Seade-Dieese

Desemprego maior em fevereiro retrata economia mais fraca, mas não preocupa

Desde 2009, no início da série histórica, taxa sobe nos primeiros meses do ano. Já a variação anual da ocupação cresce há dez meses seguidos. Indústria ainda preocupa

USP Imagens

Só a indústria não criou postos de trabalho em relação a fevereiro de 2013, eliminando 75 mil empregos (-2,6%)

São Paulo – A alta do desemprego em fevereiro, conforme apontou a pesquisa Dieese-Fundação Seade, não é vista com preocupação, ainda que o mercado de trabalho mostre menos dinamismo. As entidades lembram que esse é o movimento típico do início do ano, com menor número de vagas disponíveis. Desde 2009, quando se inicia a série histórica para as seis regiões metropolitanas pesquisadas, a taxa de desemprego sobe de janeiro para fevereiro. Os 10,3% do mês passado não representam nem o menor (9,9% em 2012) nem o maior (13,6% em 2009) para fevereiro.

O único fato novo foi o crescimento da população economicamente ativa (PEA), que não costuma ocorrer neste período, observa o coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian. Na região metropolitana de São Paulo, que responde por aproximadamente metade dos dados gerais, a PEA cresceu 0,3% no mês, com 55 mil pessoas a mais, e 0,8% sobre fevereiro do ano passado (acréscimo de 173 mil). Isso só aconteceu de forma significativa em 2010, quando de janeiro para fevereiro houve quase 100 mil a mais na PEA. “As pessoas foram para o mercado de trabalho porque a expectativa de conseguir emprego era muito forte”, diz Loloian.

Não é o que ocorre agora. Normalmente, o mercado começa a aquecer de abril em diante. As seis regiões metropolitanas incluídas na pesquisa (Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo) têm 119 mil ocupados a menos em relação a janeiro e 140 mil a mais na comparação com fevereiro de 2013. O crescimento anual da ocupação em fevereiro foi exatamente igual ao de igual mês do ano passado (0,8%). A variação anual da ocupação é positiva há dez meses seguidos – e há seis em São Paulo.

Praticamente todos o setores fecharam vagas em fevereiro: indústria de transformação (-21 mil, queda de 0,7%), construção (-17 mil, redução de 1,1%) e serviços (-96 mil, retração de 0,9%). O setor de comércio e reparação de veículos ficou estável (0,1%, 4 mil a mais). E só a indústria não criou postos de trabalho em relação a fevereiro de 2013, eliminando 75 mil empregos (-2,6%). Nos serviços, a ocupação aumentou 1,4%, com 139 mil vagas criadas. A construção abriu 37 mil (2,5%) e o comércio, 35 mil (1%).

A indústria segue sendo um motivo de preocupação. Em São Paulo, por exemplo, fechou 80 mil vagas apenas no primeiro bimestre, queda de 4,7%. “Mas não foi na metal-mecânica”, diz Loloian, citando o segmento que inclui montadoras, autopeças e linha branca, entre outras atividades e que mostra certa estabilidade: 642 mil ocupados em fevereiro de 2012, 633 mil em 2013 e 641 mil este ano. Os cortes se concentraram em atividades como calçados, têxtil e gráfica.

O mercado continua em tendência de formalização. Em relação a fevereiro de 2013, o emprego com carteira assinada cresce 2,1%, o correspondente a 206 mil vagas a mais. Na mesma base de comparação, o emprego sem carteira cai 2% (32 mil a menos).