Bancários reagem a boatos de venda do Santander e criticam sistema concentrado

Sindicato de São Paulo e confederação nacional da categoria afirmam, em nota, que eventual venda da fatia brasileira do banco espanhol pioraria mercado onde já falta concorrência

São Paulo – Duas das maiores entidades sindicais do ramo financeiro no país levarão ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – órgão vinculado ao Ministério da Justiça – a preocupação da categoria com uma possível venda do banco Santander no Brasil.

Em documento assinado por presidentes da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro, e do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira, as entidades alertam que os processos de privatizações, fusões e aquisições ocorridos desde o final dos anos 1990 agravaram o caráter oligopolizado do sistema financeiro, reduzindo empregos no setor e, ainda, a capacidade dos clientes de encontrar uma concorrência por melhores preços e serviços.

Os sindicalistas reagem a rumores de que, em razão de a crise na Espanha estar afetando o desempenho global do Santander, o comando do grupo estaria negociando parte do controle das operações da instituição no Brasil. Banco do Brasil e Bradesco já foram apontados, e negaram, como supostos interessados.

Leia a seguir íntegra do documento:

Após matérias veiculadas na imprensa sobre a possível compra do Banco Santander Brasil por outra instituição financeira nacional o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) vêm a público declarar que a possível venda seria prejudicial à sociedade brasileira por elevar ainda mais a concentração do mercado bancário.

A prática de mercado nos mostra que quanto mais concentrado um setor maior sua capacidade de determinação de preços abusivos. O preço cobrado pelos bancos do consumidor é o juro, portanto qualquer processo que intensifique a concentração no setor certamente estaria na contramão das recentes medidas do governo brasileiro de redução das taxas de juros praticadas no país, condição fundamental para a continuidade do processo de desenvolvimento econômico.

É importante ressaltar que a questão de fusões e aquisições de empresas financeiras vem se acentuando nas duas últimas décadas. No ano de 1999, por exemplo, segundo os dados do Banco Central, os seis maiores bancos (BB, CEF, Bradesco, Itaú, Unibanco e Banespa) concentravam 59% do Ativo Total do Sistema Bancário Brasileiro. Já em 2011, os seis maiores bancos (BB, Itaú-Unibanco, Bradesco, CEF, Santander e HSBC) passaram a concentrar 81% do Ativo Total do Sistema Bancário Brasileiro. Com relação às operações de crédito observa-se a mesma tendência: enquanto em 1999 os seis maiores bancos possuíam pouco mais de 60% do total de operações de crédito do setor, em 2011 essa participação chega a 83%. Tais números são suficientes para caracterizar o setor bancário brasileiro como um oligopólio.

Em 2008, por exemplo, na ocasião da fusão entre Itau e Unibanco, o impacto direto foi o fechamento de 6.818 postos de trabalho no ano seguinte. Em 2007, com a compra do Banco Real pelo Santander o impacto direto foi de 2.969 postos de trabalho ao final de 2008.

A crise financeira internacional não deve ser pretexto para incentivar concentrações setoriais que prejudiquem os consumidores, empresas e trabalhadores. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não pode permitir um processo de fusão/aquisição que gere tamanhos danos para a sociedade brasileira, principalmente no momento em que existe enorme necessidade de que o setor financeiro contribua definitivamente para o desenvolvimento econômico com distribuição de renda e justiça social.