altos e baixos

Eleição 2014 fica marcada como uma das mais acirradas e imprevisíveis da história

Morte de Eduardo Campos, pesquisas voláteis, denúncias de corrupção e protagonismo da imprensa impediram antecipação dos resultados que deram vitória a Dilma Rousseff

Marina Silva sobre em palanque de Aécio, contrariando declarações de campanha

São Paulo – Uma das eleições presidenciais mais acirradas e imprevisíveis desde a redemocratização. Ninguém poderia prever a vitória de Dilma Rousseff (PT), que garantiu ontem (26) mais quatro anos à frente do Palácio do Planalto numa votação apertada contra Aécio Neves (PSDB). O duelo entre a petista e o tucano, porém, vencido pela presidenta por uma vantagem de apenas 3,28 pontos percentuais, foi apenas o capítulo final de um pleito marcado pela incerteza.

A começar pelo fiasco de Marina Silva em credenciar seu partido, a Rede Sustentabilidade, para a disputa. Um ano antes da abertura das urnas, a ex-ministra via os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reprovarem registro à sigla. A decisão provocou um rearranjo de forças políticas quando Marina decidiu entrar para o PSB.

O partido se preparava para lançar a candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República. E o que, de fato, ocorreu. Mas ninguém poderia imaginar que o ex-governador de Pernambuco morreria em acidente aéreo – fato inédito na história brasileira, e que novamente colocou a disputa de pernas para o ar quando Marina Silva assumiu a candidatura do falecido.

A RBA selecionou alguns dos principais episódios das eleições presidenciais de 2014, que tiveram ainda novas denúncias de corrupção contra PT e PSDB, erros em pesquisas eleitorais e protagonismo inédito dos grandes meios de comunicação na tentativa de influenciar as urnas. A troca de ofensas entre Dilma e Aécio – e a tentativa do TSE em elevar o nível do debate – também marcaram a disputa.

RBAMarina não consegue reistrar Rede Sustentabilidade
Marina não consegue reistrar Rede Sustentabilidade. Agência Brasil

A um ano das eleições, exatamente, Marina Silva recebia uma péssima notícia. Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) haviam negado registro à Rede Sustentabilidade, partido que a ex-senadora tentava oficializar com o intuito de entrar na corrida presidencial com uma sigla própria, condizente com suas propostas de praticar uma “nova política” no país. Contudo, de acordo com a corte eleitoral, os militantes da Rede haviam colhido apenas 442.524 assinaturas válidas apoiando sua regularização – menos do que o número mínimo exigido em lei: 491.949.

Diante do número, insuficiente, apenas um dos sete ministros do TSE, Gilmar Mendes, votou favoravelmente à criação da Rede. Lideranças do novo partido lembraram que haviam conseguido mais de 900 mil assinaturas, e acusaram os cartórios eleitorais de regiões controladas pelo PT, como o ABC paulista, a darem sumiço nos documentos. Com bons resultados nas eleições de 2010, que disputou pelo PV, quatro anos de articulações políticas e boa imagem entre manifestantes de junho, Marina Silva não queria perder a chance de concorrer à Presidência da República.

No último dia estipulado pela justiça para filiações partidárias, 5 de outubro, e após receber convites de ao menos seis partidos, Marina resolveu filiar-se ao PSB. A sigla já vinha articulando a candidatura de seu presidente nacional, Eduardo Campos. Após uma disputa interna, com direito a declarações desencontradas na imprensa, Marina aceitou ser vice na chapa do ex-governador pernambucano. E isso apesar de ser uma figura mais conhecida entre o eleitorado e obter melhores resultados nas pesquisas disponíveis até então. Em 28 de junho, no meio da Copa do Mundo, Eduardo e Marina lançariam oficialmente a candidatura que pretendia mudar as práticas políticas brasileiras.

