Rio 2016

Obras para Olimpíada atrasam e são questionadas por órgãos reguladores

Secretaria Estadual de Transportes admite os percalços nas obras da Linha 4 do metrô, orçadas em R$ 8,7 bilhões. O atraso foi provocado, afirma, por infiltrações no terreno

Tomaz Silva/Agência Brasil

Construções do Centro de Tênis e do Velódromo, ambas no Parque Olímpico, chegaram a ter suas obras embargadas

Rio de Janeiro – A pouco mais de um ano da realização da Olimpíada no Rio de Janeiro, tanto a construção de algumas arenas para as competições quanto as obras de infraestrutura urbana que farão parte do prometido “legado olímpico” para a cidade sofrem com atrasos de cronograma e questionamentos por parte dos órgãos públicos fiscalizadores. Ao mesmo tempo em que governo estadual e prefeitura reafirmam que tudo está sob controle, algumas análises técnicas dizem o contrário.

No mais recente questionamento, um relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) considera “alto o risco de não cumprimento do cronograma de obras até agosto de 2016” em três grandes projetos, entre eles a badalada Linha 4 do metrô carioca, que ligará os bairros da zona sul da cidade à região da Barra da Tijuca, na zona oeste, onde está sendo erguido o Parque Olímpico.

A conclusão da Linha 4 é considerada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) como imprescindível para garantir o deslocamento do público durante a Olimpíada, já que a maior parte dos hotéis que receberão os turistas está localizada na zona sul. O TCE, que fiscaliza somente os projetos olímpicos que contam com verba estadual, manifestou também sua preocupação com os atrasos em mais dois programas: a despoluição e recuperação ambiental das lagoas da Barra e a implantação de um tronco coletor na Cidade Nova, projeto que vista diminuir o despejo de esgoto na Baía de Guanabara, que também será palco de provas olímpicas no ano que vem.

A Secretaria Estadual de Transportes admite os percalços nas obras da Linha 4 do metrô, orçadas em R$ 8,7 bilhões. O atraso foi provocado, afirma, por infiltrações no terreno e pela presença de uma rocha que não havia sido prospectada na área de uma das futuras estações. Mas a Secretaria garante que o tempo perdido neste projeto será recuperado. O TCE, por sua vez, afirma ter iniciado ontem (13) uma auditoria definitiva nas obras, com previsão de conclusão em novembro.

Em relação à despoluição das lagoas, o governo jogou a toalha e admite que essa meta não será concluída até o início dos jogos. Orçado em R$ 673 milhões, o projeto é alvo de ações no Ministério Público Federal e no Estadual e chegou a ter sua licitação – vencida por um consórcio formado pelas empreiteiras Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e OAS – cancelada por suspeita de fraude no processo. O terceiro projeto citado como crítico pelo TCE, a construção do tronco coletor de esgoto orçada em R$ 81,4 milhões, nem sequer começou.

Arenas problemáticas

Nas obras diretamente ligadas aos jogos, de responsabilidade da prefeitura do Rio, os questionamentos começam pelo Estádio Olímpico Nilton Santos, o Engenhão, programado para receber as provas de atletismo. Segundo relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM), “as reformas em curso no estádio estão provocando problemas crônicos”, como infiltrações nas pistas de aquecimento do atletismo. Outro problema visto na reforma tocada pelas empreiteiras Odebrecht e OAS está no reforço das estruturas metálicas do estádio, o que, segundo o TCM, traz até mesmo risco de desabamento. Em outro equipamento herdado do Pan de 2007, o Parque Aquático Maria Lenk, que receberá as provas de natação, o TCM pediu a realização de uma avaliação estrutural de uma trinca que surgiu nos muros externos do estádio.

Já o Parque Aquático Júlio Delamare, ícone do esporte carioca que receberia os jogos de polo aquático, não será mais palco da Olimpíada. O governo estadual informou ao COI que não conseguirá cumprir a exigência de construção de uma nova arquibancada e de uma piscina para aquecimento dos atletas por conta da falta de acordo com o Consórcio Maracanã, que bancaria as obras, orçadas em R$ 60 milhões, como contrapartida pela concessão do estádio. A escolha de um novo local para os jogos de polo aquático ainda será definida pela prefeitura, que aguarda um parecer da Federação Internacional de Natação. As pessoas que já compraram ingressos e não ficaram satisfeitas com a mudança do local de competição poderão ter seu dinheiro ressarcido.

Por conta do desacerto entre o governo e o Consórcio Maracanã, que estão em plena negociação sobre a revisão do contrato de concessão do estádio e seu complexo esportivo, também ainda nem começaram as obras no Maracanãzinho, que deverá receber os jogos de vôlei. A intervenção pedida pelo COI no ginásio, no entanto, se resume a construção de quadras de aquecimento, orçadas em R$ 10 milhões, obra considerada “de simples e rápida execução” pelo governo.

Outros projetos problemáticos são as construções do Centro de Tênis e do Velódromo, ambas no Parque Olímpico, que chegaram a ter suas obras embargadas em abril pelo Ministério Público do Trabalho. No caso do Centro de Tênis, projeto orçado em R$ 184,8 milhões e tocado pelo consórcio formado pelas empreiteiras Ibeg, Tangran e Damian, foi constatado pelos técnicos grave risco para os operários: “Falta proteção contra queda em diversos pavimentos, escadas de acesso, aberturas de piso e vãos de elevadores”, diz o relatório do MPT.

No Velódromo, orçado em R$ 118 milhões, o problema de insegurança física para os trabalhadores foi constatado na parte de escavações e nos entornos da betoneira e da serra circular, trabalhos executado pela empresa Tecnosolo Engenharia. Ambas as obras já foram retomadas e, segundo a prefeitura, não sofrerão atraso.