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Contra sucateamento do ensino técnico paulista, estudantes já ocupam 15 ETECs

Movimento que começou pelo desvio de merenda – alunos passam o dia na escola com barrinha de cereal e meia dúzia de bolachas – ampliou pauta de reivindicações; alunos querem infraestrutura que não tem

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Sinteps: ampliação da rede estadual, baseada em parcerias com prefeitos, inclui unidades como esta, no Guarujá, ‘sem nada dentro’

São Paulo – Desde a manhã de hoje (5), a Etec André Bogasian, em Osasco, na Grande São Paulo, é a 15ª escola técnica estadual ocupada por alunos que querem alimentação digna além de infraestrutura, equipamentos e materiais para estudar. As ocupações de Etecs começaram nesta terça-feira (3), em unidades da cidade de Pirituba, e dos bairros da capital Brasilândia, Jaraguá e Vila Leopoldina. Do total, 13 estão localizadas na capital paulista, e uma em Embu das Artes. Alunos de outras escolas, no interior, discutem a adesão ao movimento conforme relata o Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza (Sinteps).

Ocupada ontem, a Etec Professor Aprígio Gonzaga, na Penha, zona leste da capital, é equipada com cozinha e refeitório para os alunos. Mas o que falta ali são justamente as refeições. “Ficamos na escola das 7 da manhã até 16h40. Recebemos apenas uma barra de cereal e um pacotinho com bolachas tipo maizena, que não sustentam ninguém”, diz uma aluna. “Nunca teve merenda de verdade aqui. Mas é claro que nosso movimento é também contra os cortes no orçamento estadual, que prejudica ainda mais.”

A Etec São Paulo, uma das mais antigas do estado, também tem problemas.“Queremos investimentos reais e efetivos. Materiais técnicos para que os estudantes não precisem comprar. Especialmente os alunos que estudam eletrônica, eles gastam muito dinheiro com componentes para as aulas. Infraestrutura também, pois temos diversas goteiras nos prédios aqui”, conta uma de suas alunas.

Em vídeo, os alunos da Etec Mandaqui, zona norte da capital, relatam que ficam na escola mais de 8 horas sem ter o que comer e os equipamentos para aquecer as marmitas que levam de casa foram comprados com dinheiro de “vaquinha”. E “isso porque as Etecs são a menina dos olhos do Geraldo, mas ele nunca fez nada pela gente”.

Para a secretária-geral do Sinteps, Neusa Santana Alves, as ocupações escolares paralelas à ocupação da sede administrativa do Centro Paula Souza, na capital, há uma semana, e da Assembleia Legislativa, na última terça-feira, podem até sugerir fragmentação do movimento estudantil.  “No entanto, (as ocupações) seguem em frentes que convergem para o sucateamento do ensino técnico estadual paulista. Faltam professores, laboratórios, infraestrutura. Para se ter uma ideia, há uma Etec no Guarujá que é uma casa. Não tem nada”, afirma, com indignação.

Para a dirigente, há sinais de que outras escolas venham a ser ocupadas, inclusive no interior. Uma delas, segundo Neusa, pode ser a Etec Rubens de Faria, de Sorocaba, a primeira a ir às ruas em atos pela merenda, em março de 2015. “A reivindicação foi atendida pela prefeitura, e não pelo estado”, conta.

“Menina dos olhos do governador, ou as joias da coroa, como Alckmin já chegou a repetir em visitas, a rede estadual de ensino técnico profissionalizante foi ampliada devido a parcerias firmadas com os municípios, muitos dos quais constroem prédios e arcam com a maioria das despesas”, diz Neusa.

Em nota distribuída por sua assessoria de imprensa, o Centro Paula Souza informou que há um esforço para atender ao pleito dos alunos por merenda. E que desde segunda-feira (2), “100% das Etecs oferecem alimentação escolar. Toda a rede vem sendo reformada nos últimos anos para garantir esse direito dos estudantes, mas ainda existem unidades que requerem adaptação especial, como alguns edifícios tombados, e outras sem espaço para cozinha e refeitório. Encontra-se em estudo avançado a criação de espaços adequados para a alimentação estudantil em todas as unidades. Além disso, está sendo criada uma Comissão Intersetorial de Governança da Alimentação Escolar com o objetivo de discutir e implementar propostas de melhorias imediatas na distribuição e oferta de alimentação escolar”.

O comunicado informa ainda que o fornecimento de tíquetes ou vales-alimentação, como reivindicado, é inviável, já que há lei federal que dispõe sobre os parâmetros mínimos da alimentação escolar, além de não dispor, em seu orçamento, de previsão para essa finalidade. E reafirma “disposição permanente para o diálogo com os estudantes e por uma solução rápida e pacífica para essa situação que tem causado tantos prejuízos a seus estudantes, professores e funcionários”.

Vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, o  Centro Paula Souza mantém 219 Etecs e 66 Faculdades Tecnologia (Fatecs), onde estudam 285 mil alunos.

Colaborou: Gabriel Valery