RBADilma é vaiada na abertura da Copa do Mundo, em São Paulo
Dilma é vaiada na abertura da Copa do Mundo, em São Paulo. Divulgação

Em 12 de junho, dia de abertura da Copa do Mundo, a Folha de S. Paulo estampou em sua capa a seguinte manchete: “Copa começa hoje com seleção em alta e organização em baixa”. Poucas vezes um exercício de futurologia foi tão infeliz: após uma campanha sofrível, o esquadrão de Luiz Felipe Scolari seria derrotado por 7 a 1 pela Alemanha no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, na maior goleada já sofrida pelo Brasil na história do futebol.

O torneio, porém, ocorreria sem maiores percalços organizativos, aproximando-se muito mais do slogan governamental “Copa das Copas” do que do fiasco falsamente anunciado pela oposição e por meios de comunicação. Antes do jogo inaugural, porém, a presidenta Dilma Rousseff seria vaiada pelos torcedores que compareceram à Arena Corinthians, em São Paulo, para assistir à partida entre Brasil e Croácia. Nas ruas, longe do estádio, manifestações organizadas pela frente Se Não Tiver Direitos Não Vai Ter Copa e pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo, entidades contrárias aos gastos públicos empenhados na organização do torneio e à demissão de 42 trabalhadores após uma greve nos trens subterrâneos paulistas, foram brutalmente reprimidas pela Polícia Militar.

Ao longo da competição, ativistas seriam detidos no Rio de Janeiro e São Paulo. Passariam a responder processos contestados por juristas e movimentos sociais – e alguns foram mantidos presos por até 46 dias, como ocorreu em São Paulo com Fábio Hideki e Rafael Lusvarghi. As “ilegalidades” fariam com que a advogada Eloísa Samy, militante pelos direitos humanos denunciada pela polícia fluminense, pedisse asilo político no Consulado do Uruguai no Rio de Janeiro uma semana depois da Copa. As autoridades uruguaias, porém, negaram a solicitação.

RBAImprensa denuncia que aeroporto de Cláudio (MG) foi construído em terreno de tio de Aécio Neves
Imprensa denuncia que aeroporto de Cláudio (MG) foi construído em terreno de tio de Aécio Neves. Divulgação

Em 20 de julho, no início da campanha eleitoral, o jornal Folha de S. Paulo publicou denúncias de que o governo de Minas Gerais teria construído aeroporto no terreno de um tio do ex-governador Aécio Neves na cidade de Cláudio (MG). A manchete inaugurou a temporada de acusações na campanha presidencial de 2014, que teria continuidade com o “vazamento” de depoimentos do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e do doleiro Alberto Youssef sobre esquema de desvio de verbas na estatal em benefício do PT e partidos aliados.

Divulgadas a partir de 10 de setembro pela revista Veja, as delações de Costa e Youssef, parte de uma investigação sigilosa da Polícia Federal, dariam munição para as campanhas de Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) contra a presidenta Dilma. O PT passaria a ser acusado intensamente de “aparelhar” o Estado e instalar uma quadrilha dentro da maior empresa do país. Novas acusações sobre a “dilapidação petista” no patrimônio público brasileiro teriam continuidade quando, em 18 de setembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou resultados equivocados sobre redução da desigualdade no país. A entidade publicou dados desfavoráveis ao governo federal, dizendo que o índice de desenvolvimento humano brasileiro havia sofrido leve recuo, com tendência de estagnação. Na verdade, havia sofrido leve alta, mostrando que a desigualdade social continuava caindo, embora em ritmo menor. A retificação engrossou os ataques contra Dilma. E o aeroporto de Cláudio (MG) ficou cada vez mais esquecido.

RBAÀs vésperas do primeiro turno, Marina Silva autoriza fotos ao lado de Alckmin para tentar capitalizar prestígio do tucano em São Paulo
Às vésperas do primeiro turno, Marina Silva autoriza fotos ao lado de Alckmin para tentar capitalizar prestígio do tucano em São Paulo

Eduardo Campos, presidente do PSB e candidato à Presidência da República, ordena às lideranças do partido em São Paulo a não divulgarem imagens de Marina Silva ao lado do governador Geraldo Alckmin. Então candidata a vice na chapa de Campos, Marina, que se apresentava como defensora de uma “nova política” e contrária à polarização PT x PSDB, não queria ver sua efígie atrelada ao governador de São Paulo, que se lançava à reeleição.

