Corte de vagas na USP vai atingir alunos de escolas públicas, critica diretor de cursinho popular

(Foto:Divulgação) São Paulo – O corte de 330 vagas em cursos do campus da zona leste da Universidade de São Paulo (USP), em discussão pela reitoria da instituição, é uma […]

(Foto:Divulgação)

São Paulo – O corte de 330 vagas em cursos do campus da zona leste da Universidade de São Paulo (USP), em discussão pela reitoria da instituição, é uma demonstração da mentalidade elitista e excludente, afirma o diretor do Cursinho da Poli, Gilberto Giusepone Junior.  Relatório de um grupo de trabalho da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each), a unidade a que estão ligados os cursos da USP Leste, indica a extinção do curso de Obstetrícia e o corte de 320 vagas em outros cursos do campus.

O cursinho reuniu mais de 4 mil assinaturas contra o fechamento das vagas para pressionar a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e a pró-reitoria de graduação da universidade.

Matéria veiculada no Jornal do Campus, produzido como jornal-laboratório por estudantes de jornalismo da universidade, cita que alunos e professores foram pegos de surpresa. Eles teriam tomado conhecimento das medidas por meio de reportagens na imprensa.

Diante da repercussão negativa dos cortes, a reitoria enviou esclarecimentos à comunidade acadêmica. O órgão informou que um grupo de estudos com o objetivo de reorganizar a estrutura curricular da graduação, remanejar parte das vagas existentes e apontar soluções para cursos com evasão ou baixa procura foi formado em julho de 2010 e realizou 11 reuniões com docentes, coordenadores e alunos.

A presidência do grupo de trabalho esteve a cargo de Adolpho José Melfi, ex-reitor da USP, que comandou a criação da Each. O jornal também destaca que o relatório não tem caráter deliberativo e será analisado pelas instâncias competentes da unidade de maneira transparente.

Para Giusepone, do Cursinho da Poli, a conduta da USP é preocupante e deve atingir alunos de escolas públicas. “É uma postura absolutamente elitista em nossa opinião, porque obviamente a redução de 30% das vagas na USP Leste prejudica alunos, principalmente, de escola públicas”, analisa.

“A USP sempre foi reticente a programas de inclusão e na discussão de cursos noturnos”, exemplifica. O diretor do Cursinho da Poli acredita que a USP perde, sistematicamente, oportunidades de desburocratizar o acesso à universidade. “Enquanto vemos o crescimento de vagas e a abertura de cursos nas universidades federais, a USP propõe a redução de vagas”, aponta.

Ele analisa que as justificativas da instituição para o corte de vagas, como a baixa procura pelos cursos, salas lotadas e a necessidade de melhorar a qualidade dos alunos que vão ingressar na universidade são formas de exclusão. “Conhecendo o espírito conservador da USP, essa é uma tentativa de ser elitista, selecionar pela nota do vestibular e não democratizar acesso”, diz.

Caso a proposta do grupo de estudos seja efetivada, o curso de Licenciamento de Ciências da Natureza terá um corte de 80 das 120 vagas atuais. Já Gestão Ambiental perderá 40 das 120 vagas. Os cursos de Ciência da Atividade Física e Sistema de Informação devem perder 30 vagas cada um. Têxtil e Moda, Lazer e Turismo, Marketing e Gestão de Políticas Públicas ficarão com 20 vagas a menos cada um e Gerontologia perderá 10 vagas.

 Alternativas

A universidade teria outras alternativas para resolver os problemas, antes de cortar vagas, cita o diretor do Cursinho da Poli. “O reitor resolveu pelo lado mais simples para ele. Quando se diz que há cursos com 60 alunos em salas com capacidade para 50, por que não abrir duas salas de 30 alunos?”, questiona.

Giusepone sugere ainda maior divulgação dos cursos em que a procura seria baixa.  “Vamos reduzir vagas porque o pessoal não procura (o curso), mas não seria melhor a USP procurar mecanismos de informar a comunidade sobre cursos que há lá para aumentar a demanda”, critica.

Ele denuncia que há um movimento de sucateamento da universidade, em especial, nos cursos da área das ciências humanas. “Se pegarmos a Escola Politécnica, a (faculdade) de medicina ou a de economia, são unidades que conseguem parceria (com a iniciativa privada) e têm fundações (associadas que captam recursos). Na área de humanas, há muitos problemas em termos de manutenção predial, contratação de professores e a cada ano que passa a universidade vem sendo sucateada”, constata.

Na tentativa de impedir os cortes na USP Leste, a direção do Cursinho da Poli promete pressionar a Alesp e a Pró-Reitoria de graduação da USP. “Vamos protocolar nosso abaixo-assinado (na Alesp) e exigir interferência nessa ação contraditória de uma universidade pública”, dispara. No dia 22 de março, os deputados estaduais paulistas aprovaram a constituição de uma Comissão Especial Parlamentar para acompanhar o plano de reestruturação e a crise no campus da zona leste.