em greve

Alunos ocupam prédio da diretoria na USP Leste contra contaminação e por democracia

Universidade aguarda liminar de reintegração de posse para o outro prédio ocupado, na Cidade Universitária, em protesto contra decisão de manter eleição indireta para escolha do reitor

Adriano Lima/Brazil Photo Press/Folhapress

A ocupação do prédio da reitoria simbolizou contrariedade com a decisão do conselho

São Paulo – Alunos de diversos cursos da USP Leste ocupam, desde ontem (2), o prédio da diretoria da faculdade. Estudantes, funcionários e professores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) estão em greve há três semanas e pedem esclarecimentos sobre a contaminação no solo do campus e transparência no diálogo com a diretoria.

Hoje (3), haveria uma reunião da comunidade com o reitor da USP, João Grandino Rodas e o vice-diretor da EACH, Edson Leite, para discutir a situação do campus, mas o encontro foi desmarcado sem explicações. “Essa reunião motivou a ocupação do prédio para pressionarmos o vice-diretor a conversar com a gente, e nos dar explicações. Ontem à noite nos mandaram e-mail cancelando a reunião”, afirma o aluno de gestão ambiental na USP Leste, Paulo Curi.

Rodas e o presidente da Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb), Otávio Okano, foram convocados a uma audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo, no dia 25, mas não compareceram. Uma nova data será marcada para discutir a questão.

O campus foi construído em Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo, em 2005. O solo do local já estava contaminado por metano. A greve da comunidade, iniciada no dia 11 de setembro, foi deliberada quando estudantes, funcionários e professores se depararam com parte da área da USP Leste interditada. Uma placa, com o logotipo da (Cetesb) e da Superintendência do Espaço Físico (SEF) da USP, determinava a interdição de áreas da EACH por conterem “contaminantes com risco à saúde”.

O diretor da escola, Jorge Boueri, está afastado do cargo desde o dia 20 de setembro por motivos de saúde. Em Congregação aberta, a comunidade votou para que ele renunciasse ao cargo. O vice-diretor, Edson Leite assumiu o comando e, até o momento, não estabeleceu diálogo com alunos, professores e funcionários.

Nós queremos conseguir falar com ele. O campus foi interditado porque depositaram terra irregularmente. Isso configura crime ambiental. Nós não podemos continuar em uma área que contém contaminantes que apresentam risco a nossa saúde”, argumenta o estudante.

Boueri é acusado pela comunidade de perseguição aos docentes e funcionários do campus. Só em 2012, o diretor abriu oito sindicâncias para analisar a atuação destas pessoas na universidade. Além disso, ele não havia informado a população sobre os riscos à saúde por estar diariamente em solo contaminado. O local ainda recebeu terras de origem desconhecida em 2011.

USP em greve

A greve da EACH faz parte do conjunto de manifestações que endossam a crise devido à falta de democracia na universidade. “A nossa luta também defende as diretas para reitor e diretores de unidade. Nós queremos esclarecimentos”, reforça Curi. Hoje os alunos da USP Leste farão nova assembleia para decidir a continuidade da ocupação.

No campus Butantã, os estudantes deliberaram greve geral e ocupam o prédio da reitoria desde terça-feira (1º), quando foi realizada uma reunião do Conselho Universitário para debater a possibilidade de mudança no método de escolha do reitor. A comunidade reivindica eleições diretas e transparência nos processos administrativos da USP.

Mas o conselho, formado majoritariamente por professores nos níveis mais altos da carreira, decidiu fazer uma pequena alteração, com consulta prévia à comunidade, formada por 120 mil pessoas, mas escolha concentrada na Assembleia Universitária, formada pelo Conselho Universitário, Conselhos Centrais, Congregações das Unidades e pelos Conselhos Deliberativos dos Museus e dos Institutos Especializados, o equivalente a 1,7% do total.

A administração da universidade entrou na tarde de ontem na Justiça com pedido de reintegração de posse do prédio.

Ontem (2), em assembleia, os cursos de Relações Internacionais, Pedagogia, História, Ciências Sociais, Letras, Geografia e a Escola de Comunicações e Artes (ECA) aderiram à greve. Hoje haverá nova assembleia geral dos estudantes às 18 horas, em frente à reitoria, para decidir os rumos do movimento por diretas. O Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) declarou apoio à atitude dos alunos.