem pelo mundo civilizado”.

Segundo o decreto presidencial, a mobilização durará 45 dias e pode afetar todos os cidadãos que voluntariamente tenham expressado seu desejo de passar a fazer parte das Forças Armadas do país.