Alckmin, porém, tinha como vice o deputado federal Márcio França (PSB), liderança do PSB e tradicional aliado dos tucanos no estado. A negativa de Marina em aparecer ao lado de Alckmin tensionou a relação da ex-ministra do Meio Ambiente com setores do partido. Ao ser alçada à cabeça da chapa do PSB, após a morte de Eduardo Campos, Marina Silva manteria o veto – e anunciaria publicamente que jamais subiria no palanque do PSDB. Mas, no decorrer da campanha, as pesquisas foram apresentando resultados cada vez mais desfavoráveis à candidata. Em São Paulo, os mesmos levantamentos consolidavam a vitória de Alckmin no primeiro turno. Em 23 de setembro, a menos de uma semana do pleito, Marina decide ceder aos correligionários paulistas e autoriza fotos suas ao lado do tucano.

RBADiretores do Banco Santader, que enviou carta a investidores alertando sobre "riscos" da vitória de Dilma
Diretores do Banco Santader, que enviou carta a investidores alertando sobre "riscos" da vitória de Dilma. EFE

Em 25 de julho, o banco espanhol Santander enviou aos seus clientes de alto rendimento uma carta em que demonstrava preocupação com a situação econômica do país caso Dilma Rousseff (PT) fosse reeleita como presidenta da República. “Se a presidente se estabilizar e voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice Bovespa cairia, revertendo parte das altas recentes. Esse último cenário estaria mais de acordo com a deterioração de nossos fundamentos macroeconômicos.”

Em resposta aos diretores do Santander, o ex-presidente Lula condenou a interferência de instituições financeiras estrangeiras na disputa eleitoral e declarou que o banco jamais lucrou em outros países como no Brasil. “Não tem nenhum lugar do mundo em que o Santander esteja ganhando mais dinheiro do que no Brasil. Aqui ele ganha mais do que em Nova York, mais do que em Londres, do que em Pequim, Paris, Madri, Barcelona.”

O presidente do banco, Emilio Botín, prometeu que os fatos seriam apurados e os responsáveis pelo envio da carta, demitidos – o que, assegurou mais tarde, efetivamente ocorreu. Marina Silva (PSB) passaria a usar contra Dilma as declarações de Lula a favor dos altos lucros bancários, sobretudo quando começou a ser acusada de querer “entregar o país aos bancos” ao defender a autonomia do Banco Central. A divulgação da carta do Santander, porém, serviu como exemplo da ação coordenada de instituições financeiras e grupos de investimento contra a candidatura petista – e em favor dos representantes dos princípios econômicos liberais.

Antes, consultorias haviam divulgados relatórios sobre a “tragédia” que se abateria sobre o país num próximo mandato de Dilma. Uma delas, Empiricus Research, disse em relatórios intitulados “Como se proteger da Dilma” e “Fim do Brasil?” que a reeleição da presidenta colocaria a economia brasileira em grave risco. As oscilações da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ao sabor das pesquisas eleitorais também revelaram como o “mercado” se comportou diante da expectativa eleitoral. Quando Aécio Neves (PSDB) aparecia na frente, o índice Bovespa subia. Quando Dilma assumia a dianteira, caía. A bolsa também oscilou vertiginosamente com a morte de Eduardo Campos e as expectativas sobre como o acidente ajudaria na derrota do PT.

RBAEx-governador de Pernambuco morre em acidente aéreo e lança incertezas sobre a corrida eleitoral
Ex-governador de Pernambuco morre em acidente aéreo e lança incertezas sobre a corrida eleitoral. Agência Brasil

O jato Cessna Citacion 560XL que transportava Eduardo Campos cai em Santos (SP) por volta das 10h do dia 13 de agosto. Passageiros e tripulantes morrem instantaneamente. Foi uma manhã tensa para a política nacional. Antes de tomar conhecimento do desastre aéreo, correligionários do ex-governador o esperavam para um evento de campanha no litoral paulista começaram a se preocupar com seu atraso. E não conseguiam localizá-lo pelo celular. “Atraso é normal, perder o contato, não”, diriam aos meios de comunicação que já começavam a publicar notícias sobre o “sumiço” do candidato do PSB. Então veio a confirmação de que um avião havia caído em Santos – e, mais tarde, que Eduardo Campos era um dos ocupantes.

