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Nova secretária promete proposta rápida a professores em greve no Paraná

Governo decidiu que não descontará os dias parados; docentes estão em greve por reajuste de 13,01%

Agência Paraná

Mudança de postura do Richa é um indicador do desgaste autoimposto pelo massacre perpetrado contra professores

Curitiba – Apenas um dia depois de ter sido nomeada secretária da Educação do Paraná, Ana Seres Comin recebeu representantes da APP Sindicato e do Fórum Estadual dos Servidores hoje (7) em Curitiba e comprometeu-se a apresentar o mais rapidamente possível uma nova proposta de reajuste salarial aos professores com o objetivo de pôr fim à segunda greve da categoria em menos de dois meses. Ao término da reunião de aproximadamente uma hora e meia, o presidente da APP Sindicato, Hermes Leão, enfatizou que os professores aguardam apenas a apresentação de uma proposta formal de reajuste pelo governo para que uma nova assembleia da categoria seja convocada e defina se a greve prossegue ou não.

Desde terça-feira (5), quando os professores decidiram pela continuidade da greve, a expectativa era de que uma nova assembleia não ocorreria antes do meio da próxima semana, já que servidores e governo haviam marcado um novo encontro para a manhã do dia 12. A reunião da próxima semana continua em pé, mas Ana Seres comprometeu-se a apresentar as condições dos professores à Casa Civil e à Secretaria de Administração ainda hoje e preparar uma nova proposta para a categoria “o mais rápido possível”. O objetivo do governo é tornar viável o fim da greve e limitar os danos provocados pela repercussão negativa do massacre do Centro Cívico.

Os professores exigem 13,01% de reajuste para todas as faixas salariais e também para os funcionários de escola. O objetivo principal do índice é cobrir a defasagem do magistério em relação ao piso nacional dos professores. “Nós apresentamos nossas condições. Tudo está nas mãos do governo agora”, afirmou a secretária de Funcionários da APP, Nádia Aparecida Brixner, que participou da reunião.

Ana Seres também assumiu em nome de governador tucano Beto Richa o compromisso de não lançar as faltas dos professores em greve. Desde o início da paralisação, no começo da semana passada, Richa vinha afirmando que os dias parados seriam descontados. “É importante dizer que as faltas lançadas em abril já foram retiradas da folha, que roda hoje, e o governo comprometeu-se a não lançar as faltas de maio”, prosseguiu Nádia Brixner.

A mudança de postura do governo Richa é um indicador do desgaste autoimposto pelo massacre perpetrado pela Polícia Militar paranaense contra professores e servidores que protestavam em Curitiba contra a votação, na quarta-feira da semana passada, do projeto de lei apresentado pelo governo para alterar os fundos dos quais são desembolsados os recursos para pagar aposentados e pensionistas do Estado com 73 anos de idade ou mais. Mais de 200 pessoas ficaram feridas na repressão aos manifestantes.

Nos dias seguintes, o governo Richa primeiro tentou colocar a culpa da violência nos servidores, mais precisamente em elementos radicais supostamente infiltrados. A versão logo foi desmentida pelas filmagens e fotografias que flagraram os excessos cometidos pela polícia naquela tarde e o secretário de Segurança Pública, Fernando Francischini, então transferiu a responsabilidade “operacional” do massacre para o comando da PM, que por sua vez recusou-se a assumir solitariamente a culpa pela ação desmedida contra os servidores. O jogo de empurra resultou, por enquanto, apenas na queda do então secretário de Educação, Fernando Xavier.

“Se formos analisar criteriosamente, o Fernando Xavier era quem menos tinha culpa pela situação. Ele assumiu a Educação há poucos meses para lidar com uma situação que já estava posta e com a incumbência de cortar gastos”, observa o professor Luiz Carlos Paixão, integrante do comando de greve. “O Francischini, o comando da PM e a Casa Civil são muito mais responsáveis por toda essa situação do que o Xavier”, afirmou o professor.

De qualquer modo, a relação entre os professores e a nova secretária da Educação já começa em um tom diferente do observado nos últimos meses. “O Xavier ficou mais de quatro meses no cargo e só nos reunimos com ele uma vez nesse período. A Ana Seres entrou ontem e hoje já nos chamou para uma reunião”, comparou Nádia Brixner. “É claro que se trata de uma situação de crise e que exige uma solução, mas parece um bom sinal. Além disso, ela é professora aposentada e conhece o assunto, diferente de Fernando Xavier, que não era da área.”

Enquanto isso, os professores da rede de ensino público estadual continuam acampados em frente à sede do governo e promovem acampamentos em todas as 29 cidades onde a APP mantém núcleos regionais, conforme aprovado pelos professores na assembleia de terça-feira.

Integrantes do comando de greve têm percorrido desde então as escolas para avaliar a situação da greve. “Esperávamos uma adesão de aproximadamente 70% quando a greve foi lançada, mas calculamos agora que 85% dos professores e funcionários estão parados no estado. Em Curitiba, a adesão passa com segurança dos 90%”, afirmou Paixão.