Movimento sindical enfrenta desafio de distribuir ganhos de produtividade entre os trabalhadores, diz Dieese

Estudo entregue a Lula e a Dilma mostra evolução do mercado de trabalho na atual década; na atual gestão, foram criados 12 milhões de empregos formais

São Paulo – Distribuir os ganhos de produtividade é, talvez, o próximo desafio que o movimento sindical deverá enfrentar durante o próximo governo, segundo análise do diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio. No sábado (10), durante evento no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a entidade entregou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à ex-ministra Dilma Rousseff, pré-candidata à Presidência da República pelo PT, um estudo sobre evolução do mercado de trabalho na década atual. Os dados são positivos, mas Clemente observa ainda há muitos problemas a serem resolvidos. E boa parte passa pelo desenvolvimento do ensino técnico.

“O desemprego ainda é muito alto e a informalidade é grande”, afirma o diretor. Mas a situação melhorou consideravelmente em relação à década anterior, observa. “Nos anos 90, de cada 10 empregos sete eram informais. Agora, o jogo inverteu.” O estoque de empregados formais passou de 26,2 milhões, em 2000, para 40,8 milhões em 2009, segundo estimativa do Dieese. Apenas no governo Lula o número de empregos com registro se aproximou de 12 milhões, enquanto a taxa de informalidade recuou de 47% para 42%.

Na mesma base de comparação, a taxa média de desemprego em seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo Dieese e pela Fundação Seade caiu de 18,7% para 14,2%. “Houve uma recuperação forte das ocupações, com destaque para a de carteira assinada”, diz Clemente. “Mas o rendimento ainda cresce muito abaixo da ocupação. O desafio é a distribuição da produtividade”, acrescenta.

Um dos fatores que levam a esse crescimento tímido do rendimento é a alta rotatividade no mercado. De quatro a cinco trabalhadores trocam de emprego em menos de um ano, no que o diretor do Dieese chama de “movimento perverso de admissões e demissões”. Segundo dados do Ministério do Trabalho, apenas em 2009 as contratações e desligamentos formais superaram 31 milhões.

Outra medida que Clemente considera imprescindível está associada ao ensino técnico. De acordo com informações do Ministério da Educação, em 2008 chegavam à educação profissional técnica de nível médio apenas 10,6% do total de estudantes em potencial. “Se a gente quer de fato uma estratégia de crescimento, assentada em ganhos de produtividade, a educação técnica é fundamental”, afirma.

Além disso, o diretor do Dieese chama a atenção para a importância de preservar a política de recuperação do salário mínimo. De 2002 a 2010, o aumento real chegou a 53,67%.