Incerteza

Alta do investimento sinaliza PIB sustentado, com inflação e Copom no meio do caminho

Economistas alertaram ainda para o risco que uma elevação da taxa Selic pelo BC pode representar para a ainda frágil retomada do crescimento

Antônio Cruz/ABr

O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, destacou a trajetória positiva do PIB

São Paulo – Na contramão do mercado, analistas ouvidos pela RBA consideraram positiva a elevação de 1,9% do PIB brasileiro no primeiro trimestre em comparação a igual período de 2012, divulgada hoje (29) pelo IBGE. O principal ponto destacado foi a retomada dos investimentos, demonstrada pelo crescimento de 4,6% na formação de capital bruto entre o último trimestre do ano passado e o primeiro deste ano. Os economistas alertaram ainda para o risco que uma elevação da taxa Selic pelo Banco Central (BC) pode representar para a ainda frágil retomada do crescimento.

A alta do PIB sobre o último trimestre do ano passado foi de 0,6%, abaixo das expectativas do mercado. Em 12 meses, houve expansão de 1,2%, segundo os resultados apurados pelo IBGE. A preços de mercado, o PIB somou R$ 1,11 trilhão.

“Eu diria que o importante é que cresceu, de forma menos intensa do que os otimistas tinham em vista, mas de forma sustentada”, disse o economista Jorge Mattoso, que destaca a curva ascendente dos dados recentes, sempre na comparação do trimestre com igual período anterior: 0,6% no segundo trimestre de 2012, 0,7% no terceiro, 0,9% no quarto e 1,9% no primeiro trimestre deste ano.

Em coletiva nesta manhã, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, também destacou a trajetória positiva do PIB, ressaltando que a elevação de 0,6% em relação ao quarto trimestre de 2012 foi superior ao comportamento do ano passado. “No primeiro trimestre do ano passado, tivemos um crescimento menor, de 0,1% em relação ao trimestre anterior. Este ano começamos com 0,6%, o que aponta que a economia está em ritmo de crescimento de 2,2%”, afirmou o ministro.

Ao mesmo tempo, ele admitiu que deverá reduzir a projeção de crescimento para o ano, hoje de 3,5%. “Temos melhora sobretudo dos investimentos. O forte crescimento deles puxou a economia, deixando para trás o consumo, que cresceu menos. E um crescimento de qualidade na economia brasileira demonstra que os estímulos que temos dado para os investimentos desde 2011 estão surtindo efeito.”

O presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, ressaltou a força do mercado interno, que continua sendo importante para sustentar a economia. “A ênfase no mercado interno é o diferencial do Brasil”, disse. “O indicador confirma que deveremos ter um crescimento mais vigoroso (que em 2012), mas talvez não como seria necessário.”

Pochmann considerou “alvissareiro” o dado sobre investimentos, que, segundo ele, seria o elemento mais consistente. “Uma recuperação lenta, claro, mas que vai dar sustentação para além do consumo das famílias”, observa. Nesse sentido, o crescimento das importações tem um lado positivo, ao indicar investimentos em bens de capital. “Por outro lado, nos dificulta no setor externo.”

Para Mattoso, o aumento dos investimentos permitirá uma discussão mais profunda sobre a indústria, que considera um grande nó da economia brasileira. “Isso é grave e levanta o que nós queremos do Brasil. Não pode ter como base exclusivamente a produção de commodities. Não é ruim, mas não podemos achar que só com isso garantimos o longo prazo do país.”

Os dois também concordam com o risco representado por uma possível elevação da taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC que termina hoje. “Uma elevação de juros pode afetar negativamente as expectativas de quem quer investir. Taxa alta não combina com investimento”, avalia Pochmann, que considerou correta a elevação de 0,25% determinada pelo BC na última reunião para “mediação das expectativas”.

Mattoso concorda que subir a taxa básica prejudica investimentos e consumo. Ele afirma que não é a política monetária que está fazendo a inflação recuar, mas as medidas do governo, somadas a uma safra maior, que ajuda a reduzir os preços dos alimentos. O impacto dessas medidas poderá ser melhor avaliado na próxima sexta-feira, com a divulgação pelo IBGE do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Questionado sobre a influência do PIB na reunião do Copom, o ministro não quis comentar. “Eu não comento a decisão pontual sobre a taxa de juros. Mas a política monetária evoluiu muito no Brasil nos últimos anos e é favorável a investimentos e à atividade econômica”, disse Mantega.

Segundo o ministro, a elevação do câmbio, que atingiu seu maior patamar no ano com o dólar a R$ 2,07, não é um fator a ser considerado no controle da inflação. “Quando o FED (Federal Reserve, banco central americano) sinalizou que pode elevar a taxa de juros, as moedas de todo o mundo se adaptaram. É uma flutuação normal do câmbio, sem interferência do governo. Não usamos o câmbio como instrumento de política monetária”, disse o ministro, que lembrou do efeito positivo da desvalorização do real para as exportações.

O governo Dilma recebeu a taxa básica de juros em 10,75% ao ano e promoveu quatro altas seguidas, até 12,5%. Seguiram-se dez quedas, até 7,25%, menor nível histórico da Selic, que se manteve em três reuniões. Na mais recente, em abril, o Copom aumentou a taxa para 7,5%.

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