Apesar de dificuldades, MEC vê avanços no combate ao analfabetismo funcional

Prova Brasil oferece, desde 2005, ferramenta de diagnóstico de falhas no ensino fundamental. Mesmo assim, governo ofereceu 4,6 milhões de vagas para educação de Jovens e Adultos em 2009, como parte do programa de redução do analfabetismo no país

MEC ampliou sistema de avaliação para diagnosticar deficiências e melhorar ensino fundamental (Foto: Sxc.hu)

São Paulo – O Ministério da Educação (MEC) reconhece a necessidade de ampliar o sistema de avaliação para combater o analfabetismo funcional no país. Segundo o diretor de Educação de Jovens e Adultos, Jorge Teles, estados e municípios evitam assumir responsabilidades sobre o problema, que atinge 20% da população, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) 2009.

Uma das ações do MEC na tentativa de reduzir o problema foi criar a Prova Brasil, em 2005, para aprimorar a identificação de falhas no ensino, mas ainda é preciso mais tempo para garantir resultados. A melhoria na avaliação, segundo ele, permitiria identificar e alocar os recursos disponíveis para implantar programas de melhoria do ensino básico. “(Até então), não havia diagnóstico da qualidade da oferta”, explica Teles, em entrevista à Rede Brasil Atual.

Teles avalia que, apesar do alto índice de analfabetismo funcional no país, nos últimos anos, o MEC deu passos ousados na tentativa de acelerar a velocidade da melhoria no ensino no país. “As próximas gerações terão uma escola melhor. Mas nós estamos trabalhando para essa geração que está aqui e agora sendo atendida pela escola tenha acesso a uma educação de qualidade”, defende-se o diretor do ministério. Ao longo de 2009, o MEC ofereceu 4,6 milhões de vagas para educação de Jovens e Adultos, em todas as regiões brasileiras.

A cada dois anos, a Prova Brasil é aplicada a todos os alunos, o que permite perceber as deficiências dos estudantes e localizar falhas no ensino. Inicialmente, o exame era aplicado apenas ao final do ensino fundamental e depois passou a ser realizado em fases, na segunda, quarta e oitava séries desse ciclo de ensino. Há provas para disciplinas de língua portuguesa e matemática.

O exame revelou dados sobre problemas de alfabetização no país e deu base a novas ações do ministério. “Depois de quatro anos de estudo as pessoas chegavam semialfabetizadas, às vezes até analfabetas no sexto ano”, aponta Teles. A aplicação no segundo ano, chamada de Provinha Brasil, permitiu ir além. “A provinha  consegue avaliar se está evoluindo a alfabetização e tem mais dois anos para trabalhar com a criança, antes dela entrar na segunda fase do ensino fundamental”, aponta.

As avaliações do MEC procuram ajudar as redes estaduais e municipais a compreenderem se estão trabalhando de forma eficaz na alfabetização das crianças e a reagirem mais rapidamente, detalha o diretor do MEC. A partir do diagnóstico das deficiências, as escolas podem apresentar projetos para o Plano de Ações Articuladas do MEC.

Outra prova realizada pelo ministério, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ainda não consegue detectar a que nível chegou o analfabetismo funcional entre candidatos a uma vaga na universidade. Isso porque até 2009 os alunos que prestaram a prova, em geral, apresentavam bom desempenho, explica Teles. Com a maior adesão à prova, esperada em 2010, o MEC também terá o exame como forma de diagnóstico do analfetismo funcional e das deficiências escolares no país.

Esforço pessoal

Teles aponta que parte do processo de redução do analfabetismo funcional também depende dos alunos. Isso porque a busca por mudanças depende de a pessoa ser confrontado com situações que exijam a busca por melhoria. “Não reconhecer o analfabetismo não ocorre por vaidade, como alguns podem julgar. Às vezes, o domínio da língua que ele possui é suficiente para o uso que ele faz”, analisa.

Um dos problemas é a ausência de estímulos para as pessoas lerem e escreverem mais. “Hoje mesmo, na internet, os textos são breves, pontuais. Quando se lê um texto mais pesado mais denso, há uma dificuldade enorme”, descreve. “A maioria da população usa internet mais para relacionamento, não para estudar”, opinaTeles.

Mas, quem quer começar ou voltar à escola, Teles informa que há programas educacionais em todos os níveis. “O projeto do MEC para educação de adultos é como uma esteira: pode entrar a qualquer momento e completar a educação básica ou profissional com qualidade”, explica o especialista.