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Paraná tem primeira escola estadual ocupada por qualidade do ensino e da merenda

Colégio Dr. José Gerardo Braga, de Maringá, foi ocupado hoje. Alunos querem infraestrutura e merenda de qualidade e apuração de desvios de recursos do setor para a reeleição de Beto Richa (PSDB)

Facebook/Gerardo Ocupado

Secundaristas fizeram hoje o primeiro almoço na primeira escola ocupada no Paraná. Merenda está entre as reivindicações

São Paulo – Cerca de cem estudantes secundaristas ocuparam na manhã de hoje (18) o Colégio Dr. José Gerardo Braga, em Maringá, o primeiro caso no Paraná. A mobilização ocorreu após assembleia com participação de estudantes de várias escolas da região.

De acordo com Matheus dos Santos, presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes), os alunos reivindicam uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as razões de mudanças na merenda escolar. A alimentação à base de arroz feijão, macarrão, hortifrútis e carnes perdeu qualidade, variedade e quantidade nos últimos meses. “Hoje está sendo servido biscoito, chá, purê de batata industrializado. Quando vem arroz, está cheio de caruncho”, diz Matheus. “E as merendeiras ficam racionando as porções porque as escolas recebem em menor quantidade. A comida é pouca e de qualidade ruim.”

Ele conta que a infraestrutura escolar também é precária no estado. Morador de Foz do Iguaçu, diz que há no município escolas estaduais sem piso e sem bebedouros. “Os alunos tomam água no mesmo local em que fazem xixi. Em outras, já caiu telhado de sala de aula. Aqui no José Gerardo chove dentro de muitas salas”, disse.

Segundo o líder estudantil paranaense, houve hoje uma reunião com representantes da Polícia Militar e do Núcleo Regional de Educação, com participação da direção do colégio que já se opôs à ocupação. O Núcleo se comprometeu a fazer a interlocução dos estudantes com o governo, e a PM, a fazer “a segurança, e não a repressão”. Até agora não há pedido de liminar pela reintegração de posse.

De acordo com Matheus, os estudantes se comprometeram a não ocupar a sala da direção. “Vamos usar a cozinha para preparar as refeições mas não mexeremos na despensa. Tomamos cuidado para registar em ata e filmar as condições do prédio para não virmos a ser acusados de danos ao patrimônio, como tem acontecido em São Paulo, para criminalizar o movimento dos estudantes. Estamos criando documentos e um manifesto da ocupação”, disse.

Em nota em seu site, a Secretaria da Educação (Seed) informa que as 2.100 escolas já receberam 3 mil toneladas de alimentos destinados à merenda escolar desde fevereiro, com 50 itens de alimentos não perecíveis, carnes bovina, filé de peixe e almôndegas. Somente em Maringá e região foram entregues 143 toneladas.

A secretaria afirma que depositou R$ 2,6 milhões direto na conta das escolas para que pudessem repor com complementos até a chegada das novas remessas.

O governo diz que a partir do dia 30 deste mês as escolas estaduais vão começar a receber a terceira entrega de alimentos não perecíveis. Já no início do próximo mês a Secretaria da Educação irá iniciar a entrega dos alimentos oriundos da Agricultura Familiar, que inclui frutas, verduras, hortaliças, panificados entre outros. Ainda nessa semana as escolas vão receber mais de 1,4 milhão de dúzias de ovos para complemento da alimentação escolar.

Desvios de recursos

Em meio à situação precária da educação estadual, há um escândalo envolvendo o governo de Beto Richa (PSDB) em desvios de recursos do setor muito provavelmente para a sua campanha de reeleição.

Em meados de 2015, o Grupo de Atuação Especializado de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná, descobriu irregularidades em dez contratos da Seed com a empresa Valor Construtora e Serviços Ambientais, firmados entre 2011 e 2014.

O governo pagava por falsas medições na evolução da construção e de reforma de escolas que nem sequer haviam sido iniciadas. No escândalo foram denunciados o então diretor de engenharia, projetos e orçamentos da Secretaria da Educação, Maurício Fanini, que foi exonerado, e o dono da construtura, Eduardo Lopes de Souza, além de outras 13 pessoas.

Segundo o Gaeco, no escândalo de desvio de recursos da educação, Juliano Borghetti, cunhado do atual  ministro da Saúde Ricardo Barros, tinha a missão de agilizar pagamentos por obras que nem saíram do papel. Depoimentos colhidos na Operação Quadro Negro, que apura o desvio de quase R$ 20 milhões, sugerem o envolvimento da alta cúpula da política do estado no esquema de corrupção.

Entre elas, Juliano Borghetti, cunhado do atual  ministro da Saúde Ricardo Barros, que recebeu quatro parcelas de R$ 15 mil da Valor com a missão de agilizar pagamentos à empresa a partir dos contatos que manteria com servidores da Casa Civil. Depoimentos colhidos no âmbito da Operação Quadro Negro, que apura o desvio de quase R$ 20 milhões destinados a obras de escolas estaduais do Paraná, sugerem o envolvimento da alta cúpula da política do estado no esquema de corrupção.

Em janeiro, a 9ª Vara Criminal de Curitiba recebeu denúncia do Gaeco contra os 15 denunciados na Operação Quadro Negro. Na ocasião, a Justiça havia decretado a prisão preventiva de duas pessoas que já haviam sido denunciadas: a esposa e a irmã do proprietário da empresa Valor. A primeira foi presa no dia 15 de janeiro e a segunda não havia sido localizada.

Com informações da Gazeta do Povo