Internacional de Limeira entra para o time dos centenários

Futebol

Ernesto Papa/Folhapress

O atacante Kita disputa bola com o zagueiro Amarildo, do Palmeiras, na memorável final de 1986

Limeira – No dia 5 de outubro de 1913, entusiastas do futebol do time do Barroquinha – o time popular da cidade, que jogava em um campo de terra irregular, próximo a uma barroca, na Rua Doutor Trajano, antiga Rua do Comércio – resolveram fundar um novo clube em Limeira, no interior de São Paulo. Eles se reuniram no Teatro Vitória (antigo Teatro da Paz) e decidiram que somente associados poderiam jogar no clube, contanto que contribuíssem com um mil réis mensais. Nascia a Associação Atlética Internacional de Limeira, que adotou o nome em homenagem aos vários povos de outros países radicados na cidade.

Uma semana depois, com calções brancos e camisas listradas em preto e branco, a Internacional jogou sua primeira partida contra o Sport Clube Carioba, em Americana. Alguns anos depois, o clube construiu o Estádio de Vila Levy, onde ficou 212 jogos sem perder, entre 1921 e 1924, e ganhou da imprensa e dos torcedores o apelido de Leão Paulista. Em 1977, o Estádio Major José Levy Sobrinho, o Limeirão (que na inauguração abrigou 44.000 pessoas, seu maior público, na derrota para o Corinthians por 3 x 2), passou a sediar os jogos da Internacional.

Nesses 100 anos, a Internacional traz na bagagem: Campeonato Paulista de 1986; Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo de 1986; Campeonato Brasileiro da Série B de 1986 e de 1988; Campeonato Paulista da Série A2 nos anos de 1978, 1996 e 2004; Campeonato Paulista da Série A3 de 1966.

A torcida

“A nossa torcida é carente. Ela tem esperança de que a Inter volte a dar alegria como na década de 1980. Muitos esperam que o time renasça para voltar a ir ao estádio”, conta Taymom Bueno, presidente da Internacional.

Do título paulista em 1986, o clube chegou a ir para a Série B1 do Estado em 2009. No entanto, alguns torcedores jamais a abandonaram, como a torcida organizada Interror. “Se não tiver uma torcida, o estádio fica mudo e descolorido. O batuque, as músicas e as bandeiras são formas de incentivar o time e mostrar que estamos ali torcendo por eles”, declara Edson Romão, presidente e um dos fundadores.

1986, o ano que Limeira parou

Com uma campanha impecável no segundo turno do Paulistão de 1986, a Internacional se classificou em primeiro lugar para as semifinais e bateu o Santos, de Serginho Chulapa, por 2 x 0, na Vila Belmiro, e 2 x 1, no Limeirão. Na final, a Inter tinha pela frente o Palmeiras, que havia derrotado o Corinthians. O primeiro jogo da final, no entanto, não saiu do 0 x 0 no Estádio do Morumbi.

No dia 3 de agosto de 1986, seria definido o campeão estadual. A obrigação de vencer era do Palmeiras, que estava há nove anos na fila e tinha Éder Aleixo, ponta-esquerda da Seleção Brasileira na Copa de 1982. Mas a “Dinamarca do Interior” (em referência à seleção de Michael Laudrup, sensação da época) contagiava os amantes do futebol.

Limeira parou naquela quarta-feira. Pela manhã, 150 ônibus lotados partiram para o Morumbi, onde 64.564 pessoas testemunhariam um feito histórico. Nos bares, escolas, repartições só se falava no mais importante jogo da Internacional. Os comerciantes fecharam as portas mais cedo e na Praça Toledo de Barros limeirenses faziam dos bancos as suas arquibancadas, relembrando a campanha do Leão.

“Quando olhei para a arquibancada do Morumbi, a torcida da Inter ocupava mais ou menos 10 mil lugares. Eram cinco mil limeirenses e os outros torcedores eram corintianos e são-paulinos. Mesmo assim, estávamos confiantes, sabíamos do nosso potencial”, recorda Ederval Luis, o Tato, ponta-direita da Inter.

O jogo só começou a ser definido aos cinco minutos do segundo tempo, quando o artilheiro do campeonato, Kita, abriu o placar para a Inter. Na sequência, aos oito minutos, Tato aumentou a vantagem. Amarildo descontou para os palmeirenses. A equipe do técnico Pepe venceu por 2 x 1 e se tornou a primeira campeã paulista do interior do estado.

“Quando acabou o jogo, todo mundo foi para a rua. A gente gritava, soltava rojão, era muita alegria. A cidade não dormiu e na quinta-
-feira foi decretado feriado”, recorda emocionado Edson Romão. Ao chegar à cidade, a Internacional desfilou para os limeirenses. “O pessoal jogava confete dos prédios, acenava das janelas, uma multidão seguia o carro de bombeiros e nos aplaudia. Foi emocionante, ainda mais para mim que tive a Inter como alicerce. Sou eternamente grato”, relembra Tato da glória que o revelou para o Brasil.