Juros abusivos

Deputado acerta ao pedir afastamento de Campos Neto, diz economista. ‘Não cumpre função’

“Ele está aprofundando o desemprego”, destaca Juliane Furno ao comentar denúncia apresentada por Lindbergh Farias (PT-RJ) ao Conselho Monetário Nacional contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto

Raphael Ribeiro/BCB
Raphael Ribeiro/BCB
Pela sétima vez seguida, a quarta no atual governo, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve nesta semana a maior taxa de juros do mundo

São Paulo – O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) protocolou no Conselho Monetário Nacional (CMN), na tarde desta quinta-feira (22), uma denúncia contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. De acordo com o parlamentar, o CMN deveria pedir ao Senado a exoneração do dirigente. O pedido de afastamento leva em conta a manutenção da taxa de juros em 13,75%. Pela sétima vez seguida, a quarta no atual governo, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve nesta semana a maior taxa de juros real do mundo.

A decisão de Campos Neto é vista como uma forma de “sabotagem dos objetivos do BC de crescimento econômico e fomento ao pleno emprego”, afirmou Lindbergh Farias. “O Banco Central exige paciência, mas o Brasil não pode esperar. As empresas que estão quebrando não podem esperar, as famílias endividadas não podem esperar, diversos setores da economia em retração não podem esperar”, destacou o deputado.

O pedido de afastamento foi corroborado por especialistas da área, entre eles, a economista Juliane Furno, doutora em Desenvolvimento Econômico. Em entrevista à edição do ICL Notícias desta sexta (23), transmitido pela TVT e Rádio Brasil Atual, ela classificou a decisão como “acertada”, ao trazer uma possibilidade de ação.

‘Campos Neto age de forma política’

Até o momento, apesar das críticas, Juliane avalia que o governo federal está em uma posição de “defensiva política”. Durante uma coletiva de imprensa na Itália, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu o tom contra o presidente do BC. Lula chamou de “irracional o que está acontecendo no Brasil, você ter uma taxa de 13,75% com uma inflação de 5%”. E lembrou que é “a sociedade brasileira” quem está brigando com Campos Neto. Em referência aos pedidos da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), varejistas, pequenos e médios produtores, centrais sindicais e movimentos populares para que a instituição baixe os juros.

A crítica, contudo, embora importante para arregimentar outros setores e agentes e criar na sociedade um debate para “desgastar essa ideia que já não tem nem sustentação na base econômica liberal”, segundo a economista, não pode deixar o governo “passivo”.

“Já ficou claro que o Campos Neto e o Banco Central agem de forma política. E a presidência da República e o governo precisam também partir para o campo da ação. Que seja também o questionamento do Campos Neto em função do não-objetivo das metas de inflação. Ou de algum tipo de manejo da própria meta de inflação, sabendo que ela é bastante baixa no Brasil comparada a outros países. E que a inflação nem sempre prejudica mais os mais pobres. Portanto, é possível abrir um debate em relação a isso”, sugere.

Juros em alta, Brasil em risco

Nesse sentido, o pedido de afastamento de Campos Neto também ganha peso. De acordo com Juliane, o presidente “não está cumprindo com a função social do Banco Central”, que não é unicamente a de estabilizador da moeda. Ela lembra que o BC também precisa garantir o que é chamado de pleno emprego.

Mas, “ao manter a taxa de juros em 13,75% em um período ainda de baixo crescimento econômico, de elevado subemprego, de tração das principais atividades econômicas, ele contribui não só para não gerar o pleno emprego, mas para aprofundar o desemprego. Então, o Banco Central não está cumprindo a sua função. Ele precisa calibrar a taxa de juros para que contribua na estabilidade de preços. Mas que seja um instrumento de desenvolvimento, de progresso, de geração de renda e emprego. E por isso acho sim importante ações que pelo menos o questionem e o responsabilizem por essa ação que tem impacto brutal na sociedade”, ressaltou a economista.

Ela conclui que, a despeito de conter a inflação, Campos Neto está “aprofundando a desigualdade e o desemprego na medida que restringe o desenvolvimento”. Ainda nesta semana, em carta enviada ao dirigente do BC, um grupo de 51 integrantes do Conselhão, o Conselho de Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável (CDESS), alertou que, sem uma redução dos juros, “o Brasil não poderá voltar a crescer”. O texto foi subscrito por empresários, como Luiza Trajano e o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes.

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima