Conjuntura

Para Eduardo Giannetti, país vive momento de ‘reversão de expectativas’

Para economista, baixo crescimento econômico, inflação com tendência de alta e déficit em conta corrente de 3,5% é um coquetel preocupante

Futura Press/Folhapress

Para economista, ventos pararam de soprar a favor e governo tem errado na gestão da economia

São Paulo – O economista Eduardo Giannetti da Fonseca disse hoje (13), em palestra realizada em São Paulo, que o Brasil vive um momento de “reversão de expectativas”. Segundo ele, a gestão da macroeconomia do país se deteriorou do segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e isso se reflete na combinação de três dados preocupantes: baixo crescimento econômico, pouco mais da metade da média do período de 2003 a 2010; inflação alta; e déficit em conta corrente de 3,5%. “O cenário não é catastrófico, mas é preocupante”, declarou.

Em palestra promovida pela Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) no Congresso Internacional do Varejo, em São Paulo, o economista afirmou que o único fator positivo no atual momento por que passa a economia é a baixa taxa de desemprego, sustentada principalmente pelo setor de serviços. Emprego em alta movimenta a economia como um todo e o varejo, em particular.

Conselheiro, desde 2010, de Marina Silva, vice na chapa do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato à presidência da República pelo PSB, que esteve no evento, Giannetti disse na palestra que alguns fatores externos importantes deixaram de influir positivamente na economia brasileira como aconteceu, principalmente, no primeiro mandato de Lula. Queda do preço das commodities e redução da liquidez nos mercados internacionais após a crise dos Estados Unidos são dois desses fatores. “Esse vento a favor parou de soprar”, ilustrou.

No entanto, se há um componente importado na atual conjuntura, por que as economias de nossos vizinhos Chile, Colômbia e Peru estão dando sinais de maior solidez do que o Brasil, ao menos na visão de segmentos do mercado? Segundo o economista, os motivos que impedem o país de atingir o chamado crescimento sustentável são tanto estruturais como conjunturais.

Fatores conjunturais e estruturais

Ele destaca como “estruturais” os oriundos da Constituição de 1988. “A carga tributária do país era de 24% do PIB em 1988, normal para um país de renda média. Mas, hoje, é de 36,5%. Como o Estado (União, estados e municípios somados) gasta 3,5% do PIB a mais do que arrecada, cerca de 40% do PIB transita pelo setor público, mas entrega em investimento apenas 2,5%.”

O aumento da carga tributária, segundo Giannetti, se deve às contribuições sociais que “o governo central descobriu” para arrecadar mais após a Constituição de 1988.

Entre os fatores conjunturais, de acordo com ele, está a piora da política econômica. A gestão do “tripé macroeconômico” (formado por câmbio flutuante, metas de superávit primário e de inflação), na visão de Giannetti, mantido no primeiro mandato de Lula, se deteriorou. “Com crescimento baixo, não deveria ter inflação preocupante”, exemplifica.

Segundo sua análise, ao contrário da agenda positiva do primeiro governo Lula, que promoveu medidas como reforma da lei de falências, bancos tendo maior garantia em caso de inadimplência, proporcionando aumento da concessão de crédito, o atual governo cometeu erros e neles persiste. “O governo reduziu os juros prematuramente achando que era uma panaceia e sinalizou que o centro da inflação era o teto. Como resultado, o mercado entendeu que o teto é o novo centro”, avalia.

Outro erro, disse Giannetti, tem sido a gestão seletiva da economia. Ao contrário de promover uma política “horizontalmente”, alcançando toda a economia, o governo premiou alguns segmentos, como o automobilístico, com desonerações e redução da folha, reduziu imposto de importação e mudou as regras do jogo “no caso a caso”. “Há um microgerenciamento. Teremos de passar para um reajustamento, semelhante ao promovido do primeiro para o segundo mandato de Fernando Henrique e na transição de FHC para Lula”, prevê.

De acordo com ele, o intervencionismo é um dos principais problemas da economia hoje, e o controle dos preços públicos, como o do petróleo, configura “um  retrocesso”, na opinião de Giannetti.