Pela primeira vez na história do país, um presidenciável morre em plena campanha. A tragédia obviamente causou rebuliço imprevisível no cenário eleitoral, que permaneceu indefinido. Quase que imediatamente, antes mesmo da identificação do corpo do ex-governador pernambucano, começaram especulações e articulações sobre o futuro da candidatura do PSB. Houve uma espécie de trégua. Dilma Rousseff e Aécio Neves, além de lideranças políticas nacionais, como Lula, abdicaram de discussões públicas para dar um último adeus a Eduardo Campos no Recife. Após o enterro, a família, encabeça pela viúva, Renata Campos, entrou nas negociações políticas. Adotou o slogan do falecido – “Não vamos desistir do Brasil” – e deu sinal verde para que Marina Silva assumisse o lugar do ex-governador.

RBAAo lançar candidatura, pesquisas apontam Marina Silva como favorita para vencer eleições
Ao lançar candidatura, pesquisas apontam Marina Silva como favorita para vencer eleições. Flickr

A comoção nacional causada pelo acidente, assunto único na imprensa, e o capital político de Marina Silva, fruto de sua trajetória e de sua participação nas eleições de 2010, transformaram imediatamente sua candidatura numa das favoritas na preferência popular. Em agosto, as pesquisas começaram a mostrar Marina Silva muito próxima de Dilma Rousseff, no primeiro turno, e à frente da petista, no segundo.

A ascensão da ex-senadora acendeu uma luz de emergência na campanha do PT, que começou então a “descontruí-la” com ataques considerados pesados até por Lula. O ex-presidente criticou os correligionários que compararam Marina a Jânio Quadros e Fernando Collor dizendo que um futuro governo marinista traria instabilidade ao país. Aécio Neves caiu para um esquecido terceiro lugar – inédito para o PSDB nos últimos 20 anos de disputas presidenciais – e ficou a salvo do bombardeio petista. Para reverter a onda de pessimismo e dar um recado ao mercado financeiro, Aécio anunciou, em debate na Band, em 27 de agosto, que nomearia o diretor do Banco Central durante o governo FHC, Armínio Fraga, como ministro da Fazenda.

A dificuldade do tucano em voltar a subir nas pesquisas fez com que, em 29 de agosto, começassem a circular rumores de que Aécio desistiria de concorrer à Presidência da República. O candidato se viu obrigado a convocar uma coletiva de imprensa para desmentir a notícia. Seu coordenador de campanha, José Agripino Maia, numa espécie de antecipação da derrota, deu declarações de que apoiariam Marina Silva no segundo turno contra Dilma Rousseff. O cenário mudaria lentamente, até o dia das eleições.

RBAHerdeira do Itaú e coordenadora da campanha marinista, Neca Setúbal foi duramente criticada pelo PT
Herdeira do Itaú e coordenadora da campanha marinista, Neca Setúbal foi duramente criticada pelo PT

Marina Silva lança seu programa de governo em 29 de agosto e, em menos de 24 horas, recua em propostas destinadas à população LGBT. Entre a divulgação do texto e a decisão de retificá-lo, Marina recebeu ameaças do pastor Silas Malafaia, um dos líderes da igreja evangélica Assembleia de Deus. “Aguardo até segunda-feira uma posição de Marina. Se isso não acontecer, na terça será a mais dura fala que já dei até hoje sobre um presidenciável”, escreveu Malafaia no Twitter.

Muitos atribuíram o recuo de Marina, que também é evangélica, às críticas do religioso. A campanha do PSB, porém, explicou que o recuo se deveu a um inofensivo erro de revisão no texto final. De uma maneira geral, as propostas de Marina Silva se transformariam em alvo de ataques por parte de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), que se apressaram em marcar diferenças em relação ao programa marinista – ou apontar partes copiadas de projetos historicamente defendidos por petistas e tucanos. Dilma atacou duramente as intenções de Marina de conferir autonomia ao Banco Central.

