Menos juros, mais empregos

Contra juros altos, movimentos convocam dia nacional de protesto nesta terça

Trabalhadores e movimentos sociais realizam protesto em frente ao BC e nas redes sociais contra Campos Neto e sua política monetária

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Campos Neto é visto como uma espécie de "infiltrado" do governo anterior, e estaria sabotando os esforços do governo Lula para reativar a economia

São Paulo – Sindicatos e movimentos sociais promovem nesta terça-feira (14) um “Dia Nacional de Luta Contra os Juros Altos no Brasil”. Com o mote “Menos juros e mais empregos. Não à autonomia do BC”, o protesto mira a atual política monetária levada a cabo pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Os movimentos alegam que a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano é um obstáculo para o crescimento da economia e a criação de empregos, e só beneficia o setor financeiro.

Os protestos também ecoam, nas ruas, as críticas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem fazendo contra Campos Neto. Na semana passada, Lula classificou atual taxa de juros como uma “vergonha“. Posteriormente, destacou que o Brasil não tem “inflação de demanda”. E disse que o crédito caro impede a volta do crescimento no país.

A mobilização contra os juros altos no Brasil é uma iniciativa da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), que foi abraçada pelos sindicatos dos bancários de São Paulo e do Rio de Janeiro. Centrais sindicais como a CUT, CTB, CSP, CSB e movimentos sociais que compõem as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular também participam.

Os protestos vão ocorrer em frente à sede do Banco Central, em Brasília, e também de suas representações em São Paulo – na Avenida Paulista – e Rio de Janeiro – na Avenida Presidente Vargas, a partir das 11h.

“O BC deve servir aos interesses do povo, à criação e manutenção de emprego. Mas, o que temos observado, é que o Banco Central não tem autonomia em relação ao mercado financeiro, quando pratica juros básicos tão altos. Então, defendemos, sim, um BC com autonomia e que, de verdade, colabore, em suas decisões, para o desenvolvimento do país”, afirma a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira.

Maiores taxas do mundo

De março de 2021 a agosto de 2022, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa básica de juros 11 vezes seguidas. Assim, a Selic saltou de 2% para 13,75% ao ano. A justificativa é que o arrocho monetário serviria para conter a alta da inflação. Mas os aumentos dos preços não ocorreram em função do aumento da demanda.

A alta dos preços dos alimentos, por exemplo, foi sentida em todo o mundo, em função dos choques de oferta causados primeiramente pela pandemia de covid-19 e, depois, pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Além disso, no Brasil, a escalada dos preços dos produtos também teve relação com a alta dos combustíveis. Esta, por sua vez, se explica pela adoção da política de Preço de Paridade de Importação, que a Petrobras passou a adotar desde 2016.

Assim, apesar da alta dos juros, o BC viu a inflação estourar a meta nos dois últimos anos. Hoje o Brasil tem a maior taxa de juros real do mundo (descontada a inflação), maior até que países como a Rússia e Turquia, que enfrentam descontrole inflacionário ainda maiores.

No último sábado (11), divulgaram manifesto que pede “razoabilidade” das taxas de juros no país. Sem essa condição, na opinião deles, os investimentos necessários ao país não prevalecerão ante as aplicações financeiras. Do mesmo modo, “as remunerações do trabalho e da produção” perderão para a especulação, asseguram. Luiz Gonzaga Belluzzo, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Monica de Bolle, Luciano Coutinho, Nelson Marconi, Leda Paulani, Antonio Corrêa de Lacerda, Clélio Campolina, Paulo Nogueira Batista Jr. e Lena Lavinas estão entre os signatários.

Reação

“Só para se ter ideia, nos EUA, houve forte reação da sociedade quando o Fed (Federal Reserve) – o Banco Central de lá – elevou a taxa básica para 4,5% ao ano, no ano passado. A sociedade e o país não podem pagar tão caro para continuar bancando lucros exorbitantes para que banqueiros e especuladores ganhem mais dinheiro sem gerar emprego e agravem ainda mais a crise do país”, disse o presidente do Sindicato dos Bancários do Rio, José Ferreira.

Do mesmo modo, a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, criticou a suposta “autonomia” do BC. “O que o mercado financeiro sempre quis foi a autonomia total do Banco Central para ampliar ainda mais seus poderes a fim de estabelecer suas próprias regras e mandatos. Ou seja, institucionalizar um outro poder, paralelo e permanente no centro de decisões estratégicas do país, sem passar pelo voto popular”, afirmou.

Ao mesmo tempo, os movimentos pedem o apoio da população nas redes sociais. Durante as manifestações de rua, os sindicatos também promovem um tuitaço com a hashtag #JurosBaixoJá. Além disso, as organizações preparam nova manifestação contra os juros altos no mês que vem.