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Sem ignorar críticas ao PT, lideranças do Psol devem optar por Dilma contra Aécio

Partido ainda não definiu posição, mas psolistas avaliam que, mesmo com ressalvas contra governos petistas, retorno do PSDB ao Planalto seria desastroso e representaria atraso ao país

Folhapress

Enquanto partido não define posição, lideranças como Marcelo Freixo fazem suas escolhas

São Paulo – Lideranças do Psol disseram à RBA ontem (7) que, com todas as ressalvas, tendem a optar pela candidatura de Dilma Rousseff (PT) no duelo contra Aécio Neves (PSDB) pela Presidência da República. Não porque sejam favoráveis aos rumos do governo federal ou porque estejam de olho em cargos num eventual quarto mandato petista. Pelo contrário, prometem oposição independente e não deixam de criticar as escolhas políticas, econômicas e sociais da presidenta. Contudo, avaliam que a volta dos tucanos ao Planalto seria um retrocesso.

“Não sei qual será a decisão do partido para o segundo turno, e eu irei respeitá-la, mas meu voto será em Dilma Rousseff”, revela o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol-RJ), que no domingo (5) foi reeleito com 350.408 votos – a maior votação do Rio de Janeiro. “No segundo turno, você tem que escolher entre os projetos que chegaram lá. Não me sinto representado pelas propostas nem do PT nem do PSDB, tenho duras críticas ao governo federal e não pretendo fazer parte da administração petista. Mas a vitória dos tucanos seria um retrocesso. Não tenho saudades dos anos FHC e muito menos quero setores mais conservadores do PSDB, representados por Aécio, no poder.”

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O Psol anunciará oficialmente, em entrevista coletiva hoje (8) à tarde, em São Paulo, sua posição para o segundo turno. A candidata do partido à Presidência, Luciana Genro, é quem deve comunicá-la. Com 1,55% dos votos válidos, as palavras de Luciana não terão tanto peso na decisão. Também é difícil avaliar como sua declaração de voto em Dilma ou Aécio poderia influenciar a convicção dos eleitores do Psol, que, segundo lideranças, são livres para votar em quem quiserem. O fato de o partido ser formado por muitos ex-petistas também pode influenciar positiva ou negativamente para a presidenta.

Um deles é o deputado estadual Edmilson Rodrigues (Psol-PA). O paraense não esquece suas críticas ao PT, “especialmente no que se refere à construção da usina de Belo Monte e à política indígena”, mas acredita que não é hora de manter a neutralidade. “É possível, sem abrir mão de princípios, apresentar uma visão crítica ao governo Dilma e marcar diferenças com o campo da direita”, pondera o novo membro da bancada do Psol na Câmara dos Deputados, eleito com 170.604 votos. “Em algumas situações, há candidaturas tão iguais que é justo nem pensar duas vezes antes de chamar um voto nulo. Em outras, é importante tomar posições e assumir responsabilidades na construção do futuro do país.”

Embora avalie o governo Dilma como “medíocre”, o candidato do Psol ao governo de São Paulo, Gilberto Maringoni, pontua que Aécio Neves seria bem pior. “Dilma cedeu às pressões do capital financeiro, fez cortes no orçamento, aumentou juros e, por opção própria, derrubou a economia. Também fez concessões à direita. Mas uma vitória do PSDB seria um desastre total. Aécio é terra-arrasada, é o neoliberalismo puro e duro. Com Dilma, podemos pelo menos respirar”, pondera Maringoni, que acabou em quinto lugar na disputa, com 0,88% dos votos válidos. “Um dos saldos do governo petista é uma política externa mais independente. Aécio será um desastre para os governos progressistas da região.”

O filósofo Vladimir Safatle, colunista da revista CartaCapital e do jornal Folha de S. Paulo, acredita que o partido deveria declarar apoio a Dilma. “Não no sentido de fazer acordos, mas no sentido de avaliar que, de fato, uma vitória do PSDB seria catastrófica”, aponta. “Basta ver a truculência policial de seus governos estaduais contra os movimentos sociais e a falta de transparência de suas gestões públicas. Eles exercem um liberalismo sem qualquer complexo. Quero tudo menos isso.” Professor da USP e filiado ao Psol, Safatle sublinha, porém, que não tem nenhuma “ilusão” a respeito das “contradições internas dos governos petistas” ou da “miséria política que o PT se autoimpôs”. “Agora, trata-se apenas de entender que a volta dos tucanos é o que há de pior.”

No entanto, há psolistas que, apesar de não aceitarem o retorno do PSDB, gostariam de ver algumas sinalizações de Dilma aos movimentos sociais antes de declarar apoio à sua candidatura. “Quase não reconheço mais o PT, o partido mudou muito, aliou-se a oligarquias tradicionais”, argumenta o deputado federal Chico Alencar (Psol-RJ), reeleito com 195.964 votos. O parlamentar lembra que o Psol “cumpriu a missão” no primeiro turno ao defender pontos de seu programa na TV e nos debates, como taxação de grandes fortunas, reforma agrária e direitos das populações indígenas e LGBT. “Vamos avaliar qual candidatura tem mais proximidade com nosso ideário. Votar no PSDB não é factível. Agora, dependerá muito do que Dilma irá vocalizar nos próximos dias.”

Tarcísio Motta, candidato do Psol ao governo do Rio de Janeiro, também propõe que seus correligionários aguardem que a presidenta assuma “compromissos com os movimentos sociais” antes de formalizar seu apoio. “O Psol fará uma oposição de esquerda independente a quer quem que vença o segundo turno. Isso não nos impede de reconhecer que Dilma e Aécio não são iguais”, pontua o professor, que acabou em quinto lugar nas eleições, com 8,92% dos votos válidos. “Há diferenças na concepção de Estado e na elevação da renda do trabalhador, que são pontos positivos de Dilma. Mas, se ela assumisse compromissos, permitiria uma avaliação melhor.” Independente do resultado, Tarcísio já tem uma receita pronta para os próximos quatro anos. “Vamos apostar no fortalecimento das lutas sociais.”