O PT pesou a mão contra uma das coordenadoras da campanha, Neca Setúbal, filha do banqueiro Olavo Setúbal e herdeira do Itaú. Sua presença na cúpula marinista e o programa econômico liberal foram explorados pelos marqueteiros petistas para transmitir a ideia de que Marina Silva “entregaria o país aos bancos”. O programa da candidata do PSB recebeu ainda críticas por suas propostas de aumentar a produtividade do trabalho e flexibilizar as leis trabalhistas – pontos que a candidata se apressava em desdizer em entrevistas e comícios.

“Perdemos muito tempo nos defendendo de pontos do programa e deixamos de apresentar nossas propostas”, diria, mais tarde, um dos dirigentes da Rede Sustentabilidade. Pese aos ataques, Marina foi a única presidenciável a apresentar um texto com propostas para o país durante boa parte da campanha. Temendo críticas da oposição, Dilma se recusaria a fazê-lo, dizendo que suas ideias já vêm sendo colocadas em prática há quatro anos. Aécio Neves apresentaria seu plano de governo em 29 de setembro, uma semana antes do pleito, sem maiores impactos.

RBADilma vence primeiro turno e enfrenta Aécio Neves no segundo, em resultado que não havia sido previsto pelas pesquisas
Dilma vence primeiro turno e enfrenta Aécio Neves no segundo, em resultado que não havia sido previsto pelas pesquisas. Divulgação

Em 5 de outubro, as urnas dão vitória a Dilma Rousseff, com 41,59% dos votos válidos. A candidata petista é seguida por Aécio Neves, com 33,55%, e por Marina Silva, com 21,32%. O resultado da apuração contraria o resultado das pesquisas eleitorais, mas confirma tendência de queda da candidata do PSB e a reação do tucano, que vinha sendo detectada nos últimos levantamentos. Durante a semana, as forças políticas brasileiras começariam a se alinhar aos presidenciáveis que passaram ao segundo turno. Dilma Rousseff não recebeu apoio formal de nenhum candidato ou partido, mas o Psol, de Luciana Genro, orientou seus militantes a não votarem em Aécio Neves em hipótese alguma. Eduardo Jorge (PV), Pastor Everaldo (PSC), Eymael (PSDC) e Levy Fidelix (PRTB), que acabara de protagonizar, em debate da TV Record, um dos discursos mais homofóbicos de toda a campanha, declararam voto em Aécio Neves.

RBAMarina Silva sobre em palanque de Aécio, contrariando declarações de campanha
Marina Silva sobre em palanque de Aécio, contrariando declarações de campanha

Marina Silva demoraria uma semana em fazê-lo. Esperou PSB e da Rede Sustentabilidade, seu partido extraoficial transformado em corrente do PSB, anunciarem suas posições. O PSB escolheu Aécio. A Rede autorizou seus militantes a votarem branco, nulo ou Aécio – contrariando pontos de seu próprio estatuto e o discurso crítico à polarização PT x PSDB que sustentara durante toda sua curta história. Antes de finalmente anunciar apoio e voto a Aécio, Marina exigiu que o tucano fizesse “acenos” à sociedade brasileira e assumisse compromissos com reforma agrária, reforma política, salário mínimo, desenvolvimento sustentável e demarcação de terras indígenas.

Aécio escreveu uma carta em 11 de outubro e, no dia seguinte, a ex-ministra disse que estaria com o tucano. Participaria de comícios junto do ex-governador de Minas Gerais, traindo sua própria promessa de que jamais subiria no palanque do PSDB, e gravaria mensagens para o programa eleitoral de Aécio na TV. A decisão de Marina Silva abriu feridas no PSB e na Rede Sustentabilidade, que entraram em “crises existenciais” após o posicionamento da ex-candidata. Racharam. As eleições de 5 de outubro também elegeram o Congresso Nacional “mais conservador” desde a redemocratização, de acordo com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Figuras historicamente identificadas com os direitos humanos, como Eduardo Suplicy e Nilmário Miranda, do PT, não conseguiram se reeleger. Por outro lado, Jair Bolsonaro (PP-RJ), defensor da ditadura e inimigo das pautas LGBT, foi o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro.

