Brasil no Mapa da Ciência

Lula anuncia reajuste e expansão das bolsas de ensino e pesquisa

Correções nas bolsas de graduação, pós-graduação, iniciação científica e Bolsa Permanência são as primeiras em uma década

Reprodução/TVBrasil
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"Nosso trabalho está, finalmente, sendo reconhecido. E podemos continuar sonhando", relatou a bolsista Cecília

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta quinta-feira (16) aumento e expansão das bolsas de estudos para estudantes e professores do país. Os reajustes serão entre 25% e 200%. Entre os programas contemplados, estão bolsas de graduação, pós-graduação, iniciação científica e Bolsa Permanência. A última correção ocorreu em 2013. “Queremos ser exportadores de conhecimento, alta tecnologia, ciência. Para isso temos que investir em educação e pesquisa (…). Viemos para mudar as coisas. As pessoas passarão a ser tratadas com respeito”, disse o petista.

Serão, apenas em 2023, 57 mil novas bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e mais 10 mil do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Já os reajustes, válidos a partir de março, serão:

  • Iniciação Científica no Ensino médio: R$ 300 (era R$ 100)
  • Iniciação Científica na graduação: R$ 700 (era R$ 400)
  • Mestrado: R$ 2.100 (era R$ 1.500)
  • Doutorado: R$ 3.100 (era R$ 2.200)
  • Pós-doutorado: R$ 5.200 (era R$ 4.100)

As bolsas para formação de professores da Educação Básica terão reajuste entre 40% e 75%. Atualmente, elas variam entre R$ 400 e R$ 1.500. Já os aumentos da Bolsa Permanência, criada durante o governo da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) para evitar a fuga de cientistas do país, vão de 55% a 75%. Será o primeiro aumento neste programa desde sua criação. Atualmente, os valores vão de R$ 400 a R$ 900.

Reconstrução

Lula destacou que o esforço faz parte de uma nova visão de governo. “A única coisa que não incomoda ninguém é o pagamento dos juros. Isso eles acham que é investimento. Dar comida para o povo é gasto. Educação é gasto. Investimento em pequena e média empresa é gasto. Nesse governo, tudo que formos fazer para atender as necessidades do povo brasileiro será chamado de investimento”, disse.

O presidente reforçou que herdou o Estado em situação de desmonte do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Não apenas na educação. “Em todas as áreas temos que mostrar como encontramos esse país. Não podemos esquecer. Temos uma fábrica de mentiras. Eles vão voltar a mentir. Eles não sabem trabalhar com a verdade (…). É importante sabermos que país herdamos. Um país que há sete anos não aumenta a merenda escolar. Dez anos sem reajuste de bolsas. Um país que foi semi destruído na Cultura, na Educação, no Emprego”, argumentou.

Por fim, Lula falou sobre projetos de investimentos em diferentes áreas. Para o presidente, o governo deve atender a todos, dos mais pobres à classe média. “Só no ano de 2023, nosso governo vai investir mais em infraestrutura do que o ex investiu em quatro anos. Ele usou R$ 20 bilhões em quatro anos. Em um ano, vamos investir R$ 23 bilhões. Faremos mais 2 milhões de novas residências. A maior parte para quem ganha até dois salários mínimos. Também vamos atender a classe média, que não é contemplada em quase nada. Ela fica órfão de governo. Além das pessoas mais pobres, temos que cuidar também da classe média.”

Detalhes das bolsas

O ministro da Educação, Camilo Santana, deu mais detalhes sobre o reajuste das bolsas. “Estamos ampliando de 218 mil bolsas para 275 mil só da Capes, um aumento de 26% no MEC. Ampliamos o orçamento da Capes em R$ 2,4 bilhões a partir deste anúncio. Saímos de R$ 3,4 para R$ 5,4 bilhões. Investimentos em bolsas”, disse.

De acordo com o ministro, o país viveu, nos últimos anos, um período obscuro. “Um período de um governo que fez um descaso com o patrimônio do país. Um governo que desmontou políticas. Agora precisamos de união e reconstrução. Vamos reconstruir o Ministério da Educação. Digo a todos alunos, professores, pesquisadores, reitores, secretários, governadores e prefeitos que as portas do MEC estão abertas para o diálogo e para a reconstrução.”

