"Escapuliu?"

Coordenador de comitê ‘vaza’ mudança nas regras para liberar volta às aulas em São Paulo

Em coletiva, coordenador do comitê de saúde de Doria apresentou regras mais brandas e ainda não oficializadas para a volta às aulas em São Paulo

Secom/GovSP
Secom/GovSP
Doria, o secretário da Saúde, Jean Carlo Gorinchteyn, e Menezes, na coletiva que 'vazou' mudança na volta às aulas

São Paulo – As regras para a volta às aulas em São Paulo podem ter sido afrouxadas para garantir a reabertura das escolas em 8 de setembro, como proposto pelo governador João Doria (PSDB). Ao ser questionado sobre o tema, em entrevista coletiva realizada hoje (27), o coordenador do Comitê de Contingência do Coronavírus de São Paulo, Paulo Menezes, apresentou regras completamente diferentes das estabelecidas no dia 24 de junho, quando Doria anunciou o plano. Na última sexta-feira (24), os dados do avanço da pandemia de covid-19 demonstraram que as metas para o retorno na data proposta não foram atingidas, o que praticamente decretava o adiamento das atividades escolares.

Segundo os critérios elaborados pelo Comitê, seria preciso que, por pelo menos 28 dias consecutivos, todas as 22 regiões de saúde do estado estivessem na fase 3-amarela do Plano São Paulo, que coordena a flexibilização da quarentena. No entanto, hoje ainda há três regiões na fase 1-vermelha, a mais restrita. Como o intervalo de avanço nas fases do plano é a cada duas semanas, uma data provável de retomada só ocorrerá na última semana de setembro ou no início de outubro.

Mas, ao ser questionado sobre a volta às aulas na tarde de hoje, Menezes disse que o comitê aprovou uma série de regras sobre o tema. “Essas regras requerem que o estado todo esteja pelo menos classificado como amarelo, por pelo menos duas semanas, e 80% da população deve estar no amarelo por pelo menos 28 dias. Então, vai depender da avaliação da evolução dos indicadores nas próximas duas semanas”, afirmou. Confira a fala do coordenador do comitê de saúde:

Fala do doutor Paulo Menezes, coordenador do Comitê de Saúde

Com essa mudança nas regras da volta às aulas, seria possível o estado atingir os critérios cumprindo a data de 8 de setembro. Hoje, metade da população de São Paulo já está na fase amarela do Plano São Paulo, sendo que a capital, que concentra 12 milhões de pessoas, já está há 28 dias nessa etapa.

A RBA questionou o governo Doria sobre a fala de Menezes. A Secretaria da Educação não desmentiu, nem confirmou a fala do coordenador e afirmou que a pasta continua seguindo as regras iniciais do plano de volta às aulas. A Secretaria da Saúde não se manifestou.

Na última sexta-feira, o próprio secretário de Saúde, Jean Carlo Gorinchteyn, admitiu que “muito possivelmente” a volta às aulas em São Paulo não vai ocorrer em 8 de setembro. “Nós definimos muito bem que, para que houvesse um início bem flexibilizado e gradual das aulas no dia 8 de setembro, algumas regras deveriam estar muito claras e seguras. Entre elas, que as 17 regiões de saúde – são 22 no Plano São Paulo – estivessem amarelas, por 28 dias. Se nós olharmos o mapa de hoje, nós temos áreas ainda em vermelho. Nós temos outras em laranja e outras, em amarelo. Então, muito possivelmente, essa expectativa não ocorrerá”, afirmou .

Apesar disso, o governo Doria já atropelou algumas vezes as regras do Plano São Paulo para acelerar o processo de reabertura do comércio. Há duas semanas, a região de Registro pulou direto da fase 1-vermelha para a faz 3-amarela, sem passar pela fase laranja. Além disso, o governo tucano já autorizou que comércios e serviços funcionassem mais horas que o estipulado na fase-2 laranja e que estabelecimentos que só poderiam abrir na fase 4-verde, pudessem abrir na fase 3-amarela.

Hoje mesmo, o governador anunciou que as cidades vão poder passar para a fase 4-verde do Plano São Paulo mesmo com alta ocupação de UTI. Hoje, a taxa máxima de ocupação de UTI para a fase verde é de 60%, mas poderá ser de até 75%. A mudança representa um novo afrouxamento das regras que coordenam a reabertura do comércio. O objetivo é facilitar a passagem da fase 3-amarela para a fase 4-verde, que permite a abertura em horário normal com até 60% da ocupação dos estabelecimentos.