RBAAtaques marcam debate do SBT entre Dilma e Aécio
Ataques marcam debate do SBT entre Dilma e Aécio

As primeiras pesquisas eleitorais divulgadas no segundo turno apontavam vitória de Aécio Neves contra Dilma Rousseff. O cenário, porém, foi mudando com o reinício da campanha. Ataques pessoais e denúncias de corrupção deram o tom dos programas de televisão e dos comícios – e chegaram aos debates. No programa organizado pelo SBT, em 16 de outubro, Dilma e Aécio protagonizaram um dos embates de mais baixo nível na discussão política de 2014, esquecendo propostas e preferindo trocar denúncias de corrupção, nepotismo e ineficiência administrativa.

A candidata do PT sofreu uma queda de pressão e passou mal durante entrevista para o SBT após o término do programa. No mesmo dia, o pleno do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) votaria resolução proibindo ataques pessoais nos programas televisivos do segundo turno e exigindo que os candidatos apresentassem propostas. A decisão favoreceu o candidato do PSDB, uma vez que sua vida e seu desempenho como administrador público jamais passaram pelo bombardeio que o governo petista sofre permanentemente dos grandes meios de comunicação. Na última semana antes do pleito, as pesquisas começaram a colocar Dilma Rousseff em primeiro lugar na corrida presidencial. A vantagem cresceu e, em 23 de outubro, três dias antes das eleições, a petista havia aberto seis pontos percentuais em relação ao tucano.

RBANa TV, presidenta responde com dureza capa da revista Veja em que é acusada de "saber tudo" sobre os desvios na Petrobras
Na TV, presidenta responde com dureza capa da revista Veja em que é acusada de ‘saber tudo’ sobre os desvios na Petrobras. Divulgação

No mesmo dia, a revista Veja divulgou antecipadamente sua capa, com uma foto de Dilma e Lula ao lado dos dizeres: “Eles sabiam de tudo”; o termo “Petrolão”, tentativa que aproximar os casos do mensalão e os recentes escândalos da Petrobras; e a seguinte introdução: “O doleiro Alberto Youssef, caixa do esquema de corrupção na Petrobras, revelou à Polícia Federal e ao Ministério Público, na terça-feira passada, que Lula e Dilma Rousseff tinham conhecimento das tenebrosas transações na estatal”. A presidenta aproveitou seu último programa eleitoral, em 24 de outubro, para responder com veemência inédita as acusações da revista. “Sou defensora intransigente da liberdade de imprensa. Mas a consciência livre da Nação não pode aceitar que mais uma vez se divulguem falsas denúncias no meio de um processo eleitoral em que o que está em jogo é o futuro do Brasil. Os brasileiros darão sua resposta a Veja e seus cúmplices nas urnas. E eu darei a minha resposta a eles na Justiça”, ameaçou.

RBALula e Dilma comemoram vitória apertada nas urnas
Lula e Dilma comemoram vitória apertada nas urnas. Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Em vitória apertada, a presidenta Dilma Rousseff (PT) garante sua reeleição com 51,64% dos votos válidos. Aécio Neves, com 48,36%. “Não acredito, sinceramente, do fundo do meu coração, que essas eleições tenham dividido o país ao meio. Entendo, sim, que elas mobilizaram ideias, emoções, às vezes contraditórias, mas movidas por um sentimento comum: a busca de um futuro melhor”, diz Dilma, cujo mandato completará um ciclo de 16 anos do PT na Presidência da República. “Em lugar de ampliar divergências, de criar um fosso, tenho forte esperança de que a energia mobilizadora tenha preparado um bom terreno para a construção de pontes. O calor liberado no fragor da disputa pode e deve agora ser transformado em energia construtiva de um novo momento no Brasil.”