"Efeito Vale"

Com ‘retomada’ e apoio do setor ao governo, indústria sofre queda em 2019

Segundo o IBGE, resultado foi influenciado pelo que aconteceu em Brumadinho, mas outros fatores contribuíram, como desemprego e importações

Isac Nóbrega/PR
Isac Nóbrega/PR
Catástrofe que acabou com tantas vidas também contribuiu para a indústria brasileira cair

São Paulo – A produção industrial brasileira caiu 1,1% de 2018 para 2019, interrompendo uma sequência de dois anos positivos e também o discurso de “retomada” da economia. Destaque para o setor extrativo, que caiu 9,7%, com pressão do item minérios de ferro, com um provável “efeito Vale”, devido à tragédia de Brumadinho (MG). Mas outros segmentos também registraram queda significativa, como metalurgia (-2,9%) e celulose/papel (-3,9%).

Segundo o IBGE, que divulgou os resultados nesta terça-feira (4), a indústria teve resultados negativos em duas das quatro categorias pesquisadas, em 16 dos 26 ramos, em 40 dos 79 grupos e 54,2% dos 805 produtos. Outros segmentos com resultado negativo em 2019 foram manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-9,1%), outros equipamentos de transporte (-9,0%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-3,7%), produtos de madeira (-5,5%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-3,7%) e produtos de borracha e de material plástico (-1,5%).

Segundo o gerente de Indústria do instituto, André Macedo, a área extrativa foi a principal responsável pelo resultado, mas outros fatores também contribuíram. “Pode ter a ver com o contingente de pessoas fora do mercado de trabalho, crise na Argentina, mais entrada de importados”, listou. Apesar do desempenho ruim, entidades da indústria dão apoio ao atual governo. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) apoia as “reformas”, e ontem o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, recebeu Jair Bolsonaro e foi chamado de “porta-voz” do setor.

Entre as atividades com produção em alta, o IBGE destaca produtos alimentícios (1,6%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (2,1%). Outros setores com crescimento foram coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,7%), produtos de metal (5,1%) e bebidas (4%).

De novembro para dezembro, a produção industrial caiu 0,7%. Na comparação com dezembro de 2018, a atividade tem recuo de 1,2%. Ainda na comparação anual, a atividade caiu em duas das quatro categorias, em 14 dos 26 ramos, 36 dos 79 grupos e 49,4% dos 805 produtos. O setor extrativo caiu 12,2%.