Microempresa abriu mais vagas no comércio em 2009/2010

Segundo estudo divulgado pelo Dieese, empresas com até quatro funcionários criaram 491 mil empregos formais de janeiro do ano passado a março deste ano

São Paulo – As empresas do comércio que mais criaram empregos no Brasil entre janeiro de 2009 e março deste ano foram as de menor porte, com até quatro funcionários, mostra estudo sobre o setor divulgado nesta terça-feira (25) pelo Dieese. Segundo o levantamento, as microempresas criaram 491.358 vagas (saldo entre admissões e demissões formais). Já as grandes varejistas, com 500 empregados ou mais, abriram apenas 9.595 postos de trabalho. Considerando todo o setor, foram abertos 371.196 empregos com carteira assinada no comércio, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.

Em movimento opostos, afirma o Dieese, empresas que tinham de cinco a 49 empregados fecharam vagas no mesmo período, demitindo mais do que contratando. Assim, houve redução de 139.072 postos de trabalho.

Entre os segmentos que mais contrataram, estão os de hipermercados e supermercados (50.909), varejista de ferragens, madeira e materiais de construção (36.316) e varejo e por atacado de veículos automotores (22.151).

Já com base na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), feita em parceria com a Fundação Seade, entre 2008 e 2009 o número de ocupados cresceu no Distrito Federal (3 mil) e nas regiões metropolitanas de Porto Alegre (6 mil), Recife (6 mil) e Salvador (13 mil). O número de ocupados caiu nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte (-19 mil) e São Paulo (-46 mil).

Segundo o Dieese, a extensa jornada de trabalho continua sendo um dos principais problemas do setor. “Em 2009, o comércio registrou a maior jornada média semanal praticada em quase todas as regiões metropolitanas pesquisadas, em comparação com os demais setores de atividade”, afirma o instituto. “Apenas na construção civil, na região de Salvador, as jornadas médias se igualaram. A maior jornada média foi registrada em Recife, 49 horas, e a menor, em Salvador e Belo Horizonte, de 44 horas semanais.” Mais da metade dos ocupados no comércio superou a jornada legal, chegando a 64,5% em Recife.

Por outro lado, os ocupados no setor receberam os menores rendimentos médios, à frente apenas dos trabalhadores de serviços domésticos. A menor remuneração média foi registrada em Recife (R$ 625) e a maior, no Distrito Federal (R$ 1.078). Ainda assim, o rendimento médio cresceu em todas as regiões no ano passando, de 0,5% (Recife) e 4,3% (Belo Horizonte).

“Apesar do difícil ano de 2009, em razão dos impactos provocados pela crise internacional, o comércio apresentou índices confortáveis de desempenho, diferentemente de outros setores da economia brasileira. Embalado pelo dinamismo do mercado interno, por meio da recuperação do emprego e da expansão da massa salarial, o setor vendeu 5,9% a mais do que em 2008 e a receita com vendas cresceu 10%”, diz o Dieese, citando números do IBGE. Aliás, foi justamente a contribuição do consumo das famílias, com crescimento de 4,1%, que evitou uma retração maior da economia brasileira em 2009.”

Ainda de acordo com o instituto, os principais fatores de sustentação do setor nos últimos anos foram “condições favoráveis de crédito ao consumo, melhoria do rendimento real e do emprego, bem como estabilidade dos preços”. O Dieese também destaca “o aumento do consumo da população das faixas de renda mais baixas, em boa parte impulsionado pelos programas de transferência de renda (como por exemplo, o bolsa família) e pelos aumentos reais do salário mínimo”.

Mas o Dieese lembra que “esses bons resultados não refletiram em melhorias significativas nas condições de trabalho da categoria”: o comércio mostra as maiores jornadas e os menores rendimentos praticados entre os setores de atividade.

“Para 2010, o cenário é de resultados ainda melhores. A estimativa de criação de dois milhões de novos postos de trabalho, a expansão da massa salarial e ampliação do volume de crédito no país para 53% do Produto Interno Bruto (PIB) são alguns fatores que devem contribuir fortemente para o aumento do consumo”, afirma o instituto. Os resultados das vendas do primeiro trimestre de 2010 já refletem esse cenário positivo. De janeiro a março de 2010, a alta no volume de vendas alcançou 12,78% e a receita nominal cresceu 15,64%. Aspectos conjunturais do setor também indicam expansão dessa atividade em 2010,como, por exemplo, os anúncios de megainvestimentos por parte das grandes redes varejistas e a abertura de mais 40 novos shopping centers em todo o país entre 2010 e 2011.”