vergonha

Escola incendiada em São Paulo continua em ruínas quatro anos depois

Escola Estadual Professora Renata Menezes dos Santos, na zona sul, pegou fogo em dezembro de 2014 e até hoje não há previsão de quando a unidade vai ser reconstruída

Para os moradores do bairro, a estrutura da escola abandonada lembra um cenário de guerra <span>(Danilo Ramos)</span>Área que antes servia de espaço para corridas e brincadeiras das crianças hoje está tomada pelo mato alto <span>(Danilo Ramos)</span>Maria Aparecida mantém todos os documentos relativos à escola sempre à mão vê descaso do governo estadual  <span>(Danilo Ramos)</span>Estrutura interna do teto da escola está ruindo, com muitas infiltrações e rachaduras <span>(Danilo Ramos)</span>Janaina queria que o filho Jefferson pudesse estudar na unidade, mas já não tem esperança que a reforma ocorra <span>(Danilo Ramos)</span>Área interna do prédio que restou está cheio de água e lodo em todas as salas e corredores <span></span>Jefferson lamenta não poder jogar futebol na quadra em ruínas, onde a estrutura das cestas de basquete ameça cair <span>(Danilo Ramos)</span>Vizinhas do prédio, Irvana e a filha, Ana Carolina, lamentam que a escola esteja na mesma situação desde o incêndio <span>(Danilo Ramos)</span>'A maior forma de diminuir custo no país é deixar queimar tudo e jogar os restos em outro lugar", diz o texto <span>(Danilo Ramos)</span>

São Paulo – Há quatro anos, a Escola Estadual Professora Renata Menezes dos Santos, no bairro de Barragem, extremo sul da capital paulista, pegou fogo. Desde, então, não se ouve mais a correria da criançada pela ampla área aberta, nos balanços, na quadra. O mato cresce por todos os lados, o revestimento interno do teto do prédio já foi ao chão, há infiltrações e água parada por todo o lado. Da parte anexa, feita de lata, nada restou, além das diferenças de piso que permitem identificar onde eram banheiros, cozinha, pátio e um pequeno palco. “Toda a comunidade tinha orgulho dessa escola. Não era só as crianças que gostavam”, relatou Janaína Santos Neves, que de cinco filhos, dois estudaram lá.

Levou dois anos até que o governo de São Paulo, à época chefiado por Geraldo Alckmin (PSDB), retirasse os destroços resultantes do incêndio. A parte de lata – chamada de padrão Nakamura pelo governo estadual – ficou totalmente destruída. Várias promessas de reconstrução da escola foram feitas. Mas, até agora, só resta no local o prédio de alvenaria, “que parece um cenário de guerra”, segundo Janaína. As causas do incêndio nunca foram explicadas. 

“Queria que meus mais novos estudassem aqui, mas acho que não vai ser possível. Era um ambiente ótimo, tinha brinquedos, uma bela área verde, excelentes professores, cursos para as famílias, com teatro, artesanato”, lamentou ela.

As 600 crianças matriculadas acabaram transferidas para a Escola Estadual Joaquim Álvares Cruz, a cerca de 2,5 quilômetros de distância da Renata Menezes. Foi aberto um torno à noite para o ensino médio. Os períodos foram divididos, com as turmas que eram da Renata Menezes estudando de manhã.

Para transportar as crianças, o governo paulista disponibilizou seis ônibus para fazer o traslado. Porém, em tempos de chuva, como registrado nas últimas semanas, os veículos não conseguem chegar em todos os pontos do bairro, obrigando as crianças a se deslocar até a área onde o transporte consegue chegar. Ou ir andando direto até à escola. 

“Queria estudar aqui. A outra escola é pequena, não tem esse espaço pra gente correr, brincar”, disse Jefferson, filho de Janaina, que demonstra afinidade em percorrer o espaço, embora a mãe diga ter medo de deixar as crianças brincarem no espaço. “Aqui quem cuida da área são só os vizinhos. A gente tem medo que apareça algum bicho, nesse mato alto, nos buracos das paredes”, explicou.

Vizinha da escola, Irvana Maria de Oliveira cansou das promessas. “Desde o incêndio isso aí tá abandonado. Vira e mexe vem alguém dizer que vai reformar, que vai reabrir. E vai passando o tempo. A escola faz muita falta, são muitas crianças aqui que acabam tendo de ir até lá embaixo. Era tudo arrumadinho, tinha escola da família, tinha um refeitório legal”, relatou. A filha dela, Ana Carolina, também queria poder estudar na unidade. “Eu ia brincar quando era pequena. A escola ficava aberta, a gente podia brincar no gramado, no parquinho”, contou.

Com uma pasta cheia de documentos, Maria Aparecida Custódio, representante da comissão de bairro pela reconstrução da escola, contou que em 8 de janeiro deste ano foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo a conclusão da licitação pela reconstrução da escola, com a Robmak Engenharia como vencedora. No entanto, depois disso nenhum novo passo foi dado. No local, nenhuma máquina, material ou trabalhadores apareceram. O governo paulista, agora sob gestão de João Doria (PSDB), não respondeu à reportagem da RBA.

“Eles passaram a justificar que não poderia reconstruir a escola, porque é uma área de manancial. Ora, se é assim não podia nem ter construído a escola para começar. Como pode fazer o Rodoanel e não pode fazer uma escola?”, questiona Maria. “O que eles não querem é gastar dinheiro com criança pobre, merenda, material”, ela mesma responde.