Lula sobe, diesel cai

FUP: esforço de Bolsonaro para anunciar redução de R$ 0,30 no diesel é ‘desespero’

Governo cumpre “obrigação” de reduzir preço dos combustíveis conforme cai o dólar, mas anuncia como proeza. E ainda dá vexame internacional

Reprodução/Twitter
Reprodução/Twitter
Sem abandonar o PPI, Bolsonaro pode segurar preços dos combustíveis até o fim do segundo turno

São Paulo – A Petrobras fez novo esforço de comunicação junto às redações de jornais e mídia em geral nesta segunda-feira (19) para anunciar que o litro do diesel nas refinarias será reduzido em R$ 0,30 a partir de amanhã. Assim, o valor médio do litro do combustível passa de R$ 5,19 atuais para R$ 4,89. É a terceira queda no preço do diesel que o governo “comemora” em pouco mais de um mês. Ainda assim, durante o mandato de Jair Bolsonaro, a alta acumulada é de 164,3%. Em 31 de dezembro de 2018, às vésperas da posse do atual presidente, o litro do diesel combustível nas refinarias custava R$ 1,85.

Essas reduções acompanham a variação negativa do preço do petróleo no mercado internacional nos últimos meses. Em 15 de julho, o petróleo tipo brent (referência internacional) estava cotado US$ 101,16. Hoje era vendido a cerca de USS$ 91,78 o barril, redução de 9,27 em pouco mais de dois meses. Naquele momento, o dólar era cotado a R$ 5,42, enquanto nesta segunda estava cotado em torno de R$ 5,16.

Portanto, se lá fora o principal indicador para os preços dos combustíveis no Brasil caem, obrigatoriamente a Petrobras tem de reduzir o custo para o mercado interno, sob pena de incorrer no mínimo em conduta irregular. 

Por essa razão, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) aponta ligação entre a intensa publicidade dada a mais uma redução do valor do diesel ao calendário eleitoral no Brasil.

“A poucos dias das eleições, aumenta o desespero de Bolsonaro de ter que divulgar uma notícia eleitoreira a cada semana”, afirma Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP.

De acordo com a última pesquisa Datafolha divulgada na semana passada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT, da coligação Brasil da Esperança) aparece estável, com 45% das intenções de voto e chances de vencer no primeiro turno. O presidente Jair Bolsonaro (PL) oscilou um ponto para baixo, em relação ao levantamento anterior, e aparece com 33%.

Vexame Internacional

Em mais uma demonstração explícita de que o preço da gasolina no Brasil incomoda grande parte do eleitorado, em Londres, para onde Bolsonaro viajou a pretexto de representar o país no funeral da rainha Elizabeth II, o presidente gravou um vídeo neste domingo (18) comparando o preço da gasolina por lá e no Brasil.

Em frente a um posto, o presidente afirma que o preço da gasolina na capital inglesa – 1,61 libra (equivalente a R$ 9,70) – é “praticamente o dobro da média de muitos estados do Brasil”. Bolsonaro disse, ainda, que a gasolina brasileira é “uma das mais baratas do mundo”.

Levantamento da BBC Brasil, no entanto, revela que Bolsonaro desconsiderou a diferença de renda entre brasileiros e britânicos ao fazer a comparação. Como o salário mínimo no Reino Unido é de 9,50 libras por hora, “um cidadão britânico recebendo salário mínimo teria de trabalhar o equivalente a 10 minutos para comprar um litro de gasolina”, conforme a reportagem.

Por outro lado, um cidadão brasileiro que ganha um salário mínimo – R$ 1.212 por mês, ou R$ 5,51 por hora– teria de trabalhar “o equivalente a 54 minutos, ou seja, quase seis vezes mais do que o um trabalhador na Inglaterra para pagar pelo mesmo litro do combustível”. E isso sem entrar no mérito da qualidade da gasolina vendida ao consumidor na terra do rei.

Além disso, de acordo com a pesquisa da Global Petrol Prices, que analisa os preços dos combustíveis em 168 países, o Brasil ocupa a 34ª posição no ranking de preços de gasolina ao público interno. Entre os vizinhos da América do Sul, Venezuela, Bolívia, Colômbia e Equador oferecem o combustível a preços mais baixos do que o Brasil. Rússia, Azerbaijão, Malásia e Nigéria são outros países que aparecem à frente do Brasil na mesma lista. Com periodicidade semanal, o levantamento mais recente foi publicado na segunda-feira passada (12).

No início de setembro, a Petrobras anunciou a última redução no preço da gasolina. Seu valor nas refinarias passou de R$ 3,53 para R$ 3,28 por litro. Mesmo assim, após quatro quedas consecutivas, o combustível automotivo mais vendido do país acumula alta de 118,6% durante o governo Bolsonaro.

PPI

Tanto a escalada anterior quanto as recentes quedas nos preços da gasolina e do diesel são resultado da política de Preço de Paridade Internacional (PPI), que a Petrobras vem aplicando desde 2016. Assim, a companhia repassa as variações do petróleo no mercado internacional – com cotação em dólar – diretamente ao consumidor brasileiro. Além disso, o PPI também considera custos de logística para importação que são inexistentes.

Os principais beneficiários do PPI são os investidores privados da estatal e empresas que atuam com a importação de combustíveis. Somente no último trimestre, por exemplo, a Petrobras pagou R$ 87,8 bilhões em dividendos aos acionistas. O montante supera inclusive o lucro líquido que a estatal registrou no período, que foi de R$ 54,3 bilhões. A maior parte – R$ 35,5 bi – foi parar nas mãos de acionistas estrangeiros. Outros R$ 32,5 bilhões ficam para o governo brasileiro, e R$ 20,7 bilhões, para os acionistas privados nacionais.

Por outro lado, a queda ainda maior do preço da gasolina nos postos se deu principalmente em função da aplicação do teto do ICMS, que acarretou perdas de arrecadação a estados e municípios. Os lucros dos acionistas, no entanto, permanecem intactos.