Sinal de mudança

Camilo lamentou que “professores e pesquisadores sofreram nos últimos anos nesse país”. O reajuste das bolsas é compreendido pela comunidade científica como um sinal de mudança nessa visão. Trata-se, inclusive, de uma promessa de campanha de Lula, executada em pouco mais de 40 dias de governo. A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, também carregou a bandeira das correções nos últimos anos. Ex-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), possui histórico de mobilizações em benefício da Educação.

“Educação e Ciência estão muito prestigiados no nosso governo. Temos ministros em peso aqui, são muitos. Comandante da Marinha, senadores, Randolfe (Randolfe Rodrigues, líder do governo no Senado), deputados. Esse aumento contempla, ao todo, mais de 250 mil estudantes. Buscamos repor a perda dos últimos anos. É prova inequívoca do compromisso desse governo com a formação de novos pesquisadores. Neste governo, a ciência será tratada como política de Estado. Será um pilar do desenvolvimento nacional. Damos um importante passo, mas temos muitos desafios”, disse.

A diretora de Relações Institucionais da UNE, Thaís Bernardes, reconheceu a relevância da valorização da pesquisa e do ensino ainda nos primeiros dias de governo. “É muito emocionante estarmos aqui hoje. É a prova de que toda a luta vale a  pena. Estamos há 13 anos sem reajustes. Trabalhamos muito na campanha do presidente Lula. Estamos aqui hoje para prestigiar essa cerimônia. Estamos reconhecendo que hoje a Educação foi, de fato, prioridade do governo. Em menos de dois meses temos condições de dar essa notícia. Me lembro da mobilização para colher assinaturas para a CPI do MEC. E olha hoje. É uma vitória de quem decidiu defender a Educação e defender um novo Brasil”, afirmou.

Bolsas mudam vidas

O presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Vinícius Santos Soares, também prestigiou o evento e deixou seu depoimento. “Sou doutorando de Saúde Coletiva da UFRJ. Só estou aqui porque sou fruto da universidade pública. O primeiro da minha família a entrar na universidade e primeiro a ser pós-graduado. Fui bolsista do CNPq, do Ciência sem Fronteiras. Foi o que me permitiu estudar. As bolsas são instrumento de atração de novos talentos. Reajustes das bolsas é uma das políticas mais acertadas que esse governo dá. Estamos falando de desenvolvimento nacional”, contou.

Soares também comemorou a mudança de governo. “Passamos anos de escuridão e agora voltamos a enxergar a ciência. É a primeira vez que um presidente tem a ciência na agenda prioritária do governo em menos de 100 dias. É o caminho que vai devolver a ciência nacional seu lugar no desenvolvimento nacional. Estamos dispostos para tirar o Brasil do Mapa da Fome e colocar no Mapa da Ciência.”

Linha de frente

História semelhante é a da doutoranda em Física da Universidade de Brasília (UnB) Cícera Maria Viana de Araújo. “Fui a primeira da família a me formar no Ensino Superior. Seguindo o sonho de ser pesquisadora, me mudei para Brasília para cursar mestrado em Física. Chegando aqui não tive bolsa, passei um ano com a ajuda de familiares, amigos e colegas. Hoje, estou no doutorado em Física com bolsa.  Como muitos colegas, nos últimos anos passamos por maus momentos. Situações de incerteza, de medo, de desvalorização do que fazemos com grande orgulho e amor, que é a Ciência. Sempre que a Ciência era atacada e menosprezada pelo último desgoverno, nós também éramos”, relatou.

“Estamos todos os dias na linha de frente fazendo ciência. Muitas vezes trabalhamos sob péssimas condições, ganhando pouco e, mesmo assim, fazendo pesquisas de alto impacto internacional. Por isso, a importância deste momento. Nosso trabalho está, finalmente, sendo reconhecido. E podemos continuar sonhando”, finalizou.