Escola sem partido

Para Bebel Noronha, desobediência civil seria resposta a pedagogia da mordaça

Nita Freire avalia projeto como uma 'política oficial do golpe'. 'Essa proposta busca desmontar a escola em seu princípio fundamental, que é formar criticamente', diz viúva do educador Paulo Freire

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Cena do documentário ‘Acabou a Paz – Isso Aqui Vai Virar o Chile’, também de Carlos Fronzato

São Paulo – A presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, defendeu hoje (26) que os docentes atuem em desobediência civil, caso um projeto baseado na proposta Escola sem Partido seja aprovado nacionalmente.

“A liberdade de cátedra e de expressão são sagradas. A desobediência civil é um caminho de resistência”, afirmou. Para setores que atuam na área da educação, o projeto é visto como uma espécie de “pedagogias da mordaça”, ao subordinar a troca de conhecimentos baseada em estudos científicos a valores morais e ao impedir o debate plural de ideias. A declaração foi dada durante o lançamento do documentário A Escola Toma Partido, do cineasta Carlos Fronzato.

O documentarista argentino radicado no Brasil já produziu também filme sobre o movimento dos estudantes que ocuparam 200 escolas e derrotaram a proposta de reorganização do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). O novo projeto ainda não tem data para ser comercializado, mas Apeoesp já solicitou cópias para todas as subsedes.

Segundo Fronzato, o objetivo do documentário foi “ouvir muitos especialistas e profissionais da educação para construir uma crítica firme ao Escola sem Partido”. O filme tem cerca de 50 minutos e conta com duas dezenas de entrevistas, inclusive da doutora em educação Nita Freire, viúva do educador Paulo Freire.

Convidada também para o lançamento, Nita avaliou que o projeto está se tornando uma “política oficial do golpe”, referindo-se ao governo do presidente interino Michel Temer (PMDB). “Essa proposta busca desmontar a escola em seu princípio fundamental, que é formar criticamente. E hoje já é muito pouco. O texto é um tratado fascista, que vai nos levar cem anos de volta ao passado”, afirmou.

Para a ex-presidenta da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), Ângela Meyer, o projeto é uma resposta às mobilizações estudantis que ocorrem desde o ano passado: “Eles querem uma escola sem crítica. Nem é tão novo, esse ano faz dez anos que foi implementado o sistema de apostilas em São Paulo, que esvaziou o ensino. Essa escola acrítica servirá bem aos golpistas”.